Top 10 e Menções Honrosas de 2024


O último dia do ano é o dia de celebrar o final desse cansativo ano de 2024 em que eu tive dois momentos em que meu corpo pediu pra utilizar o cérebro o mínimo possível: no dia da prova de um concurso e no segundo dia de recesso de final de ano. Ainda que os quadrinhos sejam o meu melhor método de relaxamento, houve momentos que eu tive dificuldade de me concentrar na leitura. Porém ainda que esse início de texto esteja meio dramático, passou muito longe de situações realmente graves e muito mais próximo do cotidiano de muitos. Agora é o momento de falar de leituras marcantes de 2024 com uma lista de Menções Honrosas, isto é, quadrinhos que foram publicados em anos anteriores mas que eu li esse ano e a lista mais esperada: o Top 10. Cada quadrinho citado tem o link dos meus textos em cada título. 

A lista de Menções Honrosas foi de longe a que me deu mais trabalho, porque eu defino que deve ter apenas dez citados e a lista prévia havia 17, então eu decidi usar dois critérios: as obras que mais me impactaram e trazer uma lista a mais heterogênea possível, para que o leitor desse texto possa encontrar algo que mais lhe interesse. Eu recomendo muito qualquer dos quadrinhos dessa lista, por isso vamos a eles, lembrando que eles não estão aqui por ordem de qualidade. 

- Hitler de Shigeru Mizuki - Essa foi uma obra que fez a minha cabeça lembrar e refletir sobre muitas coisas, devido ao quanto a extrema direita de hoje utiliza exatamente os mesmos elementos do nazismo e pela semelhança de como esse movimento absurdo se popularizou e encontrou os mesmos meios pra estar tão forte em todo mundo atualmente. Eu não gostei da resenha que eu fiz desse quadrinho mas eu resolvi deixar como estava porque ela representa a confusão que a leitura me causou. 

- The Spirit Aniversário de 80 Anos - Eu não sei afirmar se foi Will Eisner quem criou o termo "graphic novel" mas certamente foi ele quem popularizou. Esse foi um quadrinhista completo pela seu brilhantismo na arte e no roteiro. Essa obra é uma coletânea que permite entender o quanto ele foi um artista rico que conseguiu explorar com maestria diversos gêneros narrativos. Acho que essa obra não causou a repercussão que merecia, talvez pela Editora não ter optado por fazer um bibelô de capa dura. 

O Menino Rei - os quadrinhos ainda são subexplorados nas escolas talvez porque ainda sejam pouco discutido nas diversas licenciaturas e principalmente na pedagogia. Pena! Essa obra por exemplo é originada de uma excelente pesquisa e por isso cada detalhe é muito bem pensado a ponto de o aluno aprender muito além dos textos nos balões. Os detalhes arquitetônicos e de vestuários, acrescentam bem ao texto, deixando as informações mais leves para quem quer aprender sobre o período. 

Refexos no Mundo 1 - Na Luta - Fabien Toulmé, ao visitar países cujo protagonismo social geram transformações, percebe que esses movimentos tem em comum a liderança feminina, um fato que também me surpreendeu. Foram três países de três continentes diferentes em que pessoas buscavam melhorias para a comunidade, bem mais do que ter uma ambição em promoção política partidária. A gente vê atitudes ousadas a partir da atitude de mulheres que enfrentam a opressão patriarcal. 

Jeremias - Estrela - a obra de Rafael Calça e Jefferson Costa partiu do racismo direto para aprofundar-se na consciência negra de tal forma que, nessa obra, eles trazem um enredo que explora a transmissão dos conhecimentos pela oralidade, algo bem intenso em diversos países do continente africano e o melhor meio de manter as tradições nesse país que é tão marcado pelo apagamento que o racismo proporciona. Além disso, eu fiquei particularmente impactado pela beleza da arte que foi mais bem explorada nessa obra. 

- Meta Depto de Crimes Metalinquísticos - essa hq eu li num momento em que eu não pude fazer uma resenha mas que, apesar de não ser destacada pelas inovações no uso da metalinguagem, ela chama a atenção pela maneira como ele a utiliza para o desenvolvimento da trama de forma que faça com que o inusitado se encaixe na sequência dos acontecimentos. 

Escuta, Formosa Márcia - esse título ganhou tudo o que podia no Brasil e na Europa e não foi à toa. É bem comum criar histórias a partir de um protagonista que traga o inusitado na sua imagem ou na importância que ele possui ou vai adquirir no seu caminho. Contudo essa obra vai na contra mão ao trazer uma personagem comum em vários lugares pelo Brasil mas que nem por isso possui uma força menor em exercer o seu protagonismo numa história muito envolvente. 

Cosmo Agonia ou Sobre a Origem do Nada - a poesia concreta encanta muita gente pela relação em que a linguagem conotativa exerce inclusive visualmente na poesia, por isso, é possível também estabelecer relação entre as metáforas também em imagens que interage com textos. Nisso eu gosto muito de como Daniel Figueiredo faz isso e olha que dificilmente eu gosto de poemas. Porém recomendo essa obra para quem gostaria de conhecer outros tipos de narrativas que os quadrinhos podem proporcionar. 

