O preço é um desafio


Nas ultimas semanas a Panini anunciou o encadernado da tão esperada revista Escalpo de Jason Aaron, porém mais comentado do que o anúncio, é o valor do livro que, segundo se comenta, será R$ 120,00. Um valor exorbitante para um encadernado de 11 revistas com capa dura. O meu maior temor é que isso se torne uma tendência.

Após o plano real, eu estava no início da minha coleção de quadrinhos, as revistas eram de 84 páginas com um mix de três revistas com personagens diferentes e custava R$ 1,45. O tamanho era pequeno, o papel era jornal e nem se pensava em capa dura, mesmo as edições especiais. Uma realidade que durou até o ano 2000,quando a Editora Abril lançou as edições Premium, um papel especial, com lombada e 160 páginas de história num mix de varios personagens, cada uma delas custava R$ 9,90; o que na época era um preço audacioso. Em 2002, a Editora Panini entra no mercado de quadrinhos e salva o que estava fadado ao fracasso. O mercado só expandiu com o aumento de títulos pela Panini e pelas outras editoras. Com o sucesso dos filmes de heróis, a leitura de quadrinhos passa a ganhar o seu glamour e os nerds deixaram de ser esquisitos para serem referência.

Atualmente percebe-se um menor número de revistas mensais em comparação aos encadernados. Quadrinhos têm um formato de livro pra embelezar uma estante. Isso se deu devido a grande parte dos leitores dos quadrinhos serem os mesmos das décadas de 80 e 90. Eles têm um poder aquisitivo melhor e pode adquirir edições com um acabamento melhor. Para a indústria dos quadrinhos isso é ótimo! Nunca houve tantas editoras, trazendo tanto material para bancas, livrarias (uma novidade do século XXI) e nas lojas virtuais. O crescimento de material gringo possibilitou que quadrinhos nacionais finalmente tivessem o seu lugar, ainda tímido, porém presente.

Os encadernados trazem histórias completas e a vantagem de estarem disponível nas lojas virtuais e livrarias enquanto durar o estoque. Há uma tendência nos encadernados oferecerem um papel melhor, capa dura e material extra. Isso encarece necessariamente o produto, criando nichos de mercado. A Editora Pipoca e Nanquim, por exemplo, traz material inédito no Brasil de várias países do mundo, lembro de um vídeo de um dos editores falando da dificuldade em conseguir material extra para o livro do Alan Moore. Eu particularmente não me importo com material extra e muito menos com livros em capa dura. Quem tem mais de mil revistas sofre com a dificuldade de espaço e material de capa dura apenas piora a situação. Nos EUA, ainda lança-se todo o material no formato padrão e com o passar dos anos republica esse material em encadernados. No Brasil, por exemplo, a revista do Pantera Negra saiu exclusivamente em encadernado e após uma editora encadernar algo, esqueça, não será mais lançado em formato original.

Investir num mercado apenas para um nicho de uma determinada faixa etária com um determinado poder aquisitivo é um risco. Hoje uma parte significativa desses leitores tem entre 30 e 50 anos e tem uma vida estável financeiramente. O adolescente ou o universitário raramente vai ter R$ 50, R$ 80 ou R$ 120 pra comprar UMA revista. Não seria mais vantajoso ter edições com um papel simples, sem lombada enfeitada ou material extra voltada para quem não tem como comprar ou não quer gastar tanto em quadrinhos? O mercado precisa aproveitar o que a clientela está pedindo, é uma verdade, mas é preciso que as empresas tenham uma visão de como estará o público daqui a 20 anos.

Felizmente temos a disposição quadrinhos para os mais diversos públicos e cada vez mais pessoas os entendem como arte e, portanto, com material voltado para faixas etárias diferenciadas. Porém não se pode esquecer a necessidade em pensar que quadrinhos precisa ser voltado para pessoas com PODER AQUISITIVO diferenciado. Que se lancem material simples para quem apenas quer ler e pagar pouco por isso e que relancem esse mesmo material para um público mais exigente, disposto a pagar mais por isso. Como consumidor e colecionador aposto na diversificação dos quadrinhos como ocorrem há muitos anos no mercado de livros.

Quero agradecer ao Alex Jim Paul Ross por permitir usar o seu meme.

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