Tarzan - A Era Russ MannIng

 Tarzan é um personagem que surgiu na literatura em 1912. Décadas depois esse personagem foi adaptado para os quadrinhos, dentre os artistas que fizeram parte da HQ publicada pela Gold Key, Russ Manning destacou-se como desenhista nos anos 60. A Editora Devir publicou em junho de 2022 uma antologia que resgata momentos do desenhista com o personagem numa edição publicada originalmente pela Dark Horse Comics. 

A edição abre com a origem do personagem, mostrando seus pais John e Alice Clayton abandonados na África pela tripulação de um navio, com eles estavam algumas malas, caixotes e o bebê que viria a tornar-se o protagonista das histórias.  O casal não conseguiu sobreviver às dificuldades da vida na selva e o bebê teria o mesmo fim se não fosse resgatado por macacos que o criaram como se fosse um filho. No grupo, ele aprendeu a comunicar-se com os animais e todas as habilidades que garantiram a sua sobrevivência a ponto de passar a ser conhecido como Tarzan dos Macacos. Além disso, dentre os objetos que seu pai deixara, havia livros. Tarzan conseguiu aprender inglês e comunicar-se também com a linguagem humana, fator necessário para ele interagir com outra humana que anos depois iria aparecerr naquela região: Jane. 

A HQ é uma oportunidade de ver a retratação da ideologia política e social da época. Ainda que as histórias sejam ambientadas numa floresta africana, é difícil identificar exatamente em qual país, da maneira como atualmente o continente encontra-se dividido, as histórias ocorrem. Apesar disso, o personagem precisa lidar com a ameaça comunista, contra nazistas e contra muçulmanos. Isso sem mencionar quando tribos africanas hostis ameaçam os seres que ele possui afinidade em aventuras que deixam bem claro o que se entendia como grande perigo naquela época. Além disso, Tarzan, após conhecer Jane, tem uma postura que versa hora em ser o Rei das Selvas e hora ser o herdeiro milionário que mora em Londres, mostrando a valorização do valor em se tornar um selvagem "civilizado". Um outro elemento ideológico da época é o recorte de raça, com muita frequência as pessoas brancas são vistas de maneira admirável, enquanto algumas das tribos africanas estão muito dispostas a oferecer a sua liderança seja para Tarzan ou seja para um outro europeu que pareça confiável. 

Ainda sobre os personagens, um outro destaque é que John Clayton o lorde Greystoke (nome branco do Tarzan) teve um filho que desde muito cedo interessou-se em aprender como sobreviver na selva e acabou indo para a África onde assumiu o nome de Korak e por lá encontrou a sua companheira (também branca) chamada Meriem. Nessa edição é possível ver algumas histórias dele. Por ser uma antologia, não são aqui publicadas uma sequência numérica das edições por isso na leitura há o estranhamento de uma hora Tarzan está sozinho na selva, outro momento ele está na Inglaterra, em outro o foco é Moral e depois o garoto nem aparece mais na história. Contudo a maioria das histórias consegue funcionar de maneira independente com exceção do final que é um arco de três histórias.  

A experiência em ler a obra exige que o leitor a veja com os olhos de um leitor da época. Por isso é preciso aceitar soluções bem ingênuas para os problemas que se apresentam, tipo uma criança criada por macacos aprender a ler e a falar a língua inglesa apenas olhando para livros. É preciso simplesmente aceitar que tudo é muito fácil como o filho do Tarzan adaptar-se a selva e conseguir sobreviver lá com pouco treinamento após sair de Londres para a selva pela primeira vez. 

Por isso esse não é um quadrinho feito para agradar ao leitor atual. Ele é voltado para um público bem específico formado por leitores que se encantaram com as histórias décadas atrás, pesquisadores e amantes de quadrinhos nas suas mais diferentes fases. Para quem está acostumado com uma narrativa do Século XXI, possivelmente vai sentir tédio lendo essas páginas roteirizadas por Gaylord Dubois a partir dos romances de Edgard Rice Burroughs. 

Os desenhos de Andy Lanning tem a beleza do seu detalhamento em um traço muito limpo que traz além de belos personagens, uma ambientação encantadora. A sua arte fica ainda melhor quando a gente aprecia as capas clássicas das revistas que vem ao início de cada capítulo. 

Tarzan A Era Russ Manning é um quadrinho voltado para leitores antigos ou pesquisadores e admiradores da nona arte. Essa não é uma leitura recomendada para leitores novatos ou outros que estão distantes dos anos 60, já que a obra traz elementos datados e que não vai agradar esse público. Essa é uma boa oportunidade de fazer uma leitura crítica sobre a ideologia dos países capitalistas ocidentais ou para os leitores mais maduros matar a saudade dos quadrinhos publicados há muito tempo.  

Ficha técnica: 
Título Original: Tarzan Archives: The Russ 
Manning Years Volume 1
Editora original: Dark Horse Comics 
Roteiro: Edgard Rice Burroughs e Gaylord 
Dubois
Desenho: Russ Manning
Tradução: Sandro Castelli
Formato: 16,5 x 24 cm
Estrutura: 288 páginas coloridas 
Acabamento: brochura 
Peso: 540 g (aproximado) 
Lombada: 2 cm
Área de interesse: Aventura; clássicos da 
literatura; adaptações
Público: Adulto
Preço: R$ 115,00 (estimado)


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