Dane McGowan é um adolescente rebelde sem causa típico, a única característica que ele possui que o retira desse estereótipo é a sua inteligência acima da média que ele faz questão de não utilizá-la, pelo contrário, o que ele gosta mesmo é jogar coquetel molotov em lugares ou coisas e vê-las queimarem. Contudo misteriosamente Dane conhece um grupo de pessoas que parece até ter poderes, eles fazem parte de uma organização secreta chamada Os Invisíveis e acabaram de salvar sua vida e agora eles querem recrutar Dane para ser um deles. Esse arco foi publicado pela primeira vez na revista Os Invisíveis 2 publicada pela Editora Magnum em agosto de 1998, em seguida a editora Brainstore publicou os números 3 e 4 desse título em maio e junho de 2002. A última republicação dessas histórias saiu em edição de luxo pela Editora Panini em junho de 2024.
Esse arco mostra Dane conhecendo alguém que parece um mendigo louco chamado Tom O'Bedlam, ele o ajuda a fugir de autoridades que o persegue e de um grupo de homens vestidos como aristocratas caçadores de raposas. Em meio a conversas completamente sem sentido, Tom introduz e demonstra a Dave sobre conceitos de magia e mostra pra ele que a realidade não se limita ao que ele está enxergando naquele momento. O roteirista Grant Morrison cria uma trama que parece uma viagem psicodélica cheia de referências a ciências, cultura pop, literatura e magia.
Eu fiquei com receio de iniciar uma resenha desse material porque a minha intenção seria ir aos poucos publicando os textos referentes a cada arco. Contudo por eu já ter lido a obra algumas vezes, sabia que dificilmente iria conseguir resenhar tudo porque chega um momento que a leitura fica incompreensível. Então, levando em consideração que aqui não é um site jornalístico e sim um blog eu resolvi fazer minhas impressões gerais sobre a obra como um todo já que eu não sei em qual dos arcos dessa obra eu pararei de escrever.
As edições iniciais que eu possuo são as publicadas pela Editora Brainstore. Eu não sou uma pessoa que têm várias edições diferentes da mesma obra ou que vai substituindo os meus quadrinhos pelas edições definitivas, tirando algumas exceções, eu prefiro comprar quadrinhos que ainda não li. As edições que eu li trazem textos de posfácio de Morrison e ele comenta sobre as suas inspirações a partir de informações a respeito de culturas de vários continentes e misturado a isso o ambiente de Londres que, por ser uma cidade bem antiga, possui os seus próprios mistérios.
Dentre as polêmicas sobre o autor, ele é acusado de copiar o estilo de Alan Moore. Eu particularmente não tenho conhecimento sobre quadrinhos suficiente nem para negar e nem para afirmar isso mas eu tenho as minhas impressões. Quando a editora da DC Karen Berger convidou alguns britânicos para fazer obras com mais liberdade criativa, ele soube escolher a dedo cada nome para desenvolver personagens com histórias voltadas para um público adulto e o que os roteiristas têm em comum é uma enorme bagagem cultural. Com tantos conhecimento acumulado sobre literatura e as diversas ciências, seria improvável que eles produzissem várias edições de quadrinhos com um monstro que saia do lago pra se vingar dos seus algozes (Monstro do Pântano) ou de um super herói que simulava os poderes dos animais para socar a cara de assaltante de banco ou vilão ridículo (Homem-Animal). Eles possuíam conteúdo e liberdade editorial para ir muito além do óbvio e foi isso o que fizeram. Em Os Invisíveis, Morrison criou o seu próprio conto de introdução a magia a partir de um personagem que poderia ser o leitor típico daquelas histórias, um garoto heterossexual branco inteligente mas cheio de preconceitos e sem nenhum objetivo concreto na vida, que é capaz de se empolgar com perseguição e poderes mas acha um tédio a reflexão mais profunda sobre a realidade. Por isso, ainda que haja similaridades no estilo de Moore e Morison, eu acho que isso é uma situação inevitável da bagagem cultural de ambos que não à toa vieram do mesmo país.
Os desenhos de Steve Yedwell nessa obra surpreende pela lucidez. É um traço limpo e detalhado e que parece ser uma âncora em meio a tanta viagem do roteiro, mesmo nos momentos em que os personagens estão sob efeito de drogas, o traço continua bem compreensível. Esse é um contraste positivo porque como os argumentos desse arco são de falas de um personagem que aparenta possuir esquizofrenia, um estilo de desenho underground talvez deixasse a leitura insuportável.
Os Invisíveis Pra Baixo e pra Fora no Céu e no Inferno é um ótimo arco introdutório, ainda que o personagem que conduz a narrativa fale coisas compreensíveis apenas em poucos momentos. Porém essa é uma história que consegue deixar o leitor curioso em conhecer esse outro mundo de teoria da conspiração. Essa é uma leitura que exige do leitor uma certa maturidade no sentido que vai exigir da sua capacidade de compreender textos com linguagem conotativa e cheio de referências bem específicas, por isso é preciso que tenha alguma paciência de ignorar os momentos em que os autores vão longe demais nas referências. O fato é que essa é uma história voltada para um público adulto que esteja disposto a sair do usual e compartilhe do mesmo estranhamento vivido pelo protagonista.
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