Matt Murdock perdeu o direito de advogar e todas as posses que ele havia conseguido provindas disso. Agora ele só tem o Demolidor e ainda assim a sua namorada Karen Page procura convencê-lo a abandonar a violência como solução dos seus problemas. Nesse segundo número, as histórias trazem a participação de Pantera Negra e Wolverine. Esse encadernado publicado pela Editora Panini em abril de 2022 conta com seis histórias sendo quatro inéditas e as demais são uma republicação de Grandes Heróis Marvel 22 publicado pela Editora Abril em dezembro de 1988.
As crises de identidade são comuns nas histórias do Demolidor e é bem adequado ele estar passando por isso após os marcantes acontecimentos da fase do Frank Miller com o personagem. Aos poucos o herói vai se convencendo que ele pode utilizar do seu lado vigilante apenas para buscar provas para o seu alter ego que possui conhecimento em direito. A violência para ele vai sendo percebida como algo repugnante e por isso ele procura convencer os demais heróis que ele encontra sobre esse ponto de vista, o Demolidor assim se volta para utilizar de saídas racionais em vez dos demais heróis que usam da violência.
O que me chamou a atenção nessa edição foi a escorregada da roteirista Ann Nocenti ao caracterizar o vilão Danny Violão. Ele é um traficante haitiano que utiliza da expressão cultural Vodu para amedrontar quem pretende traí-lo. Esse é um personagem que mostra-se grato por ter abandonado a ilha e passar a morar nos EUA. Algo que vai ao encontro do mito que lá é a Terra das Oportunidades. É interessante notar a forma como o Vodu é retratado. Geralmente as culturas fora do cristianismo são mostradas como algo caricato, exatamente o que a autora fez aqui, principalmente se elas são originárias de países de maioria negra. Os costumes são retratados ou como amedrontadores nos seus rituais ou como ridículos nas suas crenças. É bem verdade que ao final, uma dupla de haitianos contribuem com o protagonista que passa a ver elementos positivos naquelas tradições, porém a parte positiva da forma como ele a vê é mostrada de maneira muito sútil, diferente da forma direta negativa com que o Vodu é retratado. É importante ressaltar uma situação na história bem problemática: para poder investigar a gangue de violão, Demolidor se "disfarça" de pessoa negra, como se, pra poder se parecer com um traficante, fosse preciso que a pessoa fosse negra. Um conjunto de situações problemáticas que nos anos 80 editores e artistas davam pouca importância. Ainda que a Marvel mostrasse um interesse em aproximar-se da causa negra criando histórias como a do Pantera Negra e do Luke Cage ainda era possível encontrar conteúdo raciusta nas suas histórias, até por isso valeria a pena ter uma nota ou editorial explicando essa situação.
Nas demais histórias em que há a participação especial do Pantera Negra e Wolverine, temos um Demolidor defensor da vida. O Wolverine da época está retratado com a selvageria típica das suas histórias desse período. Mas é curioso o fato do Pantera Negra cultivar como solução o suicídio. Isso porque na história em que ele aparece, o vilão é um ex guarda de Wakanda que retorna aos EUA com uma armadura tecnológica. A armadura é danificada e o homem passa a ter vários problemas financeiros depois disso, ele passa a ter dívida com agiota e se envolve em jogos de azar. A vergonha que ele sente ao reencontrar T'Challa o leva a decidir dar um fim na própria vida. O embate entre Demolidor e Pantera Negra está em apoiar ou não essa decisão.
O fato é que nessa edição os poucos personagens negros que aparecem são de pessoas pobres, marginalizadas ou no caso do Pantera Negra que coloca a honra sobre a importância da vida. A forma como um autor retrata as suas histórias costuma relacionar-se com a sua própria identidade, por isso quanto mais distante for a realidade social do personagem em comparação a realidade do autor maior a probabilidade de ele ser retratado de maneira estereotipada, por isso a necessidade que editores e artistas pesquisem ou tenham alguém com conhecimento para tirar algumas dúvidas.
Os desenhos dessa edição são de Louis Williams, Chuck Patton, Keith Giffen e Rick Leonardi. Eu destaco o estilo do primeiro artista que além de ter um traço detalhado, costuma dar um maior destaque na cena aos personagens, mostrando-os com tamanho grande o que acaba dando um aspecto cinematográfico nas imagens.
A segunda edição de A Saga do Demolidor apesar de não manter a mesma qualidade do número anterior, traz ótimas histórias. Essa é uma edição que exemplifica a forma estereotipada com que autores e editores brancos caracterizam situações que envolvem pessoas negras e a sua cultura. Apesar disso é interessante ver como o herói vivencia o dilema moral em procurar meios de agir sem usar a violência.
Ficha técnica:
Periodicidade: Mensal
Formato: 17X26 cm
Tipo de Distribuição: Nacional
- Tipo de Produto: Revista
- Segmentos: Comics
- Marcas: Marvel
- Autor(es): Ann Nocenti, Chuck Patton, Keith Giffen, Louis Williams
- Número de páginas: 144
- Lombada/Encadernação: QUADRADA
- Tipo de capa: Cartão
- Data de Lançamento: 06/05/2022
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