Popeye - Um homem ao mar

 


Popeye é um personagem que apareceu como coadjuvante em 1929 e estrelou uma tirinha de jornal em 1931. É evidente que esse personagem é muito diferente daquele que eu fui conhecer apenas nas animações da tv nos anos 80. Esse quadrinho é uma homenagem a primeira versão do personagem e foi publicada pela Éditions Michel Lafon e em 2021 a Editora Skript publicou por aqui. Ainda que o personagem seja muito lembrado por ser um personagem de desenhos infantis, é importante saber que essa obra é feita para leitores adultos.

Popeye é um marinheiro que tem uma relação tão íntima com o mar que chega a tratá-lo como um parente próximo numa relação com seus trancos e barrancos mas com muito afeto envolvido. A sua vida assim como das demais pessoas ao ser redor não é nada fácil. Todos precisam encontrar um caminho para se manter com muito trabalho e fugindo da milícia e dos demais bandidos sem farda. 

O roteirista francês Antoine Ozanam traz um personagem conectado com uma realidade tão dura que obriga que as pessoas abandonem os seus sonhos para sobreviver com o trabalho que esteja disponível. O quadrinho traz a problemática de como a modernidade se impõe fazendo com que os empregos que tragam uma renda melhor estejam limitados a ser empregado de alguma empresa, a pesca passa a ser apenas um sonho bucólico e ultrapassado. O autor estabelece assim a relação dessa realidade com a vida pessoal dos personagens e consegue dar um toque pessoal em como ele os representa. Por isso, ele entende que não cabia a Olívia Palito ainda ser a donzela em perigo dependente de um homem para savá-la. 

Essa edição tem a qualidade de trazer uma introdução assinada por Diego Moreau detalhada da vida de Elzie Crisler Segar (o criador do personagem), de como ele aperfeiçoou o talento de quadrinhista, a criação do Popeye e algumas curiosidades sobre os personagens coadjuvantes, inclusive com a complicação existente com a versão em série animada, a ponto de impossibilitar o uso do nome Brutus por conta de direitos autorais. Um texto imprescindível pra compreensão da história e alguns dos seus detalhes  que são esclarecidos com a leitura do texto.

O protagonista aparenta ser uma pessoa triste e esquentado mas que em momentos íntimos demonstra muita sensibilidade. Aliás assim como o personagem, a obra em si tem várias camadas que versam sobre o existencialismo e crítica social. Porém não se propõe a trazer grandes emoções, a história possui um ritmo lento sem grandes reviravoltas, um estilo de contar muito próprio das obras européias. O momento mais tenso está na explicação da origem do nome do personagem e a relação familiar construída naquele momento. 

O desenho do mineiro Marcelo Lelis causou-me uma estranheza inicial. O seu traço é bem ondulado e parece que as suas páginas são apenas rascunhos. Lelis tem um estilo bem diferente que causou em mim uma repulsa porque nas primeiras páginas eu precisei passar um bom tempo pra entender o que estava acontecendo na cena. Uma situação que me obrigava a demorar na leitura de uma forma negativa. Com o passar das páginas eu fui me adaptando aquele estilo tão diferente e pude assim superar essa dificuldade. Por outro lado, desde o início da leitura o que me causou encantamento foi a paleta de cores discreta e principalmente em como o seu traço possibilitava movimento para os seus personagens. 

A edição brasileira é bem encadernada e traz consigo um fitilho para marcar as páginas. É uma pena que a lombada não tenha tido o mesmo cuidado dos demais detalhes. Eu não gosto da forma que a arte da capa se encontra com a lombada. Além disso, a edição vem com um marca páginas e dois bookplates, um deles com a primeira tirinha do personagem e outro com uma linda arte do Lelis, é uma pena que o papel onde foi impresso é tão fininho que lembra o material descartável dos santinhos de políticos em véspera de eleição. Eu sei que esse bookplate são brindes mas ainda que o leitor não tenha pago a mais por isso, cada detalhe faz parte do produto e deve ser pensado de maneira que o agrade, bookplate acaba sendo um material colecionável e por isso merece ser impresso em uma superfície durável. O ideal é que a Editora pense sobre os detalhes de cada peça do seu produto desde a embalagem quando houver brindes aos seus leitores, vale ressaltar que esse quadrinho teve uma campanha muito bem sucedida de financiamento coletivo e portanto havia como viabilizar financeiramente esses detalhes. 

Popeye é um quadrinho com uma narrativa sem grandes sobressaltos, assim como várias obras nesse formato Europeu. O ideal é ir pra leitura sem grandes expectativas e sem imaginar que vai encontrar ali o Popeye da animação. Além disso ainda que seja inspirada em tirinhas dos anos 30, não espere encontrar aqui os mesmos valores culturais daquela época. O fato é que apesar da obra não proporcionar fortes emoções, ela ganha o leitor pelas reflexões que ela suscinta. 

Ficha técnica:

Publicado em: novembro de 2021

Editora: Skript Editora
Licenciador: Éditions Michel-Lafon
Categoria: Álbum de Luxo
Gênero: Europeu
Status: Edição única
Número de páginas: 120
Formato: (20 x 28 cm)
Colorido/Capa dura

Preço de capa: R$ 109,90
Tradução: Márcio Rodrigues e Mônica Corrêa

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