Theo é um homem negro escravizado que nunca aceitou essa condição e questionava abertamente o porquê da diferença de tratamento que ele recebia em comparação com os brancos. Em 1861 a escravidão ainda era aceita em alguns locais nos Estados Unidos, contudo não ser submisso era visto como uma afronta e o feitor Forrest representa os brancos que despejava com força o seu ódio e exigia que os negros fossem tratados com muito castigo. Essa situação conflituosa fica ainda mais tensa após uma garota, filha de uma mulher escravizada, aparecer muito violentada. Após a investigação desse mistério que Theo percebe que não seria mais possível continuar vivendo daquela maneira naquela fazenda. Essa edição foi publicada em março de 2024 pela Da Rosa Studio a partir de arcos de histórias publicadas originalmente na Skorpio, uma antologia semanal italiana publicada pela Lorobuono Fumetti.
O roteirista italiano Gianluca Piredda traz um protagonista que chama a atenção pela a sua atitude de peitar olho no olho o fazendeiro proprietário daquele grupo de escravizados junto com os seus trabalhadores brancos. A trama se desenvolve em meio a alguns mistérios que não encontram uma solução fácil, pelo contrário, o desenrolar dos acontecimentos levam a outros mistérios e isso vai envolvendo ainda mais o leitor.
Theo é um dos escravizados que pertencem a Cole, um rico fazendeiro que se diz incomodado em ainda escravizar pessoas mas mantém essa situação para não gerar indignação pelos demais fazendeiros da região, principalmente num momento em que o país vive uma grande tensão com um movimento abolicionista cada vez mais forte. Cole afirma não maltratar os seus escravizados porém pega muito leve quando o seu feitor os tortura mesmo quando ele é apontado como suspeito de violentar a garota. O temor de evitar que uma rebelião dos negros que ali vivem não justifica a sua inércia. Isso me faz lembrar de tantas pessoas brancas que afirmam não serem racistas mas se omitem quando atitude preconceituosas estão diante de si. "Ah, mas não fui eu! Foi ele!"
O traço do italiano Vincenzo Arces tem aquele estilo realista bem comum nos quadrinhos da Editora Bonelli. Esse comentário nem deve ser interpretado como uma ironia, o seu estilo é muito bom, os seus personagens são bem expressivos porém não é um estilo que a gente perceba facilmente uma identidade diferenciada do artista, que é algo bem comum nos desenhistas da Bonelli.
Em um quadrinho sobre escravidão, o termo "escravo" e "escravizado" tem que ser visto dentro do contexto onde está sendo utilizado. Dentro de uma história ambientada no Século XIX, faz todo o sentido usar a palavra "escravo". Porém reflexões recentes nos levam a entender que essa é uma condição imposta e por isso "escravo" passa a ideia de haver pessoas que nasceram naturalmente com a condição de ser uma propriedade de outra. Por isso, usa-se o termo "escravizado" pra denotar a ideia de que alguém impôs essa condição a outras. Estou explicando tudo isso porque o texto introdutório dos editores Ricardo Elesbão e Rodinério da Rosa traz a palavra "escravo" escrita três vezes num quadrinho cujo protagonista não aceita essa condição imposta e seria bem mais adequado nesse texto a expressão "escravizado". Ainda sobre a edição ela é bem agradável de manusear numa capa cartonada com orelhas que a protegem bem. Porém ainda que contasse com revisores e adaptadores do texto, ainda passou um erro de regência, um escorregão que é comum aparecer. O que ficou esquisito foi os editores e a tradutora não deixar claro como seria a voz dos escravizados. Na época em que ocorre a história, seria comum ter negros que não usasse a norma culta nas suas falas e usasse uma construção de palavras bem usual. Porém a equipe não estabeleceu bem como seria a fala e no mesmo balão aparece uma linguagem mais trabalhada junto a linguagem usual que gerou um estranhamento na leitura. Eu fico até curioso em saber se no original esses personagens falam no mesmo padrão ou se há essas diferenças.
Freeman 1 é uma ótima história em que traz um protagonista com uma atitude bem marcante e que trabalha bem a condução dos mistérios garantindo a diversão. Vale ressaltar que a edição traz notas com uma importância peculiar na leitura. Eu espero que os editores dêem uma olhada sobre a adaptação de fala de alguns personagens para que as próximas edições fiquem ainda melhores. Contudo, isso não traz grandes danos para a leitura e por isso é uma leitura recomendada para qualquer leitores novos e veteranos de quadrinhos que buscam uma narrativa diferente do usual, com um protagonista disposto a mudar por si a sua condição imposta.
Ficha técnica:
Publicado em: março de 2024
Licenciador: Editoriale Aurea
Categoria: Edição Especial
Gênero: Faroeste
Status: Em circulação
Formato: (20,5 x 27 cm)
Preto e branco/Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 55,00
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