Após escapar da morte, tudo o que o Pinguim queria era uma vida pacata e sem cometer crimes. Porém o seu passado o persegue por todos os lados até que finalmente ele é levado até Amanda Waller. Ele é chantageado e para que a sua noiva se mantenha viva, ele vai precisar voltar a se tornar um dos maiores gangsteres de Gotham, retomando assim o lugar que atualmente é ocupado por seus filhos, isso na cidade que é protegida pelo Batman. É claro que essa não é uma missão fácil e ele terá que contar com novos capangas para conseguir realizá-la A Editora Panini publicou essa mini-série em duas edições em abril e novembro de 2024.
O roteirista Tom King costuma ter uma proposta bem específica para os seus quadrinhos que vai além de desenvolver uma trama óbvia de bem contra o mal, ele trabalha um aspecto do personagem de maneira a dar uma profundidade ao mesmo. A sua proposta nessa obra é mostrar o quão perigoso pode ser um homem que a gente olha e vê nele apenas um ser de aparência frágil e desprezível. Para aprofundar essa ideia, King utiliza de um texto muito bem escrito nos seus diálogos e recordatórios, isso faz com que a violência cause um impacto maior pela surpresa que ela gera no leitor. Aliás seria preferível nessa obra que a editora Marília Beatriz tivesse mantido os palavrões em vez vez de substituí-lo por símbolos e, caso fosse necessário, apenas sinalizasse uma classificação indicativa de idade. Isso porque uma das personagens se expressa com muitos palavrões para denotar uma característica da sua personalidade. Por isso o texto fica tão cheio desses símbolos que interfere na beleza do texto que é a naturalização das falas e pensamentos dos personagens e muito mais especificamente na citada.
Além disso, o Pinguim aproveita-se da sua aparência frágil pra ir conquistando a confiança de quem ele precisa, fazendo com que ele utilize disso para atingir as suas ambições enquanto todos esperam que ele seja apenas um capacho. Isso mostra que ele não se tornou um líder da máfia de Gotham à toa. Ainda que essa seja uma mini-série do Pinguim, era necessário um antagonista que aqui é o Batman. Na obra, Batman é mostrado como uma pessoa que adaptou-se a corrupção da cidade, inclusive para combater o crime, e portanto ele também toma decisões questionáveis moralmente.
É inevitável que leitores julguem a obra antes de lê-la, baseado em outras anteriores a essa. Os roteiros de Tom King funcionam melhor em histórias fechadas em mini-séries como essa, por isso não dá para esperar que essa história tenha os mesmos problemas da extensa fase em Batman escrita por ele. Quando se lida com uma mensal de um personagem como o Batman há diversas interferências editoriais sobre o tamanho dos arcos, as restrições de acontecimentos e o autor provavelmente tem uma limitação em inserir elementos narrativos na história da maneira como gostaria. A pico da ousadia do autor em Batman foi a morte do Alfred, ainda que ele tinha a proposta de trazer outras mudanças na cronologia do herói. Já em personagens com menos impacto, que são os que ele costuma usar mais, é possível que ele conduza a trama da maneira com a liberdade que ele precisa e a gente percebe isso lendo essa história.
Os desenhos realistas de Rafael de La Torre são excelentes por trazer bem nítida as expressões faciais dos personagens, que são tão importantes para essa história. Além disso ele estrutura as suas páginas de uma maneira em que coloca a violência, que é o elemento que gera mais surpresa na leitura. Por isso enquanto a gente vai acompanhando a trama sendo desenvolvida lentamente, do nada a agressão acontece ali no final da página, inserindo assim uma quebra de expectativa no leitor. Dentro da mini-série há o arco chamado Um Homem Sem Importância desenhado por outro artista, o servio Stevan Subic que possui um estilo bem diferente ao La Torre. Subic traz um traço inconfundível em que ele intensifica as características do personagem aproximando-se dos cartuns para explicitar as suas características. Essa história acontece no passado do Pinguim e aqui ele aparenta ser ainda mais desprezível a ponto de despertar pena no leitor.
O Pinguim é uma excelente mini-série que possibilita entender o porquê de ele ser um vilão tão perigoso. O fato dos autores saberem como manipular o leitor a partir das surpresas que a história traz é o grande destaque. Contudo longe de ser uma história típica de super-herói cheia de crimes e fugas, essa obra nos pega pela sutileza, ao desenvolver um personagem frágil e subserviente que de uma hora pra outra é um assassino manipulador. Essa mini-série é indicada inclusive para quem não vem acompanhando as histórias do Batman já que os elementos necessários da extensa continuidade do Universo DC para a compreensão da mesma estão na história.
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ATENÇÃO SPOILER APÓS A IMAGEM
Destaque da obra:
- morte dos filhos do Pinguim
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Batman - O Padrinho e o Casamento de Batman e Mulher-Gato
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