Aurora de X - Parte Dois

 


Esse primeiro arco da nova fase mutante foi tão grande que ocupou todo o primeiro ano dos seus títulos publicados nos EUA. Por isso eu resolvi dividir essa resenha em duas partes, na primeira parte eu citei os enredos de cada título e nesse eu vou me centrar na minha opinião sobre as leituras; exceto quando for títulos que estrearam nessa segunda parte, nesse caso eu vou mencionar o enredo e em seguida minha opinião. A segunda parte desse arco foi publicada pela Editora Panini em 2021 na revista quinzenal dos X-Men nas edições 12 a 21 e conta com histórias de: Novos Mutantes, Wolverine, Carrascos, X-Men, Excalibur, X-Force, Cable, Satânicos e X-Factor.

Novos Mutantes

Roteiro - Jonathan Hickman, Ed Brisson

Desenhos - Rod Reis, Marco Failla, Flaviano

O roteirista Jonathan Hickman criou a tecnologia krakoana para ressuscitar mutantes e trouxe os personagens que fizeram tanto sucesso nos anos 80. Contudo o seu texto os mostrava como garotos de 13 anos, ainda que alguns deles hoje já são pais de família e já lideraram equipe dos Vingadores. Isso forçou muito a barra para resgatar o leitor saudosista e trouxe histórias chatas com piadas sem graça. Para dar um nó na cabeça do leitor, ele divide a equipe em duas e manda a equipe clássica pro espaço e deixa os personagens mais jovens em Krakoa. Assim as primeiras seis histórias se reversam entre as equipes e conta com roteiristas e desenhistas diferentes. 

Contudo nem só de decepção vive o título dos Novos Mutantes, quando Ed Brisson assume em definitivo e pode contar com todos os mutantes novinhos, ele centra a equipe no resgate de mutantes num país que não reconhece Krakoa como Estado independente. A partir daí, as histórias melhoram muito ao mostrar a equipe como a essência na qual eles foram criados: uma equipe de herói disposta a enfrentar os males que os preconceitos que os "normais" causam. 

As últimas histórias trazem a estréia da mutante Cosmar, uma mutante resgatada de Carnélia, país do Leste Europeu, cujos sonhos modificam a realidade ao seu redor. O seu visual é bem diferente e com uma deformidade no rosto que acaba insinuando medo. Os desenhistas exploram muito bem tanto a personagem quanto o ambiente onírico que ela gera com um traço psicodélico. Aliás, o beleza dos desenhos é a contante nas doze partes da história, tanto por cumprir bem a proposta saudosista de homenagear Bill Sienkiewicz, além disso as cores intensas dos próprios desenhistas e Carlos Lopez contribuiram muito para a qualidade da história ainda quando Jonathan Hickman tentava atrapalhar com seu roteiro confuso. 

Wolverine

Roteiro - Benjamin Percy

Desenhos - Adam Kubert, Viktor Bogdanovic

A ilha de Krakoa além de abrigar mutantes produz uma flor com capacidade de tratar várias doenças, dentre elas câncer e transtornos mentais, os humanos descobriram uma outra utilidade: das suas pétalas é possível produzir uma droga chamada Pólen. A partir daí a produção dos medicamentos ficou comprometida pelo contrabando do Cartel das Flores. Wolverine que recentemente voltou a vida, investiga esse crime ao mesmo tempo que Jeffrey Bannister, um agente da CIA também entra no caso. Em meio a isso, pessoas aparentam estar cometendo suicídio por influência do poder de uma mutante chamada Garota Pálida. 

As histórias do Wolverine possui aquele sabor agradável mas que a gente sente que faltou um pouquinho mais de sal, para mim eu ficaria satisfeito com uma dose maior de violência ou de um personagem averso as regras. Em alguns momentos Logan fala dos traumas que ele não superou com a sua morte e isso não parece ter modificado a fera domesticada nos seus anos de X-Man e Vingador. Eu até dou méritos a Percy por incluir no roteiro particularidades sobre a situação política no mundo pós Krakoa com seus governos inescrupulosos distorcendo a situação mutante. 

O arco de cinco números se divide entre o retorno do anti-herói (ou herói) e como ele lida com as suas missões na ilha e o enfrentamento com uma raça vampira. Em meio a essas histórias, há uma que ocorre em X-Men 16 que é uma história completa que consegue mostrar o personagem com a selvageria e sagacidade que eu espero, além de funcionar muito bem como uma história completa. 

Os desenhos de Adam Kubert sempre me agradam, em termos de traços e narrativa ele sabe dar o tom certo em quando ele vai detalhar mais ou apenas aproveitar o movimento da cena. Ainda que ele não tenha ficado em todos os números, o seu substituído Bogdanovic também faz um lindo trabalho e menos cartunesco. 


