Máscara de Ferro - Contra a Televisão

 


Máscara de Ferro está indignado com os seres que fazem sucesso na TV por terem feito um pacto com o demônio, por isso decidiu caçar cada um deles. Esse quadrinho traz três histórias que ocorrem nos anos 90 quando era muito comum boatos desse tipo. O piauiense Bernardo Aurélio retoma o seu personagem e conta com a participação do seu irmão Caio Oliveira no traço de uma das histórias. Essa HQ foi publicada pela Editora Quinta Capa em março de 2023. 

O Século XXI vive um grande desafio que é lidar com a intensidade dos boatos que provém das redes sociais, porém mentiras são atemporais e por maior que seja o avanço tecnológico elas não deixam de estar presente de maneira intensa. É muito comum em igrejas cristãs difundir que o sucesso de qualquer pessoa ou personagem se justifique apenas por um pacto diabólico, não haveria uma outra explicação para milhares de pessoas se afeiçoarem tanto por uma imagem. No final do século anterior, a TV dava voz as teorias da conspiração e utilizava da credibilidade dos seus programas para difundir crenças absurdas sem comprovação alguma. Assim uma peça tranformava-se num punhal e era possível ouvir mensagens subliminares ao girar um disco de um cantor famoso ao contrário. Isso foi tão marcante que até a banda Engenheiros do Hawaii resolveu fazer uma brincadeira assim numa das canções do disco "O Papa é Pop".  

Essas histórias estapafúrdias lembram enredos de histórias de terror que tanto fazem sucesso. Por isso o quadrinhista Bernardo Aurélio acabou aproveitando-as para ilustrar aventuras dos seus personagens. Sim, personagens! Além do Máscara de Ferro, Aurélio introduz Messias, Django e Juarez que ele já havia criado para seus primeiros fanzines mas que ainda não havia utilizado como personagens nos seus quadrinhos publicados por sua Editora (sim, ele é proprietário da Editora Quinta Capa!). 

O roteiro das histórias acabam jogando os personagens na situação que o autor queria ilustrar mas faltou ter uma história bem  trabalhada que levasse àquela situação. É bem verdade que esse é um quadrinho de humor e o inusitado faz parte da narrativa para causar o efeito cômico desejado. Porém ainda assim é preciso oferecer ao leitor mais da subjetividade dos personagens. Em alguns momentos, eu tive a sensação de que qualquer pessoa com uma faca na mão agiria da mesma forma e teria as mesmas falas que as do Máscara de Ferro. Eu acho interessante quando as histórias criam uma cumplicidade tal entre leitor e personagem que é possível prever a reação do personagem, infelizmente não foi possível transmitir isso nessa edição. 

Já os vilões e as referências estão ali bem estabelecidas, inclusive algumas delas não se limitam ao século passado mas há algumas bem atuais. Eles são o grande atrativo desse quadrinho que surgiu de imagens que deram uma repercussão positiva dentre aqueles que as viram. 

Para a proposta do quadrinho, o traço do Bernardo é satisfatório e ele sabe ir do humor ao terror com facilidade, com exceção da personagem inspirada na Luiza Ambiel que parece que faltou ter seu traço finalizado. Já Caio Oliveira deu uma ótima contribuição como desenhista com seus personagens de expressões impagáveis. Para ir além disso, repare nas páginas em que há uma luta sendo mostrada a partir do ponto de vista da boneca da Xuxa, o desenhista conseguiu retratar bem a ideia a partir da perspectiva do tamanho dela com a maneira que retorceu a imagem. 

Máscara de Ferro Contra a Televisão tem um ótimo proposta mas essa faltou ser bem desenvolvida por dar um maior destaque aos vilões da obra do que ao protagonista. A participação desse ficou apagada quanto a mostrar a sua personalidade. Essa é uma leitura despretenciosa que traz alguns bons momentos e satisfaz o imaginário de quem imagina que um dia os boatos poderiam vir a tornar-se verdades, mesmo que seja apenas para se divertir com essa situação hipotética. 



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