O Homem-Animal era um personagem que estava ali perdido dentro do Universo DC sem ninguém se importar com ele. Isso até o roteirista Grant Morrison receber o convite da editora Karen Berger para trabalhar na DC, ele pensou sobre quais personagens poderia pegar e decidiu ficar com esse. A participação de Morrison consolidou o personagem e trouxe um clássico pras histórias de super-heróis. Essa fase foi publicada no início dos anos 90 na revista mensal DC 2000. Entre 2015 e 2016 a Editora Panini publicou encadernados do personagem e os três primeiros correspondem a essa fase (que foram os que eu li) e em 2021 ela publicou uma edição omnibus com a fase completa.
Buddy Baker, cansado de ver que a família estava sendo mantida financeiramente apenas com o trabalho da esposa, resolve retomar o uniforme de super-herói e, com os seus poderes, vir a se destacar pra ser convidado a participar da Liga da Justiça e ter uma renda própria. O seu primeiro trabalho é ajudar os Laboratórios Star que estavam sofrendo ataques de animais modificados. Baker usa os seus poderes de incorporar habilidades de animais próximos a ele, isso faz com que ele às vezes capte também o sofrimento de alguns dele gerando uma inevitável empatia. A partir daí ele passa a dar maior atenção a situações corriqueiras sobre como os humanos utilizam dos animais demosntrando a crueldade daquilo.
Grant Morrison aproveita a atenção do leitor que busca um quadrinho de herói e entrega um enredo recheado de críticas da relação do homem com a natureza. É incrível ver a transformação do protagonista ao mesmo tempo que a gente vai percebendo junto com ele que o maior vilão da história é a estupidez humana. O autor, ainda que fuja da estética comum dos quadrinhos de heróis, consegue manter uma narrativa dinâmica em todos os momentos, a tensão e a violência são elementos que estão ali e intensifica a sensação do leitor.
Esse encadernado é a primeira parte da fase de Morrison e essa crítica ambiental permanece até quando o personagem se vê lidando com a repercussão da mini-série Invasão, a partir daí há uma drástica mudança. A edição não traz detalhes necessários sobre Invasão mas vou deixar você a par. Invasão ocorre quando nove raças alienígenas decidem que a Terra tem heróis em excesso e isso poderia ser um risco ao universo, por isso decidem invadir a Terra para prendê-los. Enquanto a cúpula de alienígenas decidia táticas de guerra, um pesquisador desse grupo descobriu que os poderes dos heróis são frutos de uma mutação genética, por isso bastava soltar uma bomba para inativá-la. A bomba foi lançada e o resultado foi que alguns heróis morreram, outros foram hospitalizados e alguns tiveram os seus poderes afetados de alguma forma. Isso foi exatamente o que ocorreu com o Homem-Animal.
Após a Invasão, as histórias tomam um ritmo mais humorístico, na época isso vinha ao encontro da decisão de inserir o herói na Liga da Justiça Europa, que fazia sucesso com super-heróis em situações hilárias. Essa mudança de gênero causa um estranhamento ao ler o encadernado, porém Morrison ainda consegue fazer boas histórias inclusive em vários momentos assumindo um teor mais reflexivo ou com homenagem às histórias clássicas.
Os desenhos são de Chaz Truog e Doug Hazlewood que possuem um toque realista que é intensificado quando os animais são mostrados. É incrível a maneira como eles utilizam as expressões faciais do personagem atribuindo um caráter ainda mais humanizante ao quadrinho. A interação roteiro e traço é tão eficaz que a qualidade do roteiro se reflete na arte e vice-versa tornando uma obra completa nos seus detalhes.
Homem-Animal O Evangelho do Coiote é um excelente quadrinho que retira do gênero a típica luta entre dois antagonistas e faz com que o personagem vá tendo reflexões que atingem diretamente o leitor. É esse o aspecto que faz dessa obra um clássico e encante pela integração roteiro e arte. Esse é um quadrinho recomendado para quaisquer leitor, principalmente para aqueles que buscam um algo a mais que foge do típico enredo dos super-heróis.
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