Garimpando Financiamento Coletivo - O Pesadelo de Obi

 


A Editora Skript em 2020 decide sair do padrão comum de publicação de quadrinhos internacionais e trouxe o gibi Fala, Maria do mexicano Bef, seguindo essa ideia a editora traz em 2021 a sua segunda publicação de países do continente africano. O Pesadelo de Obi tem a peculiaridade de ter uma importância mundial pela repercussão que esse gibi ganhou e pelos tristes fatos que um dos autores teve que passar. Nesse momento está ocorrendo uma campanha de financiamento coletivo e que vai até o dia 28 de junho de 2021, independente do valor arrecadado a editora garante o envio a todos os apoiadores, o leitor que apoiar vai poder contar com 30% de desconto. Para se ter uma ideia, a campanha que começou no dia 28 de fevereiro já atingiu 100% da sua meta até o momento em que eu escrevo esse texto.

A Guiné Equatorial é um país que vive um regime de ditadura desde 1979. Um grupo de artistas do país resolveu criar uma sátira e imaginar como seria se o presidente vivesse como um cidadão comum do país. O regime continua firme até hoje e por isso os roteiristas Chino e Tenso Tenso usam de pseudônimos para assinar a obra. O desenhista Ramón Esolo Ebalé foi preso quando retornou ao seu país, após passar um tempo no Paraguai, com a covardia que é peculiar das ditaduras, o motivo da prisão foi falsas acusações fiscais para evitar reconhecer o incômodo que a obra trouxe ao governo. 

Essa é uma situação muito próxima ao que acontece no Brasil em termos de perseguição aos críticos do governo, quando isso pode se tornar uma realidade já que o país preferiu eleger alguém que ficou conhecido por debochar da democracia. Os quadrinhos é a manifestação artística que mais incomoda regimes ditatoriais pela reflexão que a linguagem gera e pela facilidade em alcançar um número significativo de pessoas. Não é a toa que há poucos anos o governo decidiu colocar a Agência Brasileira de Inteligência pra investigar o artista Aroeira por causa de uma charge .

A prisão de Ebalé que ocorreu em 2017 gerou uma mobilização de grandes artistas pelo mundo (dentre eles Neil Gaiman que escreveu uma carta de apoio) mas que a mídia especializada não emitiu nenhuma nota. Há uma ideia consciente e inconsciente de que aquilo que ocorre em países fora dos EUA e Europa não vira motivo de menção, é como se qualquer crime ou tragédia fosse algo corriqueiro naquelas regiões, uma atitude típica de país colonizado que enxerga apenas o que ocorre na sua metrópole.

O Pesadelo de Obi foi premiado com o prêmio Coulles au cul, durante o Angoulleme de 2019 em valorização da coragem dos ilustradores da imprensa. A graphic novel foi publicada além da Guiné Equatorial, nos EUA, França, Espanha e Portugal. Essa edição será traduzida e editada pelo professor Márcio Fernandes meste em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisador interdisciplinar em estudos africanos e afro-brasileiros.  Além  de uma história em quadrinho, a hq é um documento histórico de uma obra de resistência. 

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