Poderosa foi criada para ser a versão da Supergirl da Terra 2 antes de Crise nas Infinitas Terras. Essa personagem ficou sem um rumo definido até aparecer na Liga da Justiça Internacional de Keith Giffen e J. M. DeMatteis na década de 80 no século passado. Em seguida, foi reformulada pelo roteirista Gerard Jones na esquecível Liga da Justiça Europa nos anos 90. A origem da personagem passou a ser atlante e, por isso, ela tinha uma ligação com Aquaman. Há pouco tempo, a personagem adquiriu uma outra origem: ela é fruto de uma Inteligência Artificial de uma espaçonave alienígena. Os anos foram passando e a heroína ficou no limbo até a Saga Planeta de Lázaro, publicada em 2023. Agora Poderosa possui poderes psíquicos e precisa lidar com o desconforto da rejeição da Superfamília por anos que a ignorou como membro. A Editora Panini lançou esse encadernado em junho de 2024. Essa edição conta com as histórias Deus Ex Magicka, o arco em 3 partes Inteira de Cabeça, a história Cavaleira das Terras Altas e o arco em duas partes Ela Não Tem Cordinhas.
Deus Ex Magicka
Após os acontecimentos de Planeta de Lázaro, Poderosa parece estar perdida num mundo dentro de sua mente até ser resgatada por Sina. É ela quem explica que a protagonista possui novos poderes e a convence disso. Mal ela se convence da existência desses poderes Sina, que é uma psicoterapeuta, a convida a fazer parte do tratamento de pessoas, de preferência de superseres. A roteirista Leah Williams traz uma proposta interessante em reformular a personagem a partir dos seus poderes. Já que não faria sentido algum em resgatá-la para o universo regular para ser mais uma personagem com poderes parecidos aos dos dois Supermen e da Supergirl.
Inteira de Cabeça
O roteiro desse arco já inicia com uma escorregada que é o fato de a Poderosa fazer parte do tratamento na mente de super-heróis pouco depois de ela descobrir da existência dos seus poderes psíquicos. Sem preparo algum, ela entra na mente de pessoas e as representações mentais delas são facilmente compreendidas por ela. Sina que fez toda a formação em psicoterapia na verdade funciona como uma mera participante. Se você conseguir ignorar esse lado técnico e deixar-se levar apenas pela narrativa, vai se deparar com uma história interessante principalmente quando um outro mistério é apresentado. A partir daqui, além de combater o mal que está assolando heróis, Poderosa tem a oportunidade de lavar roupa suja com a Supergirl e o Superman Jonathan, ainda que esse drama tenha ficado bem chato de acompanhar. Além disso aqui ela passa a adotar um novo nome humano.
Cavaleira das Terras Altas
Finalmente o vilão é revelado. Essa é a história mais longa por ser aquela de origem. Todas as pessoas estão vivendo uma espécie de dormência e ela precisa salvar o mundo iniciando da Superfamilia, porém isso irá colocá-la próximo ao sentimento de rejeição que vem vindo com ela todo esse tempo. Aqui os roteiros funcionam bem e vale a pena ler a história com vagar, já que os elementos e personagens são melhores aproveitados inclusive a Lilith, que possui o codinome Sina. Contudo a participação especial de um personagem dessa história pode complicar a compreensão do jovem leitor, já que ele está relacionado às histórias pré Crise nas Infinitas Terras no século passado.
Sobre a arte
Os desenhos até aqui são de Marguerite Sauvage. Ela tem um estilo que lembra aquarela, por isso os seus personagens tem pouco movimento. Um detalhe que eu não gosto são as cores dos olhos, eles são tão claros que acaba tirando a expressividade dos personagens, além de todos eles parecerem zumbis. O mais interessante da arte é o fato que a Poderosa foi criado visualmente pra estimular sexualmente os meninos héteros, já que era uma heroína que luta com maiô e possui um decote grande pra realçar os seus grandes seios. Aqui esse uniforme clássico é apresentado no início pra ser uma citação e logo é substituído por um que é bem mais condizente pra uma superheroina e ainda por cima traz uma sutil referência ao Superman. É um caminho muito diferente quando Poderosa é escrita e desenhada por mulheres, já que não é utilizado o apelo sexual, toda a sensualidade estão nas capas originais dessa obra.
Ela Não Tem Cordinhas
Uma história bem esquisita em que a heroína está presa num indutor de sonhos que dá a impressão de que nunca saberemos qual é a realidade. Esse estranhamento é interessante, pena que a conclusão desse arco se dá apenas no especial Cavaleiro dos Pesadelos Volume 2. Essa história conta com o traço de Vasco George que faz um bom arroz com feijão de quadrinhos de heróis mas não trouxe nada além disso para um roteiro tão esquisito.
Veredicto
O primeiro encadernado de Poderosa começa tão apressado que acaba deixando furos no roteiro. Contudo pra quem se permite apenas aceitar o que a roteirista quer mostrar, irá se deparar com histórias interessante após o primeiro arco. O que é mais atraente na proposta é o fato de sair da banalidade das lutas entre heróis e vilões e trazer o enfrentamento para a manipulação mental. Apesar do início a protagonista reclamar excessivamente de como ela é excluída da Superfamilia, isso começa a ficar menos chato na história longa no meio do encadernado. É interessante ressaltar que a personagem tem um visual realmente interessante em deixar de ser o símbolo sexual de garoto heterossexual de 50 anos de idade. Isso tem tudo a ver com a equipe de produção formada por mulheres (roteirista, desenhista, colorista e no Brasil contou com editora). Essa é uma ótima obra para quem gostaria de ler um quadrinho com super-heróis diferente do habitual.
Ficha técnica:
Publicado em: junho de 2024
Licenciador: DC Comics
Categoria: Edição Especial
Gênero: Super-heróis
Status: Em circulação
Formato: Americano (17 x 26 cm)
Colorido/Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 39,90
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