Trabalhar para a Marvel está sujeito a desafios inesperados. A roteirista Ann Nocenti vinha desenvolvendo histórias para o Demolidor num tom intimista, de repente veio a saga Inferno nos quadrinhos mutantes e a Editora decide que as consequências da saga iriam repercutir inclusive nos heróis que não estavam envolvidos diretamente. Esse encadernado de A Saga do Demolidor traz a maioria das histórias dessa época e saiu no Brasil pela primeira vez na revista Superaventuras Marvel entre julho de 1990 e abril de 1992 pela Editora Abril com exceção de uma história até então inédita. Esse encadernado foi publicado em julho de 2022 pela Editora Panini.
O Demolidor estava passando por um momento de profunda confusão, após sobreviver por pouco de um conflito direto com a Mary Tifóide, ele aparenta estar desorientado, até que as lembranças do que ocorreu vêm aos poucos e, junto com elas, o sentimento de culpa por ter traído a Karen Page. Enquanto o herói estava atormentado, demônios invadem Nova York e faz com que objetos ganhem vida e comecem a devorar humanos ou controlar os seus corpos. Para um homem católico cheio de culpa, isso é o melhor meio para se auto-flagelar.
Essa é uma edição que me causou estranhamento e quebrou o ritmo de diversão que eu vinha sentindo até então. As histórias da roteirista costumam trazer como destaque a beleza do seu texto, por isso a narrativa não é norteada tanto pelas ações dos seus personagens. O melhor dessa proposta é a qualidade dos argumentos. Contudo o que ocorreu é que nessa edição a beleza do texto deixou a desejar. Como eu não tenho acesso ao quadrinho original não tenho como concluir se isso se deu por conta da péssima decisão em jogar o Demolidor na saga Inferno seja como fosse ou se o tratudor Rodrigo Barros não trouxe um texto à altura do original. Essa dúvida ficou ainda maior quando eu percebi que o editor dessa edição foi Yuri A. O. Primitz que a partir desse número substituiu Dandara Palankov. Eu quero acreditar que o editor não interferiu para que o texto fosse mais direto para atender aos gostos do leitor que quer poucas palavras. Se isso tiver ocorrido, a tradução comprometeu a qualidade da obra. O fato é que eu irei continuar acompanhando as edições seguintes e vou relatar se a qualidade do texto permanece ruim ou não.
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Os desenhos ficam por conta de John Romita Júnior, com exceção de uma edição em que ele cedeu lugar a Steve Ditko já que ele teria que afastar-se por conta do seu casamento. Por isso foi criada uma história fora da cronologia.
Se o roteiro ficou comprometido por conta de Inferno, os desenhos sofreram ainda mais. A idéia seria passar um clima de terror nas páginas mas o que se viu foram demônios que parecem ter sido inspirados em filmes Classe B. O traço não me agradou e tudo pareceu muito ridículo e confuso enquanto a narrativa mostrava-se séria.
A Saga do Demolidor 5 decepciona tanto pela péssima decisão de retirar o personagem de uma sequência intimista de acontecimentos para sujeitá-lo a lidar com as consequências de uma saga mutante. Uma HQ que até então apresentava um texto bem elaborado, de repente traz um texto com uma linguagem mais direta, perdendo o que havia de melhor na fase da Ann Nocenti. Eu espero que isso tenha sido reflexo da péssima decisão da Marvel em vez de vir do editor brasileiro a ordem pra "enxugar o texto". Os quadrinhos contam com ótimos roteiristas tanto por sua criatividade quanto pela qualidade dos seus argumentos, algo que não está presente nesse encadernado que nem mesmo o desenho ajuda.
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Ficha técnica:
Publicado em: julho de 2022
Licenciador: Marvel Comics
Categoria: Edição Especial
Gênero: Super-heróis
Status: Em circulação
Formato: Americano (17 x 26 cm)
Colorido/Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 36,90
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