Os Invisíveis - She-Man

 

Capa da edição 13 de Os Invisíveis da Brainstore Editora

Essa é uma história de origem da personagem Lord Fanny e inicia no momento da transição dessa personagem que até então era um garoto. A história é contada ao mesmo tempo que a célula Invisível é perseguida e King Mob quer saber sobre o paradeiro de Jack Frost. O arco foi publicado pela primeira vez na revista Os Invisíveis números 13 a 15 publicados entre julho e setembro de 2003. A sua republicação mais recente saiu na segunda edição da edição de luxo de Os Invisíveis da Editora Panini publicada em setembro de 2024. 

Eu iniciei a releitura com baixas expectativas já que não trago boas lembranças da obra. O roteirista Grant Morrison justifica o porquê disso já no início do arco ao trazer elementos das culturas maias e astecas as quais não tenho conhecimento. Elas não são referências introdutórias, são elementos que requer algum conhecimento para compreendê-los. Contudo o desenvolvimento do arco mostra que o enredo inicial se sobrepõe e isso faz com que a história fique cada vez mais interessante. Uma outra característica importante é que ele utiliza na sua narrativa um exemplo de como o tempo não é linear, os acontecimentos ocorrem simultaneamente conforme ensina a avó mexicana da protagonista. Para diversos autores essa maneira de narrar uma história apenas serve para confundir, mas Morrison soube lidar com isso de forma que conseguisse trazer ao leitor uma tensão crescente de uma tragédia iminente a partir de como períodos diferentes do passado eram apresentados. 

Reler essa obra em 2024 me faz notar sobre a comparação entre o impacto de ter um personagem transsexual na década de 90 do Século XX e nos dias atuais. "Os Invisíveis" é marcado pelo complexo roteiro e por ser um quadrinho subversivo em várias características, inclusive na sua narrativa, mas os personagens LGBT da história não geravam um grande debate até porque tratar com respeito diversidade sexual é algo esperado para quadrinho adulto, uma compreensão que ocorreu durante muito tempo. Certamente hoje o ponto que atingiu a intolerância iria impedir diversas pessoas iniciar a leitura, além de deixar influenciadores com receio de comentar a temática da obra com temor da repercussão desnecessária que o personagem iria trazer. 

Se os autores tem o cuidado de pesquisar para trazer elementos culturais e de comportamento de maneira respeitosa, a obra dá aquela escorregada típica de estadunidense ou inglês representando o Carnaval brasileiro (a protagonista morou a maior parte da vida no Brasil). A desenhista Jill Thompson faz um carnaval de rua que mistura folião e apresentação de escola de samba no mesmo espaço com mulheres semi nuas aparecendo aleatoriamente num momento de grande vergonha alheia. Os desenhos também fazem menção ao estilo narrativo de clássicos dos quadrinhos em que eu consegui identificar alguns e os demais foram apontados nos textos introdutórios do tradutor Alexandre Mandarino, que foram publicados nas edições da Brainstore Editora. Há momentos que as referências não possuem justificativa alguma na narrativa e pioram a experiência da leitura. 

Os Invisíveis She-Man é um arco que inicia de maneira ruim com as referências típicas de Morrison mas vai sendo salvo aos poucos pelo forma como o enredo inicial se impõe. Além disso, os autores conseguem ter êxito no desafio que é trazer na narrativa tempos diferentes ocorrendo simultaneamente e ainda conseguirem com isso transmitir tensão na leitura. Essa é uma história que consegue sair de ruim pra ótima à medida que vai avançando. 

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