Terror no Inferno Verde

Capa de Terror no Inferno Verde

O carioca Flávio Colin foi um dos quadrinhistas mais influentes para a Nona Arte brasileira. Ele tinha uma proposta nacionalista de pesquisar o que seria autenticamente brasileiro, para isso ele buscou conhecer lendas e costumes de diversas regiões do país e através do seu marcante traço, conseguiu gerar um fascínio que influenciou o estilo de grandes artistas de sucesso. A Editora Pipoca e Nanquim publicou em setembro de 2021 uma coletânea de histórias do artista, sendo parte delas adaptações ou desenhos de histórias de outros roteiristas (como um conto do britânico Evelyn Waugh, do estadunidense Barrett Willoughby, adaptação de um poema de Braulio Tavares e a adaptação de uma história do Evangelho de Mateus 17,17 ; que também está em Marcos 9,23) e uma outra parte das histórias ele assina o desenho e o roteiro. 

Desde o final da década de 10 desse Século, o Brasil está sendo tomado por um modelo tosco de patriotismo cujo representante mais popular é o ex presidente Jair Bolsonaro, que sobe em palanques com a bandeira dos Estados Unidos e cheio de faixas com frases que utiliza de um inglês que sacrifica a gramática dessa língua. Na contramão disso, Flávio Colin refletia que os quadrinhos brasileiros precisavam ter modelos independentes dos quadrinhos estadunidenses e assim buscar uma via autêntica. A sua ideia de nacionalismo também não se encontrava com o nazismo já que queria mostrar a diferença cultural brasileira mas sem associar isso a uma ideia de superioridade dentre as demais culturas. 

É bem óbvio afirmar que Colin é fruto do seu tempo mas é preciso deixar claro o que eu quero dizer com isso. O Século XX, assim como os anteriores, tem o apagamento de ideias provindas de pessoas fora do perfil privilegiado. Por isso, na obra de Colin está presente o racismo contra os negros e os povos indígenas, o machismo intenso que objetifica a mulher a ponto de utilizar o estupro como situação de humor e acrescente a isso a homofobia. Esses elementos presentes nessa obra vem de uma época em que tudo isso era normalizado e, portanto, nada disso era um ponto a ser questionado. O leitor que vai conhecer o artista precisa contextualizar isso para enxergar na obra o comportamento de uma época. 

Página interna de Terror no Inferno Verde

Dentre as histórias, vou comentar três delas: A Terceira Arca, Terror no Inferno Verde e Fadas e Fados. 

"A Terceira Arca" é uma envolvente história sobre a procura por um tesouro há séculos escondido no Caribe. A história é permeada por reviravoltas e mistérios do começo ao fim. A narrativa é empolgante e não poupa o leitor de surpresas. 

"Terror no Inferno Verde" é a história que dá título a obra, ela mostra um grupo de pessoas brancas que faz uma expedição até o meio da selva amazônica, com eles só dinheiro e a sua ganância para ganhar mais dinheiro; mal sabiam que a selva tem os seus próprios meios de se defender de invasores. Essa é uma típica história de terror que atinge os medos estereotipados de pessoas brancas sobre a vida em meio a Floresta. A história tem uma narrativa rápida e por isso os elementos que geram surpresa não funcionam muito bem, contudo ela traz aquela satisfação de ver explorador da natureza se dando mal. 

Página interna de Terror no Inferno Verde

Fadas e Fados é uma história erótica que parodia o fato de um príncipe salvar uma princesa em perigo, isso carregado com fantasia erótica. Dentre os gêneros que o autor utiliza, é o terror o mais interessante, principalmente quando ele escreve roteiros baseados em lendas brasileiras. Já o humor que ele utiliza nessa e em outras historias parece agradar apenas as pessoas da época. Isso mostra parte do quão diverso é o conteúdo dessa obra, tanto na qualidade do roteiro quanto do traço. 

Apesar de ter um excelente acabamento gráfico essa edição não traz as referências de onde foi publicada originalmente cada uma das histórias, apenas algumas delas trazem essa informação, o motivo disso poderia constar no editorial. Aliás é preciso ressaltar que o material extra ficou excelente com textos com informações históricas e outros com homenagens de artistas e familiares. Para mim, o que eu não consigo gostar é das cores escolhidas para a capa, mesmo compreendendo que elas fazem alusão as cores básicas que eram as disponíveis na época. A arte de Colin é muito melhor em preto e branco e talvez a arte da capa combinasse melhor se fosse sem cores. 

Terror no Inferno Verde é uma coletânea feita para os apreciadores e pesquisadores de quadrinhos nacional e principalmente para quem se divertiu lendo os quadrinhos de Flávio Colin durante a segunda metade do Século XX, vale enfatizar que esse é uma obra destinada a um público adulto. Talvez pelo fato de eu só ter vindo conhecer o autor há pouco, eu não tenha me divertido na grande maioria das histórias, contudo é inegável que o traço do autor vale cada página tanto no seu estilo característico quanto nos demais que ele utiliza nessa obra. Colin merece estar nas coleções de quem aprecia o quadrinho nacional tanto para compreender a influência que ele exerce em grandes artistas quanto para conhecer a sua proposta de uma valorização realmente nacionalista. 

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Ficha técnica: 

Publicado em: setembro de 2021

Editora: Pipoca & Nanquim
Licenciador: Flavio Colin
Categoria: Álbum de Luxo
Gênero: Terror
Status: Edição única
Número de páginas: 220
Formato: (21 x 28 cm)
Colorido/Preto e branco/Capa dura

Preço de capa: R$ 89,90

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