A infância é uma época suscetível a manipulações e o capitalismo sabe muito bem utilizar disso pra habituar as pessoas desde muito cedo ao consumismo exacerbado. Nesse documentário em quadrinhos descobrimos como isso ocorreu com uma ênfase maior nos anos 80 do Século XX através do colecionismo que encontrou como fonte de disseminação as animações para a TV. A Editora Mino publicou em setembro de 2023 essa obra.
O quadrinhista Box Brown demonstra uma habilidade invejável pela sua objetividade. Isso possibilita que a gente seja levado com facilidade por seus argumentos. O autor inicia a obra pela maneira como os países convenciam os seus cidadãos a apoiar guerras. Com um desenvolvimento racional muito bem desenvolvido, somos levados aos programas de TV e aos conchavos que foram realizados para estimular o consumo, algo que rendeu lucro bilionário.
A obra não se trata de uma mera divagação de um pensador mas possui toda uma bibliografia que traz as informações citadas nessa obra. É uma pena que as mesmas não tenham sido identificadas dentro da narrativa que facilitaria a identificação dos referenciais bibliográficos. O quadrinho traz algumas notas de rodapé explicativa da tradutora Dandara Palankof mas não traz nenhuma marcação das notas do autor que aparecem como extra, assim só ficamos sabendo das explicações que ele deixou após ler todo o quadrinho. Essa é uma obra fruto de uma pesquisa e o mais natural seria ter algum tipo de marcação que identificasse as notas e as referências bibliográficas, assim como normalmente são feito em pesquisa em prosa e em outros quadrinhos como os da Liv Strömquist.
O autor utiliza traços bem simples ao estilo de várias outras obras de referência do gênero. Contudo o conteúdo das imagens transmite uma mensagem à parte que complementa bem o texto dos recordatórios. Há um certo tom poético nas ironias e referências das imagens voltadas para quem conhece a obra citada que traz diversas lembranças.
Como um garoto que viveu nos anos 80, a leitura permite lembrar de diversas sensações e desejos que eu senti na época. Quando eu comecei a estudar inglês na escola eu fiquei decepcionado ao descobrir o significado do nome "He-Man", ainda menino me decepcionei em saber que significava apenas um "ele-homem" e não entendi a decisão por um nome tão ruim. A obra deixa a entender que o motivo da escolha seja por tocar diretamente nos ideais de masculinidade fazendo com que o título seja o mais simples justamente pra prender as crianças ao produto. Esse é apenas um dos exemplos entre as diversas animações que tiveram o seu roteiro pensado para como ter cada vez mais o que vender e as estratégias para suplantar as críticas como o conselho do He-Man ao final de cada episódio para transparecer que a animação também tinha uma proposta educativa.
O Efeito He-Man apesar de não trazer uma informação nova sobre manipulação para o consumismo, traz detalhes interessantes. Para mim o que causou mais impacto é a argumentação do autor que faz com que a gente se sinta enganado ao lembrar de tudo aquilo que a gente gostava e do nosso desejo em possuir brinquedos e demais produtos licenciados. É uma leitura acessível e convincente, fruto de uma pesquisa bem realizada e que soube ser transmitida de maneira convincente com texto e imagem.
Ficha técnica:
Publicado em: setembro de 2023
Licenciador: Brian Brown
Categoria: Graphic Novel
Gênero: Alternativo
Status: Edição única
Formato: (15 x 22 cm)
Colorido/Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 79,90
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