 - Em ti me vejo - geralmente o racismo limita-se a ser reconhecido quando ele acontece de maneira direta: quando alguém utiliza características indígenas ou negra como xingamento. Isso acaba invisibilizando o racismo sutil que é tão típico no nosso país. Dentre as diversas manifestações disso, está o sofrimento que crianças negras carregam por estar numa sociedade que estabeleceu que é nos valores europeus que estão a beleza e que características negras estão o estranho e o feio. Essa obra mostra o sofrimento a partir do uso dos cabelos e  propõe ao leitor repensar estereótipos. 

Carniça e a Blindagem Mística Parte Dois - ser mulher na atualidade não é fácil e certamente era muito pior há um século, ainda mais num local em que a presença do Estado era praticamente inexistente. A segunda parte dessa história de Shiko conta o arco de uma vingança de uma cangaceira que assusta ao mesmo tempo que empolga. 

Agora é o momento de eu citar em ordem decrescente as dez melhores leituras do ano. Como dificilmente eu leio lançamentos (já que minhas compras são mais direcionadas para as promoções), há poucos lançamentos que eu tenha lido. Contudo consegui reunir 10 que eu achei pelo menos ótimo. Sim, é bem verdade que esse ano entrou muito mais quadrinhos de super-heróis do que eu gostaria, mas pelo menos os citados são interessantes. 

10º - Corporação Vingadores - colocar Vingadores no título é somente para vender, já que essa é uma história da Vespa. Apesar de começar mal, vale a pena insistir na leitura para a explicação dos mistérios após a metade da mini-série. A partir daí a trama surpreende e melhora bastante. 

9º - Hulk - Era dos Monstros - a proposta do Hulk de terror é algo que vira e mexe é revisitada, principalmente porque para muitos o excelente seriado ainda traz saudade. Esse arco inicia a fase atual do herói e que eu espero que os autores não sacrifiquem a qualidade ao colocar muita coisa do Universo Marvel que foi o que piorou tanto a fase do Donny Cates, que tinha proposta similar. 

8º - Novo Quarteto Fantástico - Ao Inferno num Piscar de Olhos - geralmente é pedir pra fracassar quem pretende revisitar uma obra de décadas atrás, contudo os autores souberam utilizar os elementos do arco dos anos 90 a ponto de parecer que essa fosse uma história da época. Caia para dentro da leitura desse quadrinho que é diversão fácil. 

7° - Freeman Volume 1- A Balada de Um Homem Livre - a força do protagonista que não aceita a condição de escravizado é o que mais chama a atenção nesse quadrinho que traz além disso diversos mistérios que acrescentam bem a narrativa. 

6º - Sandman Apresenta - A Garota que Seria a Morte - o enredo desse quadrinho é muito ousado: trazer uma história dos Perpétuos sem os Perpétuos. Quando você aposta alto e ganha vale a pena conquistar mais por isso. Aqui os autores conseguem ser bem sucedidos com a sua proposta e faz uma excelente história apenas utilizando algumas poucas referências a acontecimentos do Reino do Sonhar. 

5º - Nobre Coração - Esse ano eu descobri pelo Catarse a Editora Balão Negro que tem publicações com uma proposta decolonial. Essa é uma narrativa simples a partir de um conto etíope mas que surpreende pelas profundidade que as reflexões que o quadrinho traz. Uma obra curta feita para leitores de quaisquer idade mas que é muito bem conduzida tanto pelos argumentos quanto pela arte. 

4º - Justiceiro - O Rei dos Assassinos - a Marvel deu a Jason Aaron uma missão complicada: resignificar esse personagem que está sendo visto como referência para a extrema direita. O roteirista conseguiu trazer uma história mostrando a essência do Frank Castle: um psicopata que deve ser temido pelo seu transtorno mental e não admirado. Aqui também mostra como o seu nome foi mal traduzido já que o anti-herói nunca teve a proposta de fazer justiça e sim de punir de acordo com seus preceitos morais. 

3º - Powebomb - Faça uma Superbomba - Daniel Warren Johnson surpreende tanto pela maneira como ele trabalha a nostalgia dos programas de luta livre como a forma como ele insere uma trama séria, surpreendendo o leitor. Por isso se o enredo é inusitado, isso vai sendo melhor lapidado pelo drama que envolve os personagens, gerando uma excelente obra do começo ao fim. 

2º - Showa - Volume 1 - Esse quadrinho ajudou a responder uma dúvida que eu mantinha há anos: por que o Japão resolveu fazer uma aliança com os nazistas na Segunda Guerra? Shigeru Mizuki além de responder com detalhes sobre os anos que antecederam essa aliança, também faz uma auto-biografia de como era sua vida na época quando ele era ainda uma criança. 

E a melhor leitura de 2024 foi:

1° - O Abismo do Esquecimento - Paco Roca não se limita a contar uma história do horror da ditadura espanhola, mas ele traz uma narrativa em que os detalhes da exumação dos corpos complementa a História daquela época e isso torna a hq ainda melhor, já que não só os detalhes do cadáver revelam a história mas os mesmos elementos demonstram a ousadia do coveiro que arriscou a vida para dar um pouco de dignidade para as famílias enlutadas. 

Esse foi o melhor de 2024 e por mais clichê que pareça, eu desejo a todos a esperança de um 2025 ainda melhor! 


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