Marighella foi um militante político filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) que tem um histórico de enfrentamento aos governos autoritários de antes e durante a vergonhosa ditadura militar brasileira. A Editora Draco publicou em 2020 um gibi de contos baseados na vida real dessa figura histórica. O livro contou com uma campanha no site de financiameto coletivo Catarse e atingiu quase sete vezes a mais o valor necessário para a sua publicação.
O livro é dividido em três contos que ocorrem em três épocas distintas. O primeiro dele ocorre ainda durante o governo de Getúlio Vargas quando o jovem Marighella é preso por carregar um pacote de jornais. Parece um absurdo isso, mas essas situações ocorrem com uma certa frequência com quem tem a ousadia de pensar diferente do que uma classe determina como "correto". Para termos uma ideia do quanto isso é atual, há poucos anos a prisão de um jovem foi confirmada por ter sido considerado um crime ele carregar um detergente durante uma manifestação. Ele havia sido preso anteriormente por "tráfico de drogas". A quantidade apreendida do "traficante"? Menos de 10 g! Assim a gente percebe que os anos passam mas algumas situações permanecem a mesma e o discernimento ou empatia é influenciado de acordo com a cor, classe social ou ideologia da pessoa.
O gibi conta com o roteiro do também editor Rogério Faria, que não teve a intenção de escrever uma biografia do militante. A proposta é mostrar três situações envolvendo Marighella que acaba virando um personagem e conta com situações reais e imaginárias para passar a sua ideia principal que é o espírito da resistência que acaba sendo o tema principal da obra além do seu aspecto histórico.
Os desenhos são de Ricardo Sousa que utiliza, na maior parte do gibi, um traço simples e claro que lembra histórias infantis. Eu acho uma ótima escolha já que o gibi traz cenas horríveis de tortura e que, se o traço fosse bem detalhado, eu acharia bem desagradável. Aproveito para deixar esse aviso: se você não está bem emocionalmente evite ler esse livro porque algumas imagens podem lhe afetar. O outro desenhista é o premiado Jefferson Costa, artista paulista que ganhou o Prêmio Jabuti por Jeremias Pele. Ele faz uma mini-história com fundo negro e que acentua bem os personagens, intensificando a sensação de movimento que a história enfatiza. O álbum conta com prefácio de Cynara Meneses a jornalista do site Socialista Morena e posfácio do jornalista Luis Nassif.
Marighella #Livre é uma coletânea de contos em quadrinhos que passa muito clara a mensagem de resistência de uma figura histórica que sofreu de diversas maneiras mas continuou a lutar por seus ideais enquanto esteve vivo mesmo quando teve que enfrentar um Estado munido de um exército, o qual tinha o poder de agir da forma que queria sem ser responsabilizado. Esse é um gibi curto que enfatiza momentos e que diverte além de fazer um registro de um momento histórico que o brasileiro insiste em esquecer ou fazer uma irresponsável revisão sem provas. A Editora Draco possibilitou que Marighella virasse um personagem e tem a oportunidade de trazer demais histórias dele para leitores que necessitam conhecer mais sobre esse período nebuloso da nossa história.
Ficha técnica:
Publicado em: fevereiro de 2020
Formato: (17 x 24,5 cm)
Preto e branco/Lombada quadrada com pequenas orelhas
Preço de capa: R$ 25,00
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