Carrascos

Roteiro - Gerry Duggan

Desenho - Stefano Caselli, Matteo Lolli

Ler Carrascos foi um desafio a minha paciência, por diversas vezes quis tentar me concentrar bastante para acompanhar os acontecimentos, mas não consegui. O jeito de contar a história de Duggan não é atraente e as mudanças de foco narrativo dos Carrascos para o Clube do Inferno e Morlocks ... só atrapalha. O arco Aurora de X possui doze capítulos da equipe. No sexto há um acontecimento dramático cuja repercussão só será explorada no Capítulo 11. Quanto a arte, Caselli foi um desenhista bem escolhido e Lolli tem um traço no mesmo padrão do roteiro, bem meia boca. Ainda sobre os desenhos faltou definir melhor a aparência da Kitty Pride. Por ela já ser adulta, ficou definido que ela passaria a se chama Katie já que Kitty é mais apropriado para garotinhas. Entretanto se ao início Katie aparenta ser segura e violenta, ao final ela volta a aparentar ser uma adolescente inocente. Dá a impressão de que o artista quer tanto homenagear uma fase clássica que acaba se embaralhando na continuidade. 

X-Men

Roteiro - Jonathan Hickman

Desenhos - Leinil Francis Yu, Mahmud Asrar

Quando essa fase do Jonathan Hickman iniciou e soubemos que haveriam várias revistas mutantes, a expectativa era que X-Men seria a mais importante dentre elas, primeiro porque é uma das poucas que Hickman estaria com o roteiro e depois porque todo o conceito mutante nasceu dessa revista. É a partir desse ponto que você pode entender a minha decepção!

X-Men é um título cujas histórias parecem ser sempre um epílogo de algo. No título não há uma equipe definida e muito menos uma missão em que alguns mutantes precisem fazer algo. Tudo acontece nos demais títulos e esse daqui é apenas para dar uma explicação sobre algo, é como se a gente sentasse na poltrona ao lado do papai Summers e ele contasse uma historinha. Eu tive uma sensação de: tanto faz eu ler isso quanto não.

Os desenhos de Francis Yu só acompanham a minha frustração, talvez pelo fato de eu não ver um sentido nesse título mas o fato é que o traço também não é atraente. Assim como o roteiro, há alguns bons momentos mas em geral é tudo muito regular. X-Men mostra que Hickman não é genial o tempo todo ou a ideia de fazer de X-Men um título menor seja proposital, de qualquer forma, X-Men Aurora de X eu não indico. 




Excalibur

Roteiro - Tini Howard

Desenhos - Wilton Santos, Marcus To

É um alívio enorme saber que eu conclui a leitura desse arco, nos anos 90 eu li uma história ou outra do Excalibur e não gostava, 30 anos se passaram e a sensação só piorou. Eu fico tão por fora de toda a ambientação quase medieval com castelos, reinados e feitiçaria que parece que essa história é uma continuação das histórias da equipe no Século passado. Caso seja isso mesmo, é um grande erro porque o pacote mutante tem sido vendido junto como se todos os títulos estivessem relacionados, portanto a equipe precisava ser apresentada também a novos leitores. Ainda que essa história tediosa seja completamente original, o roteirista Tini Howard chegou longe de agradar, mesmo quando ele apela para o humor, que é quando ele não acerta uma. 

Se a história não me prende em nada, os desenhos também não. O que há de melhor nas revistas mutantes são os desenhos mas nem isso funcionou pra mim. Wilton Santos e Marcos To tem um traço limpo e sem muitos detalhes, bem típico das histórias de herói habitual. Excalibur são histórias esquecíveis que não vale o esforço em tentar entender o enredo. 

X-Force

Roteiro - Benjamin Percy

Desenhos - Oscar Bazaldua, Joshua Cassara, Bazaldua

Ler esse tanto de história mutante é desgastante! Felizmente quando percebo que vou ler X-Force vem um sentimento especial. Isso porque são histórias construídas pensando na diversão do leitor e o saudosismo fica de fora. X-Force não necessariamente mostra uma equipe atuando, as vezes o foco é apenas na Dominó e outras vezes uma equipe de três membros mas mantém a proposta de missões que devem ocorrer por debaixo dos panos. Além dos roteiros bem construídos as histórias tocam num ousado tema sobre relacionamentos que já estava dando suas pistas nas histórias dos X-Men, aqui vemos que realmente há um trisal em Krakoa, algo que os fãs há muito já faziam piadas sobre. 

Se o roteiro é redondinho, os desenhos também são um show a parte e eu destaco o estilo de Joshua Cassara com um detalhismo que dá o tom de seriedade que as histórias merecem. X-Force é uma HQ que poderia ser ainda melhor se não tivesse que ter a fórmula das páginas em prosa que servem apenas pra nos retirar da narrativa para ler um conteúdo desinteresse. 



Cable

Roteiro - Gerry Duggan

Desenhos - Phil Noto

Cable está com histórias solo e agora rejuvenescido, o guerreiro mutante agora é um adolescente muito distante do velho amargurado e neurótico que ele fora um dia. Na ilha de Krakoa ele salva um monstro que estava enfurecido por ter uma espada enorme enfiada numa de suas patas, ao tocá-la ele acessa as lembranças do seu dono anterior, um cavaleiro espacial de Mom. É esse jovem que se apresenta disposto a ajudar mutantes desaparecidos no território dos humanos. 

