52 - As Semanas que Redefiniram o Universo DC

 



ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS


Com o fim da saga Crise Infinita é tempo de contar os mortos e refletir sobre os erros cometidos que contribuiram para o evento. Por isso Mulher-Maravilha, Superman e Batman decidiram se afastar da sua conduta como heróis por um tempo. Enquanto as revistas DC trazia o selo "1 Ano Depois" (sim, eu utilizo essa expressão para escrever os textos de aniversário do blog) e mostrava os personagens após um ano da Crise Infinita, essa mini-série traz os detalhes de como foi esse primeiro ano. Essa revista foi publicada em 13 revistas mensais pela Editora Panini entre 2007 e 2008 e esse texto traz os acontecimentos mais importante das suas 52 partes. 

O gibi tem uma proposta ousada: uma máxi série (52 edições estadunidense e 13 encadernados brasileiros) sem Superman, Batman e Mulher-Maravilha. Esse mundo sem os melhores do mundo e sem uma Liga da Justiça era um prato cheio para herói picareta como o Gladiador Dourado apresentar-se como o herói de Metrópoles e um grupo terrorista como a Intergangue se expandir mundo afora. Sem um grupo pra policiar o mundo através dos ditames dos heróis estadunidenses, o Adão Negro apresenta-se como um líder de coalizão Afro-Asiática para proteger os territórios com os seus próprios heróis. 

52 traz várias frentes narrativas que não necessariamente tinha a intenção de vir a encontrar-se num determinado ponto. Dentre os vários enredos eu destaco a situação do Questão que treina a policial Renee Montoya, sem que ela soubesse, para substituí-lo já que ele estava perecendo de um câncer incurável. Montoya é uma personagem coadjuvante das histórias do Batman e que vinha ganhando destaque. Uma outra situação de destaque é a do Homem-Elástico. Desde Crise de Identidade quando a sua mulher foi assassinada, ele havia ficado numa situação indefinida. Nessa série, ele incorformado com a sua perda é atraído pelo Culto a Conner, uma seita que pretendia ressuscitar o Superboy. Ainda que abalado emocionalmente, o herói não havia perdido a sua habilidade de detetive e, ao mesmo tempo em que é atraído pela ideia de ressurreição, ele investiga e descobre toda a farsa. Assim, ele acaba aprisionando os responsáveis, o demônio Neron e Félix Fausto mas não antes de ser morto pelo demônio. 



O maior destaque dessa história certamente é o Adão Negro. Um personagem difícil de definir como herói, anti-herói ou vilão. Nessa hq ele passa por essas três denominações. Como um líder de moral duvidosa, ele arranca membros de pessoas em público no seu país o Kahndaq. Contudo em vez de gerar repulsa, ele é cada vez mais admirado. Seria uma forma errada dos autores enxergarem a população do Norte da África? Eu me sinto até mal em questionar isso pela vergonha de ser brasileiro e ter como presidente uma pessoa de uma moral tão deturpada como Jair Bolsonaro e ver o quanto há uma adoração messiânica com as suas ideias criminosas. 

Adão Negro nesse gibi descobre o amor de Ísis e esse sentimento permite que ele torne-se um líder ponderado que pretende melhorar realmente a vida da população, algo com que os heróis ocidentais pouco se importam. Para completar a Família Marvel Negra, o irmão de Ísis, Osíris recebeu poderes. Contudo, a felicidade de Adão Negro é destruída com o assassinato da sua família. A sua fúria atinge níveis tão acentuados que ele provoca uma Guerra Mundial. 

Quem assina os roteiros são os maiores roteiristas da editora naquele momento: Geoff Johns, Grant Morrison, Greg Rucka e Mark Waid. Toda a ousadia do enredo é recompensada com uma excelente história. Ainda que há umas barrigadas ao final, o gibi não perde o mérito de conseguir envolver muito do Universo DC sem que houvesse a presença de Superman, Batman e Mulher-Maravilha diretamente. Para melhorar, o final da série define que a partir dali o Universo DC passaria a possuir 52 universos paralelos. O multiverso que já havia retornado agora estava definido em número!



Com relação aos desenhos a lista é vasta (você tem 10 minutos?), vamos lá: os esboços de toda a série foi feita por Keith Giffen conhecido nós anos 90 por ser o artista que trouxe as melhores expressões faciais nós anos 90. Os demais desenhistas são: o paraense Joe Bennett, Chris Batista, Lashley, Draxhall, o paraense Eddy Barrows, Shawn Moll, Todd Nauch, Jack Jadson, Marlo Alquiza, Dale Eaglesham, Patrick Olliffe, Drew Johnson, Phil Jimenez, o paulista Joe Prado, Tom Derenick, o paraense Ruy José, Dan Jurgens, Jamal Igle, Andy Smith, Giuseppe Camuncoli, Darick Robertson, Justiniano, Mike McKone.  Os desenhos inicialmente são muito bons com boa parte das histórias desenhadas por Joe Bennett, contudo ao final, toda a mistura de estilos não funciona tão bem e nas últimas histórias o traço deixa a desejar. 

52 é uma excelente máxi série com um enredo que ousa não envolver os maiores heróis da DC mas ainda assim mostra que é possível construir uma história que abranja vários aspectos do Universo e estrelado por personagens coadjuvantes. É uma história voltada para quem já conhece a DC e acompanhou as "Crises" e também um ótimo ponto de partida para compreender o quão complexo é o Adão Negro. Essa revista é muito violenta e por isso não dá pra transpor pro cinema, contudo se o filme explorar o personagem da forma como é feito nesse quadrinho, é possível fazer uma excelente história que vai além do heroísmo típico. Se Crise Infinita não conseguiu lidar com os diversos enredos, 52 contudo teve espaço e talento de sobra pra isso.  


Destaques da obra:

- morte do Homem-Elástico

- apresentada a nova Questão

- Universo DC definido com 52 Terras paralelas


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