No início dos anos 90, uma nova versão do Hulk estreou, contudo ele possuía uma personalidade bem diferente das demais versões. Ele era irônico, tinha um senso de moral próprio e procurava satisfazer basicamente os seus interesses, por isso ele era visto como um anti-herói. Em um determinado momento, ele foi vítima novamente de uma bomba gama, dado como morto, ele reapareceu em Las Vegas trabalhando como um leão de chácara de um dono de Cassino. 30 anos se passaram e o roteirista Peter David revisita esse personagem com uma mini-série ambientada nessa mesma época. A Editora Panini publicou em encadernado de volume único em julho de 2024 pela série Lendas Marvel.
Para a proposta de promover a nostalgia, o editor Wil Moss fez uma ótima escolha em chamar Peter David para o roteiro dessa mini-série. As referências a acontecimentos da época estão lá para o prazer de quem acompanhava Hulk e Homem-Aranha na época, mas mesmo os leitores novos conseguem compreender toda a história. Essa é uma obra que se atém a detalhes para deixar a impressão de que o leitor está tendo contato com material da época desde o roteiro aos desenhos
A trama é montada com um conjunto de coincidências: Peter Parker vai lançar o livro em Las Vegas ao mesmo tempo que o Rei do Crime estava chegando lá para conhecer Berengetti, o patrão do Hulk e dono do cassino. Como a proposta do título tem mais a ver com aventura e humor, eu consigo deixar passar esse tipo de improvisação do roteiro. O que se segue daí é uma história bem conduzida pela ótima interação entre os personagens. É bem verdade que o Rei do Crime é retratado em alguns momentos de maneira mais patética que um bandido comum mas, para efeitos de humor, foi possível aceitá-lo assim. Um outro destaque é a maneira inusitada como os poderes, desses personagens (e de outros mais ao final) são utilizados. Além disso, é claro que David não teria como deixar de demonstrar também o quanto conhece intimamente das personalidades de Hulk e Bruce Banner em diálogos maravilhosos, características bem presente nos mais de dez anos que ele esteve com o personagem.
Os desenhos são do turco Yildiray Çinar que replicou bem o traço daquela época. Para mim, foi ótima a sensação de ver aquele Peter Parker com cabelos em formato de chifrinhos pra baixo. O desenhista se garante com seus personagens cheios de caras e bocas e nos presenteia com várias páginas pôsteres. O artista sabe como interagir com o estilo de Peter David e assim traz cenas hilárias. Inclusive eu acho uma pena ele não ter feito as capas de cada capítulo da história, já que o seu traço é bem melhor do que os capistas.
A proposta desse quadrinho é de risco por lidar com dois conceitos mal utilizados com frequência nos quadrinhos: a nostalgia e o humor. O que me incomoda na nostalgia é quando se tem uma grande saudade de material ruim ou de material com proposta muito infantilizada, aí aparece um monte de marmanjo elogiando algo que nitidamente só foi bom para pré-adolescentes daquela época especifica. O outro elemento que acumula vergonha alheia é o humor. A comédia é tão complicada de fazer que deveria ser destinada a poucos. Por isso, temos décadas de histórias ruins do Deadpool porque são convidados roteiristas sem habilidade alguma para esse tipo de narrativa. A dupla criativa desse quadrinho não se enquadra nessa minha crítica e traz uma ótima história, até porque o Hulk Cinza dos anos 90 é um personagem que agrada atemporalmente.
Hulk Sr. Tira-Teima é um ótimo quadrinho destinado a quem precisa relaxar a cabeça e ler uma história rápida e bem conduzida. Ainda que esse encadernado seja um prato cheio pra quem conhece o Hulk Cinza de Peter David, é uma história que também pode ser compreendida por leitores mais recentes. Esse é um exemplo de como o humor e a nostalgia podem ser bem utilizados produzindo uma história bem redondinha.
Ficha técnica:
Publicado em: julho de 2024
Licenciador: Marvel Comics
Categoria: Edição Especial
Gênero: Super-heróis
Status: Edição única
Formato: Americano (17 x 26 cm)
Colorido/Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 31,90
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