Amarelo Seletivo - a obra do selo Hq Para Todos sobre o preconceito de ter origem japonesa

 

Capa de Amarelo Seletivo

Eu posso dizer que algo que marca o Século XXI é as discussões em torno de preconceito. É bem verdade que quem não faz parte de nenhuma minoria enxerga pode enxergar isso como uma chatisse mas o fato é que isso possibilitou que diversas pessoas pudessem falar como se sentem sobre a maneira como são tratadas. Apesar do protagonista dessa obra ser fictício, os acontecimentos são baseados em fatos reais da vida do roteirista. A obra foi publicada pela primeira vez pela Editora Sapos Voadores em dezembro de 2021 e a Editora Conrad publicou esse quadrinho no selo Hq Para Todos em julho de 2024. Em maio de 2023 essa obra foi premiada com o bronze na 16th Japan International Manga. 

 Segundo o Censo de 2022, 0,4% da população brasileira se declara amarela. Um percentual tão baixo faz com que haja muita gente desinformada sobre o que é ter uma origem de algum país do extremo oriente, o que possibilita preconceitos e até mesmo o bullying. André era uma criança brasileira como todas as outras até que um dia descobre que possui a cor amarela, o que gera nele um grande estranhamento de quem até então se via como um brasileiro. O garoto acha estranho a sua certidão de nascimento que assim o caracteriza e para piorar, seus colegas de escola pegam no seu pé ao chamá-lo de japonês, ainda que tanto ele como os seus pais tenham nascido no Brasil. Aquilo que as pessoas não amarelas chamam como "apenas uma piada" traz uma agressão que é sentida por quem tem a mesma origem que o personagem. Para piorar, cabe a esse garoto ter que dar todas as explicações possíveis sobre isso para as pessoas ao seu redor, ainda que eles nem as tenha. 

Página interna de Amarelo Seletivo

O roteirista Ricardo Tayra inspirou-se na própria vida para trazer uma obra que nos faz refletir sobre a nossa intolerância nos seus comportamentos mais sutis. É interessante notar que André vai descobrindo o que faz dele tão diferente e que isso não necessariamente é o problema. É a partir do conhecimentos de sua própria história que ele vai compor a sua auto-estima e perceber que na imensa diversidade do que é ser um brasileiro, ele também faz parte. André vai construindo a sua identidade e burlando os estereótipos de que "todo japonês é igual" e provavelmente ele deve ter tido que lidar com outros que não puderam estar no roteiro mas que os não amarelos carregam consigo. A obra traz um roteiro simples mas que consegue ser muito eficiente sobre o que o autor queria passar.

A desenhista paulista TalessaK traz um traço simples mas bem expressivo, sem tanto o exagero típico do estilo mangá mais popular. O que me encanta na sua pintura são as cores. Ela sabe explorar o amarelo de maneira discreta e deixando a cor sempre presente na paleta sem deixar de harmonizar com as demais cores que consegue compor muito bem a página. 

Amarelo Seletivo é um ótimo quadrinho que introduz uma reflexão sobre a experiência de ser um descendente oriental no Brasil. Essa é uma leitura indicada para qualquer idade e que possibilita a introdução para um debate mais detalhado sobre o assunto, por isso é bem adequado o uso em escolas. Além disso a obra possibilita compreender que é assumindo as nossas diferenças pessoais que a gente se encontra enquanto indivíduo. 

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Página interna de Amarelo Seletivo


Ficha técnica: 

Publicado em: julho de 2024

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