Não há nada mais brega do que fazer as listas dos melhores do ano mas como eu não sou o rei da quebra de paradigmas, eu me divirto e sofro em fazer a minha. Antes de eu vir a ela, é comum eu esclarecer algo e quem já leu alguma lista minha, já sabe. Essa lista toma como base os quadrinhos que eu li durante 2021, se a sua obra querida não tá aqui, é porque não li! Como isso é um blog, os critérios sobre a ordem é puramente afetivo, é a forma que a obra mexe comigo que galga os lugares mais altos e eu não me importo com critérios técnicos. Inicialmente eu cito por ordem decrescente as 10 melhores do ano e um breve comentário, a maioria delas terá links caso você queira ler um texto com mais detalhes. Por fim eu listo 10 Menções Honrosas, são quadrinhos lançados em anos anteriores mas que eu só fui lê esse ano.
10. Skyward Volume 3 (Devir) - esse é um quadrinho muito delícia, ele não tem nada de complicado, é diversão pura, isso associado a um autor que sabe exatamente onde quer chegar e amarra grande parte das pontas do roteiro, só me encanta!
9. Orixás Os Nove Eguns (independente) - Alex Mir faz um trabalho espetacular com histórias curtas inspirado em religião de matriz africana, além de um ótimo roteiro, ele convida grandes desenhistas e coloristas para enriquecer o seu roteiro.
8. Lanterna Verde 9 (Panini) - edição de homenagem aos 80 anos do personagem que você pode ler em separado. São histórias curtas feitas para qualquer tipo de leitor mas que dá um calor a mais no coração se for lido por quem conhece a trajetória do personagem. Leia antes que resolvam colocar uma capa dura desnecessária nessa HQ.
7. O Retorno do Messias - Versículo 1 (Comix Zone) - fazer humor não é pra qualquer um, fazer humor com temática religiosa é ainda mais difícil. Engana-se quem pensa que o quadrinho é um deboche ao cristianismo, os ensinamentos realmente importantes estão na história de uma maneira que nos leva a fazer bons questionamentos. Um ótimo quadrinho, pena que escorregue no seu final.
6. Black Science Volume 3 (Devir) - eu já estava me divertindo com essa ficção científica simplesmente por não errar em abordar realidades alternativas, contudo essa edição aprofunda a complexidade dos seus personagens além de incluir assuntos de base epistemológicas. A surpresa que isso me trouxe me motivou q colocar essa obra aqui.
5. A Saga Completa de Martha Washington (Devir) - a editora compila todo o material lançado num único volume. Como no Brasil só fora lançado a primeira mini-série, a maior parte desse material é inédito. O futuro imaginado por Frank Miller chega a assustar principalmente quando a gente vê que ele adivinhou (a história se passa nos primeiros anos do Século XXI e foi concebida nos anos 80).
4. Um Grande Acordo Nacional (Elefante) - a história recente do Brasil é uma tragédia e o Golpe de 16 contribuiu muito para tudo isso que está aí. Com um excelente roteiro, a obra faz uma reportagem em quadrinhos que procura refazer os passos que levaram ao impeachment e me fizeram reviver várias das emoções entre os eventos da época retratados aqui.
3. O Pesadelo de Obi (Skript) - os quadrinhos africanos voltaram chutando a porta com a sua qualidade. Essa é uma obra que tem uma importância histórica de ter incomodado tanto um ditador que isso levou a prisão de um dos autores, além de ser uma denúncia bem construídas das mazelas de um povo, ainda por cima proporcionar o prazer de ver um canalha sofrendo o que merece (pelo menos na ficção).
2. Gyo (Devir) - sério qual é o problema de Junji Ito? Eu não sei como uma pessoa tira da mente coisas tão terríveis de coisas banais! O traço do autor faz com que a gente fique tão imerso que parece que a gente tá sentindo a catinga de um galpão cheio de víscera de peixe. É essa a essência do terror, o saco, o medo e a tensão. A obra tem características tão específicas que dificilmente terá o mesmo efeito se for adaptado para outras mídias.
