Capitão América - Inverno na América


 Em 2018 chegava ao fim o Império Secreto. Nesse período, o Capitão América apresentou-se como o líder da Hidra, contudo descobriu-se que era um farsante quem estava utilizando o uniforme. Steve Rogers está de volta e agora sem a sua credibilidade que durante tantos anos o tornava símbolo de um país e dos ideais de liberdade. Em 2019, a editora Panini lançou uma nova revista bimestral do personagem e os primeiros quatro números trouxe o arco Inverno na América. 

A Hidra havia falhado no seu plano de conquista mas o país estava dividido entre os que defendem e os que odeiam a organização terrorista. Para Steve Rogers, essa disputa em si já é uma grande derrota, como uma nação pode estar dividida sobre apoiar nazistas? Isso deixa em dúvidas inclusive sobre o quanto vale a pena defender um povo que se coloca dessa forma. A sua dor é ainda mais profunda quando ele vê que a sociedade ficou moralmente enfraquecida por se sentir traída pelo seu ídolo. Em quem ela pode confiar? É por isso que o Sentinela da Liberdade é impedido pelo governo de atuar. Aproveitando-se dessa situação, criminosos vindo da Rússia manipulam a população pra controlar a organização Elite do Poder, soldados tatuados com a bandeira estadunidense que atuam para manter a paz. Isso é só o indício de uma organização criminosa que é constituída por pessoas muito influentes tanto no meio empresarial quanto no político. 

O roteirista Ta-Nehisi Coates traz uma trama que lembra várias outras. Quem acompanha o personagem sabe listar os diversos momentos em que ele a sua imagem foi manipulada para ser visto como um vilão e por isso ele teve que lutar contra o governo dos EUA. O diferencial dessa história está no fato de que parte significativa da população está ao lado da Hidra. Isso não ocorre à toa, os terroristas ofereceram ao país emprego, educação e uma melhoria de vida que há tempos não se via. Nesse momento, o horror do nazismo fica distante e é substituído pelo pragmatismo, uma forma eficiente para fazer com que governos corruptos e autoritários conquiste o apoio da população. 

O que mais me desagrada no roteiro são os diálogos curtos e diretos. Toda a construção do texto parece ser voltado para jovens leitores. Em poucos momentos podemos ver a habilidade de Coates na escrita. Se o roteiro não permite aprofundar-se nas ideias, encontrarmos um roteiro com frases de impacto que nos tira da leitura e nos faz refletir sobre a situação de intolerância na qual estamos vivendo no mundo real com valores deturpados esbravejados como se fossem "a grande verdade". 



A proposta da revista é bem construídas para atrair jovens leitores que acabaram de ver Vingadores Ultimato. Além do Steve Rogers encontramos na história o Soldado Invernal como parceiro do Capitão, além de uma Sharon Cartes envelhecida que lembra a Peggy Carter do filme. Essa é a típica leitura rápida que pode ser lida em qualquer lugar, ideal para jovens leitores que se informam por manchetes de reportagens e acha três frases "um texto muito longo", ou seja, perfeito pra geração Twitter. 

Se o roteiro tem uma qualidade questionável, o mesmo não pode ser dito dos desenhos. Leinil Francis Yu é um artista com um trabalho excelente em vários aspectos, no seu traço detalhado e realista, no movimento dos personagens e principalmente na narrativa. Sobre isso eu destaco o momento em que o Capitão América enfrenta o Treinador, a sequência mostra a habilidade de luta em páginas quase sem diálogos mas com uma excelente sequência de movimentos. 

Capitão América Inverno na América apesar de ser uma história com uma linguagem direta demais traz um roteiro bem conectado com a realidade atual. É uma HQ indicada para novos leitores que gostariam de acompanhar quadrinhos do personagem mas não sabe por onde começar. É bem verdade que é preciso saber algumas informações anteriores mas nada que uma pesquisa num texto ou resenha não possa suprir. Para mim, foi uma leitura divertida mesmo não sendo um enredo original. 

SPOILERS APÓS A IMAGEM


Destaque da obra:

General Rosa é dado como morto


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