Ainda que eu tenha tido uma péssima primeira impressão, a HQ não é ruim. Gerry Duggan consegue sair daquela ambientação de filme da Disney pra algo interessante, ajudado claro com a reviravolta que está logo no final da primeira parte. Para quem teve a expectativa destruída já nas primeiras páginas, o resultado final foi interessante comparada a tanta história confusa que o arco Aurora de X traz. 

Eu gosto do estilo do desenhista Phil Noto por trazer algo diferente do traço padrão das histórias de herói, além disso ele usa a sua versatilidade pra acrescentar à narrativa quando ele muda o seu estilo para mostrar acontecimentos de sub-enredos. Cable é uma história que vale a pena a leitura quando ela é completamente descompromissada. 



Satânicos

Roteiro - Zeb Wells

Desenhos - Stephen Segovia 

Krakoa aceita todos os mutantes, inclusive aqueles que são selvagens o suficientes para colocar em risco inclusive os demais. Para isso o Conselho Silencioso decidiu reunir os mais perigosos mutantes e o Destrutor (que havia perdido o controle recentemente), sob a liderança de Psylocke (sim, ela de novo!) para realizar missões perigosas. A primeira missão dessa equipe é destruir um laboratório de clones do Senhor Sinistro, contudo ao chegarem lá, eles se deparam com Madelyne Pryor que acabou de se apropriar dos corpos dos Carrascos, mutantes que causaram uma matança enorme durante o Massacre de Mutantes no início dos anos 90.  

É óbvio que a primeira vista há o incômodo do quadrinho ser um "Esquadrão Suicida de Mutantes", toda a narrativa é construída em cima disso: vilões ou heróis arrependidos, personagens descartáveis e muita violência. Entretanto Aurora de X nos leva a ler tanto quadrinho mais ou menos que quando há uma história divertida, a gente já fica satisfeito. É esse o sentimento que você tem que ir para a leitura. Satânicos nos diverte ainda que o final tenha sido meio jogado. 

Se a gente não deve ir com muita expectativa pro roteiro, isso também vale para os desenhos. Contudo o traço de Stephen Segovia não decepciona e em alguns momentos me surpreendeu positivamente. Eu acho que ficou bem adequado esse estilo não tão detalhado mas com ênfase na dinâmica da cena, principalmente por ser um quadrinho de violência livre e que chegou a fazer me sentir enojado, que era exatamente a intenção do artista. 



X-Factor

Roteiro - Leah Williams

Desenhos - David Baldeon

Krakoa agora tem tecnologia suficiente para superar a morte, contudo para evitar ressuscitar mutantes que ainda estão vivos, é preciso que a pessoa comprove que ele realmente está morto. O X-Factor é uma equipe que se dispõe a investigar a morte de mutantes e trazer as provas da morte do mutante cujo parente a contrata. A equipe surge quando o Estrela Polar busca ressuscitar a sua irmã Aurora e ao final é designado líder da equipe pelo Conselho Silencioso. 

Inicialmente a HQ tem um tom de mistério com humor, contudo a partir da segunda parte com a presença do Mojo, a proposta assume de vez o tom de comédia (ou pelo menos tenta!) . Essa é uma equipe que apesar de ter uma proposta bem definida, pareceu ter aparecido do nada e mais estranho ainda foi a liderança ter sido dada ao Estrela Polar (porque sim!). Entre os heróis que já compuseram o grupo apenas Polaris está presente. A narrativa é bem chata e as piadas não funcionam, humor é bem mais difícil do que parece e não é qualquer roteirista que lida bem com o gênero, Leah Williams com certeza não! Por outro lado a escolha do desenhista não poderia ser melhor, David Baldeon utiliza o tom correto do seu traço cartunesco, se ele pudesse contar com um bom texto certamente conseguiria tirar risadas. Um outro aspecto que ele é ótimo é na ambientação, são locais lindos de se ver que dá gosto passar mais tempo apenas olhando. X-Factor é aquele quadrinho esquecível que vale a pena só folhear devagar. 

Veredito

Aurora de X é um arco que em sua maior parte não vale a pena a leitura, são poucas as histórias que realmente dá gosto de ler. Por outro lado, os desenhos traz estilos bem variados e conta com excelente talentos da Marvel. Ainda que os mutantes estejam numa situação curiosa, é preciso suportar várias páginas tediosas para encontrar situações interessantes nesse contexto inusitado. Se várias das suas histórias não se prendesse a explorar tanto o saudosismo do leitor com excesso de referências desses 60 anos de mutantes, certamente seria melhor, por isso a revista quinzenal dos X-Men é recomendada para leitores experientes com esse universo ou pessoas que como eu leu um pouco de cada época e consegue entender boa parte das situações ali revisitadas. 


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Tradução : Mário Luiz Barroso


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