1. Adam Wild (Saicã) - a obra traz um mix de muita coisa boa, ótimos roteiros, alguns detalhes históricos do continente africano na época em que foi invadido pelos europeus para escravizar sua população e o melhor: ver escravista levando bala ou uma taca segura de uma líder guerreira! Eu quase não comprei pelo clichê do "branco salvador no continente africano", um tipo de narrativa que infelizmente fez parte da minha vida de tal forma que está presente em grande parte dessa lista, por isso pelo conjunto de qualidades desse primeiro número ela recebe a coroa do blog em 2021.
Se você pensou que a minha lista acabou, pensou errado! Segue agora algumas Menções Honrosas, quadrinhos publicados em outros anos, eles são citados de maneira aleatória mas o que há em comum é o quanto impactaram em mim.
- Jeanine (Veneta) - a história de uma prostituta cujo roteiro trata muito pouco da sexualidade em si e mais da pessoa interessante que ela é, uma abordagem que, por fugir do óbvio, merece destaque.
- Júlia 8 (Mythos) - eu gosto do Giancarlo Berardi em como ele constrói histórias de mistérios e como ele conduz a sua solução incluindo uma pitada de psicanálise. Contudo ele vacila em questões de representatividade. Entretanto essa é uma história com indígenas estadunidenses que eu gostei muito e parece ter sido bem pesquisada.
- Bone 3 (Todavia) - Finalmente acabei de ler essa trilogia que salvou os anos 90 das trevas e demorou demais a ganhar o merecido reconhecimento no Brasil. Essa é uma história pra ser lido junto com pessoas de qualquer idade, apesar do número de páginas tudo é tão envolvente que é complicado parar de ler. Isso sem mencionar na edição macia com uma capa cartonada com orelhas que só acrescenta prazer a experiência de leitura.
- Rugas (Devir) - os meus cabelos brancos me fazem pensar sobre como será envelhecer. Além disso a história aborda o drama do Mal de Alzheimer de maneira muito tocante. Dê seus pulos e se permita sentir as emoções dessa leitura.
- O Azul Indiferente do Céu (Mino) - a sutileza e a simplicidade de um roteiro me encanta pela dificuldade que é fazer isso com qualidade. Shiko ainda por cima utiliza de onomatopéias para relacionar a violência com a denúncia jornalística num quadrinho brilhante!
- Primevera em Tchernóbil (Geektopia) - um documentário em quadrinhos completo nos diversos elementos da nona arte. Desenhos, cores e roteiro constroem uma narrativa excelente sobre a visita a um local arrasado por um acidente radioativo décadas depois.
- Hulk A Saga da Encruzilhada - eu sei esse quadrinho foi lançado esse ano, porém é um encadernado de luxo de histórias publicadas nos anos 80 e por isso não trato como lançamento. É um conjunto de histórias com várias delas tratando o personagem além de um "herói que bate em vilão". Pra quem monta Gibiteca apenas com o melhor de cada herói, pode pegar essa sem medo.
- Mônica Força (Panini) - essa Graphic MSP me pegou desprevenido! O traço fofinho deu mais intensidade a ingenuidade da criança que está situada no meio de problemas de adultos e mostrando a sua impotência quanto a isso.
- A Origem do Mundo (Cia das Letras) - uma pesquisa em quadrinhos bem feita não precisa ser chata. A autora traz diversas informações relevantes com todas as referências, além de me fazer rir e pensar em várias questões que o meu privilégio de macho hetero não conseguia enxergar.
- Silvestre (Darkside) - confesso que entendi pouco dessa leitura, por isso nem escrevi nada a respeito, vou esperar reler pra ver se consigo escrever uma resenha. E por que ela está nessa lista então? Porque a obra me encanta com a forma que o autor explora vários elementos dos quadrinhos a começar pela linguagem escrita, ele se expressa com recursos que ou eu nunca vi ou eu vi muito pouco, ele possui um excelente traço e explora essa habilidade até nas sarjetas dos seus quadrinhos. Vale a pena ter na coleção!
O ano de 2021 acabou e infelizmente a pandemia (ou seria as pandemias?) não. O país se afunda numa crise financeira e pelo menos a arte nos ajuda a suportar tudo isso. Infelizmente os quadrinhos estão se afastando cada vez mais do público geral mas quem gosta dessa mídia tem muitas possibilidades de diversão. Que 2021 permaneça trazendo bons quadrinhos e que a gente volte a encontrar na democracia esperança para um futuro melhor.
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