Hannah tem apenas 8 anos e, com essa idade, precisa lidar em morar numa cidade que está sendo destruída num massacre que ela não faz a mínima ideia do porquê. Para suportar essa realidade, ela imagina uma Gaza que o seu avô contava e, com giz de cera e um caderno, a garota desenha o que seria uma vida ideal. Tudo o que ela queria era mostrar esses desenhos aos seus parentes numa realidade em que a morte está muito próxima a qualquer um. A Editora Mistifório publicou essa obra em setembro de 2025.
Nós estamos acompanhando o maior desastre humanitário do Século XXI. Após um ataque terrorista, 1200 israelenses morreram. O que se seguiu a isso foi uma série de medidas que atingiram inocentes em gaza, calcula-se que 48 mil pessoas morreram e que 70% delas são mulheres e crianças. Além disso, praticamente toda a cidade já está destruída e praticamente ninguém tem como trabalhar ou produzir alimentos, ficando completamente dependente de Israel para comer ou beber. A crueldade é tamanha que está proibida a chegada de ajuda humanitária e em vários momentos ocorreram de soldados israelenses metralharem aqueles que correram para pegar comida. O que está ocorrendo não é uma guerra, já que um dos lados conta com armamento sofisticados e o outro lado não conta com nada. O que está ocorrendo é um massacre. O mais triste é saber que os habitantes de Gaza há décadas vivem em condições degradantes com Israel agindo com terror através da ocupação militar do território palestino e impondo assassinatos e o controle da produção. Uma das obras que detalha essa terrível situação é Notas sobre Gaza de Joe Sacco. É bem verdade que nada justifica o assassinato de pessoas inocentes, porém submeter uma população inteira a situação degradante por décadas leva a uma inevitável revolta de parte de seus habitantes que fatalmente vai se identificar com atitudes extremas.
Esse quadrinho não tem a intenção de explicar detalhes sobre essa complexa relação entre judeus e palestinos. A ideia é mostrar a visão de uma pessoa que não tem nada a ver com tudo isso mas precisa conviver com as consequências desse conflito. Hannah possui o mesmo nome da neta da minha esposa e isso acabou me tocando de maneira particular. Na verdade, o que os palestinos estão vivendo é tão absurdo que qualquer ser humano deveria estar conectado e revoltado com toda a situação. Isso não tem relação com a proximidade religiosa que a pessoa pratica e muito menos se uma pessoa é de esquerda ou direita. O holocausto mostrou que o extermínio em massa de um povo é algo abominável e o horror em si apaga qualquer aspecto positivo que possa vir daquilo. Esse fato histórico era pra ter sido o suficiente para que a humanidade criasse mecanismos que impedissem que algo similar voltasse a ocorrer mas o que a gente constata é que mais uma vez nós falhamos enquanto humanidade.
Pedagolítica faz um roteiro tão simples quanto tocante. Ela não precisa criar situações detalhadas do desespero e do morticínio que está acontecendo por lá. O fato da autora ter suavizado não impediu que a obra fosse tocante. A narrativa cresce exatamente a partir das sutilezas. O absurdo da violência está ali presente nas notícias da tv, nas ruas por onde os personagens passam e na situação imposta a família da protagonista.
É incrível o quanto o traço do desenhista paulista Maurício Owada complementa o roteiro dentro da proposta da obra. Ele possui traços arredondados bem típicos das histórias infantis. Os seus personagens se destacam na expressividade facial. O semblante de terror ao assistir uma notícia já deixa claro o que os personagens estão vendo ali. O olhar de Hannah transmite toda a sua pureza que nos deixa inconformados com a realidade ali apresentada. Essa é uma obra em preto e branco mas no enquadramento podemos ver como Hannah imagina o mundo com o seu giz de cera rosa, são exatamente com os seus desenhos que ela cria o passado do seu avô e é também com eles que ela deposita a esperança no futuro que a impede de ficar triste com a realidade que a cerca. Além disso, a obra faz uma merecida homenagem ao quadrinhista palestino Naji al-Ali.
Giz é um quadrinho que tem a proposta de ilustrar a esperança vista a partir dos olhos de uma criança. Os autores são felizes em conduzir essa narrativa e por isso fazem uma ótima obra. Por não se tratar de um documentário em quadrinhos, eles podem focar na ideia que eles querem apresentar e, ainda que a realidade não seja ali mostrada em detalhes, ela mostra um caminho para suportar tanta dor. Infelizmente a expectativa de vida está muito curta com o massacre em curso em Gaza porém o sentimento de esperança é permanente e é isso que justifica permanecer resistindo a tamanho terror e são obras assim que nos fazem compreender como um povo consegue sobreviver e o que o motiva a permanecer lutando por seu território.
Ficha técnica:
Publicado em: setembro de 2025
Licenciador: Material Autoral
Categoria: Edição Especial
Gênero: Drama
Status: Edição única
Formato: (17 x 26 cm)
Colorido/Preto e branco/Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 40,00
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