Um incômodo crescente sobre umas campanhas de financiamento coletivo impossibilitou o meu silêncio sobre alguns erros que como leitor vem me irritando, decisões tomadas por editoras e artistas que são erradas desde a sua concepção. É bem verdade que cada decisão visa uma proteção seja financeira ou de reputação, contudo será que eles pensaram sobre as consequências advindas disso?
Quando se realiza uma campanha de financiamento coletivo a editora ou o artista elicia os detalhes de como será o produto e quais as vantagens do apoio para o leitor. Por mais que toda a campanha conte com a solidariedade, cabe ao autor (da campanha) também cumprir as suas promessas ou pelo menos informar sobre o que está acontecendo com alguma regularidade.
No entusiasmo em divulgar um lançamento, o editor promete "assim que se encerrar a campanha, o livro estará impresso e mais, o apoiador terá 30% de desconto e não iremos dar esse percentual tão cedo quando for para as lojas online!" Você entende que isso é um compromisso? A campanha ocorre e meses após findar a campanha o livro é impresso (o que já é estranho). Os primeiros a receber o livro são influenciadores que não apoiaram a campanha (muito estranho). Pra piorar enquanto o tal desconto é minimizado por conta do valor do frete, algumas semanas depois que o livro está pronto (e não chegou na casa do apoiador) o mesmo aparece com 40% de desconto e frete grátis (aí já é um absurdo)!
Você consegue sentir o tamanho da revolta? Alguns dos autores da campanha até explicam o que ocorreu, contudo vários detalhes não são verdadeiros. A pessoa que fala isso é tão ingênua que ignora as redes sociais e os milhares de grupos de leitores que há por aí, é lógico que a quantidade de mentira é proporcional ao desmascaramento das mesmas. Como voltar a acreditar em alguém assim? A credibilidade que vinha sendo construída com muito esforço cai por terra e a decisão que talvez tenha sido de uma pessoa acaba afetando toda a equipe (você tava nesse projeto que mentiu pra todo mundo?).
Enquanto leitor eu compreendo crise do mercado editorial, atrasos por situação inesperada e até problemas na entrega. O que eu não consigo entender é quando nada é explicado! Por isso é preciso incluir no projeto a sua comunicação com o seu público. Se as etapas do projeto tem seu início e o seu fim, a comunicação é a que deve prevalecer e deveria continuar até que o livro esteja na casa de cada apoiador. Há projetos com atrasos de um ano sem comunicação ou que está há três meses em silêncio. É contar demais com a compreensão com situações assim. Eu acho desagradável ter que perguntar, mas chega um momento que não dá mais pra ficar em silêncio. Aí começa a epopéia: manda mensagem na plataforma - silêncio! Manda mensagem direta no Instagram - silêncio! Manda mensagem no WhatsApp - silêncio de novo (nem whatsapp a pessoa usa?). A sensação é : fui tapeado! 😳
Os problemas que eu citei não é culpa do mercado, não é culpa do coronavírus, não é culpa da entrega ... Esses problemas são culpa sua que fez a campanha e você precisa reconhecer ou deixar que um amigo de verdade lhe diga isso! Entenda que há apoiadores que vão lhe responder de forma educada mas há outros que vão lhe tratar muito mal porque a situação em si é irritante. Se um projeto isso tudo já é um problema, agora imagina pra quem tem vários!!!!! Sim, é preciso entender que imprevistos fazem parte da campanha e é preciso encontrar melhores maneiras de solucioná-los levando em consideração o seu apoiador e não apenas a si mesmo.
Esse ano eu me decepcionei com editoras e com autores e a cada decepção é a certeza que não farei parte de outras campanhas que envolvam eles. Contudo eu sou leitor antigo de quadrinhos que sabe separar um erro de alguém com o financiamento coletivo como um todo, outras pessoas não! Há vários projetos que reúnem apoiadores novos. Para esses a relação "não deu certo, logo não apoiarei nenhuma outra campanha" é bem mais comum. Essa reação prejudica a ideia de financiamento coletivo como um todo e quem SÓ tem esse meio pra financiar projetos será prejudicado ainda que tenha feito todos os passos corretos, o financiamento coletivo mal feito torna-se um desastre coletivo para todos.
Se você é autor de projetos e se identificou com o que está escrito, estabeleça um grupo de pessoas para discutir as suas decisões e não leve em consideração apenas qual a saída mais vendável. A destruição de uma reputação dá prejuízos permante!
Mesmo para quem fez tudo corretamente ficam algumas dicas:
- Para quem você está vendendo o seu livro? Eu vi situações em que pessoas procuram vender um livro com ideias progressistas num canal onde o influenciador é conhecido por suas ideias conservadoras. Sério que você não percebeu que isso daria errado?
- Evite vender livros apenas para os mesmos leitores, pense em estratégias de alcançar um público que não lê mas tem interesse na temática. Nos quadrinhos, o pingo de leitores geralmente lêem as mesmas coisas e resistem a algo diferente. Os projetos bem sucedidos como Arlindo e Confinada atingiu um público que não costuma ler quadrinhos e olha que dentro de uma temática progressista (que passou a ser pejorativamente chamada de lacradora).
- Pense em soluções para as balagens principalmente quando há brindes além dos livros. Os Correios tem um galpão cheio de coisas pra colocar dentro de caminhões e é esperar demais que eles tratem o seu material com amor e carinho (ainda que esse seja o jeito correto). Há soluções práticas e baratas que evitam que o brinde venha dependurado do lado de fora da embalagem.
- Estabeleça um cronograma para dar resposta sinceras e mais detalhadas possível aos seus apoiadores. Sempre que um autor ou editora se expõe completamente nas redes sobre problemas imprevistos eu tendo a confiar mais nelas. Agora desculpa esfarrapada só vai gerar a reação inversa porque em algum momento a verdade vai aparecer.
- Quando o livro estiver pronto, não envie primeiro para os influenciadores. O apoiador confiou em você antes de todo mundo e é no mínimo um sinal de respeito que ele receba antes.
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