O
ano de 2018 está sendo terrível para a produção de quadrinhos, com o fechamento
de livrarias e bancas de jornais, redução no número de publicações, aumento do
preço de capa de diversos títulos, editoras fechando as portas ... Esse
pesadelo apareceu como uma bola de neve e aparenta crescer ainda mais. Contudo
ainda há um público consumidor e que mantém o mercado vivo ainda que retraído.
Por isso vale a reflexão: será que o mercado que poderia se associar aos
quadrinhos percebe a demanda ali existente?
Fazer
quadrinhos no Brasil complica por ter um público muito restrito, uma boa parte
dele consome apenas o material mais conhecido como os heróis da Marvel e DC, os
mangás que viraram animes de sucesso ou os quadrinhos infantis da Turma da
Mônica. Todavia, ainda que em número menor, há um público que consomem gibis
fora do mainstream, e é ele que mantém o significativo número de editoras e
apóia diversos projetos de autores independentes. Acredite, essas pessoas
poderiam consumir bem mais se fossem informadas sobre o que está sendo
produzido. Nesse ponto, as editoras precisam investir na divulgação dos seus
produtos na proporção do seu alcance financeiro. Os produtores de conteúdo
trabalham apenas por prazer para divulgar material, por que não apoiar sites e
influenciadores? Sites e canais de editoras de livros são bem desinteressantes
de se ver mesmo quando possui um belo catálogo, por que não contratar pessoas
que tem bons textos ou se expressam com muita facilidade em frente as câmeras para
a divulgação da empresa?
Os
artistas independentes certamente não têm dinheiro para financiar sites e muito
menos fazem uma tiragem de livros para mandar para diversos influenciadores.
Porém mesmo quando uma pessoa e site divulga um livro, ainda há um número
significativo de artistas que nem sequer clica um “gostei” quando são marcados,
um desprezo ao reconhecimento e publicidade gratuita que poderia levar o seu
trabalho para um maior número de pessoas sem custo algum. Atualmente eu passei
a consumir bem mais quadrinhos fora do universo dos heróis, isso teve uma
grande influência de youtubers e sites nerds. Imagine que todo um material de
divulgação é feito utilizando um tempo substancial e sem remuneração alguma.
Alguns dos textos que eu escrevo, eu levo uma manhã inteira na produção,
procura de imagens, revisão, publicação e divulgação. É muito gratificante
quando vejo pessoas divulgando o meu conteúdo agora imagine para um artista que
trabalhou meses ou anos num projeto... vale e muito para o influenciador ter o
reconhecimento do artista na divulgação do seu trabalho.
Assim como
qualquer outro público, o leitor de histórias em quadrinho também consome
livros, filmes, roupas, pacotes de dados e aparelhos eletrônicos entre outras
coisas. Porém dificilmente se vê empresas associando o seu produto a HQs ou aos
seus produtores de conteúdos. Um exemplo é o site Universo Hq que desde 2000
tem a credibilidade de ser o melhor site de quadrinhos no Brasil mas que com
exceção da Amazon, não se vê propagandas no site. Você leitor pode fazer uma
comparação rápida: entre em qualquer site ou blog de notícias falsas que você
inevitavelmente recebe no grupo de amigos ou da família no whastapp, vejam
quantos anunciantes tem essa página. As grandes empresas talvez nem saiba o
quanto a imagem da empresa está sendo vinculada em sites que afirmam que vacina
provoca autismo e o pior ... talvez nem se importem! De todas as reclamações
feitas a Amazon é preciso reconhecer o fato da multinacional saber investir em
propaganda voltada para o seu nicho.
O
público de quadrinhos tem um número que está longe de atingir o dos curiosos que querem saber a “notícia
bombástica do dia”, porém é um publico fiel àquele conteúdo direcionado. Esses
consumidores têm um gosto peculiar que diversas empresas poderiam aproveitar. Para
ficar mais claro, todo colecionador de quadrinhos armazena seus livros e
revistas em algum lugar, agora imagine que um, cinco ou dez mil desses
consumidores costumeiramente acessam sites, canais no YouTube ou perfis no
Instagram. Deu para perceber o tamanho da demanda potencial para a compra de
estantes? Eu conheço apenas uma marca de estantes que faz produtos destinados a
esse público, isso porque eu assisto UM canal que a empresa financia. Certamente
essa não é a única empresa no Brasil que faz móveis, mas eu não saberia citar
nenhuma outra. Esse é apenas um produto que um colecionador teria interesse.
Se
você for pra qualquer evento de quadrinhos no país, você vai se deparar com
diversos produtos para esse público: action figures, jogos de tabuleiro,
sacolas e caixas para guardar quadrinhos, roupas, empresas destinadas a fazer
fantasias ... Acabou a feira, ninguém sabe onde encontrar essas empresas,
simplesmente porque essas marcas não estão associadas ao seu produto de
referência: as histórias em quadrinhos. Os colecionadores ficam a mercê de
informações que se obtém de amigos ou demais colecionadores dos grupos nos
quais eles fazem parte (foi num deles que eu descobri que uma rede de lojas
vende estantes bem mais baratas).
Se
empresas que têm produtos específicos para leitores de quadrinhos não se fazem
conhecer o que dirá dos bens de consumo indiretos. Como citado no início do
texto, o leitor de quadrinho se alimenta, se movimenta, consome bugigangas eletrônicas
e precisa de pacotes de dados de internet; mas quem se comunica com esse
público? Essa é uma demanda em potencial que está sendo desperdiçada
diariamente por uma falta de visão dos setores de marketing e propaganda.
Não
dá pra ignorar a imensa crise que se abateu no mercado editorial, porém é
desnecessário ser refém dela. Os colecionadores estão espalhados por todo o
país e assim que a sua situação financeira melhorar, eles voltarão a consumir.
É preciso que informação sobre quadrinhos seja alimentada por quem tem
interesse e as empresas enxerguem que o leitor de quadrinhos não mora dentro de
um depósito escuro cheio de quadrinhos e se alimenta de mofo. Abram o olho e
percebam que é na internet que se trafega informações e, com um custo menor do
que se imagina, você poderá se comunicar
com o seu público através do apoio de quem já produz conteúdo e tem
credibilidade.
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