Justiceiro - O Rei dos Assassinos

 


Com o fortalecimento do fascismo em todo o mundo, alguns símbolos foram apropriados para atrair uma massa populacional a essa ideologia. Um desses símbolos foi o do Justiceiro que virou ídolo de assassinos ou de quem gostaria de se tornar um matador de "pessoas ruins" e ainda assim achar que com isso está a serviço de Jesus Cristo. A Marvel então decidiu resignificar o seu personagem a partir do símbolo que ele ostenta no peito. Nessa mini-série, Frank Castle abandona as armas de fogo e a substitui por uma espada ninja. A Editora Panini publicou essa história em quatro encadernados que saíram em fevereiro, junho, outubro de 2023 e em março de 2024. 

Frank Castle tornou-se um anti-herói após ver a sua família assassinada num parque. Durante décadas, essa foi a sua motivação para continuar punindo pessoas segundo o seu código de conduta. Por isso, a organização terrorista Tentáculo aproximou-se de Castle em busca de um líder à altura. Como ela já possuía alguma experiência com a ressurreição de pessoas, resolveu ressuscitar a falecida esposa de Castle em troca de ele tornar-se seu líder. O Tentáculo o treina para aperfeiçoar a habilidade com espadas para que ele seja um ninja tão eficaz quanto os seus comandados e tornar-se assim o Punho da Besta. É claro que Castle também tinha a intenção de voltar a organização para operações que atingisse o seu objetivo de matar quem fizesse o que ele considerava imperdoável mas o tempo mostrou que o Tentáculo tem a sua própria ideologia e vai tentar transformar Castle num deles e é nessa ar de cobra engolindo cobra que a trama se sucede. 

Eu sempre lidei com a violência dos quadrinhos de super-heróis com naturalidade. Para mim, aquelas histórias servem para poder manifestar a minha violência como fantasia, da mesma forma que durante séculos as pessoas se divertem com cenas violentas, há alguns anos sabíamos que aquilo não era um modelo a ser seguido, o uso da violência não irá fazer com que os problemas se resolvam. Contudo o Século XXI é marcado pelo comportamento da intolerância entre as pessoas, seja por grupos minoritários que vivem dentro do seu pais, seja por um estrangeiro que é visto como inferior em algum aspecto. Com isso, os personagens pop passaram a ser resignificados por grupos de pessoas intolerantes que encontraram compreensão no discuso da extrema-direita em vários países no mundo. Assim, a pílula vermelha de Matrix foi resignificada pra mostrar que "há uma guerra cultural em que os homens heterossexuais terá a sua masculinidade restringida e ficarão a mercê de mulheres. Em outra exemplo, encontramos pessoas, inclusive parte delas com bom discernimento, achando viável a solução de Thanos em eliminar metade da população da Terra (quais as pessoas da sua família que você quer ver morta? Porque isso inclui a metade de todas as pessoas que você ama!). Essa situação atinge também o Justiceiro que influencia inclusive policiais e militares a se sentirem satisfeitos em sair matando todos que não seguem aquilo que eles consideram ser o correto. 

Assim o roteirista Jason Aaron resolveu fechar algumas lacunas nas motivações do Justiceiro, dentre elas está na revolta em ver a família morta. Ela seria o suficiente pra que ele passasse uma vida inteira sendo um punidor? (Hoje eu vejo mais sentido se o nome dele tivesse sido traduzido assim, já que o que ele faz NÃO é justiça!) Para isso nesse arco ele preenche detalhes sobre a infância, adolescência e juventude de Frank Castle e de como a violência esteve relacionada a sua vida e de como a sua relação com Maria funcionava como um mecanismo que impedia toda aquela fúria se manifestar. Dessa forma Aaron não só desenvolve uma história com muita coerência ao personagem mas que traz um argumento tão bom que vale a pena ler cada recordatório, tamanha a qualidade do texto. Isso é claro mantendo a história com muita ação e violência típica desse personagem e levando em consideração a cronologia Marvel com relação a acontecimentos envolvendo o Justiceiro, o Tentáculo e Ares. 

Os desenhos digitais de Jesus Saiz conseguem transmitir as emoções dos personagens e traz momentos intensos durantes as sequências mais dramáticas da trama. Ele divide o traço com Paul Azaceta que faz os flashbacks utilizando de um traço bem simples porém marcante. Uma arte que se relaciona bem com o roteiro trazendo um ótimo resultado final. 

Justiceiro O Rei dos Assassinos é um excelente arco que soube como estabelecer a contradição desse personagem: um psicopata perigoso que passou a ser admirado como exemplo de herói. Se nos anos 10 a Marvel colecionou falhas com a iniciativa Totalmente Diferente Nova Marvel, que se propôs a redefinir seus principais personagens, aqui ela escolheu a melhor pessoa para mostrar o que o Justiceiro realmente é. Eu não acredito que os acontecimentos dessa história seja uma decisão permanente da Marvel, já que nos quadrinhos de super-heróis tudo tende a voltar ao que o público estava acostumado a ver, contudo pelo menos eu posso desfrutar de mais uma história bem contada do Justiceiro. 

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SPOILERS APÓS A IMAGEM

Destaque da obra: 

A morte do Justiceiro 

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