A Saga do Demolidor 1 - Uma das fases mais aclamadas do Homem sem Medo

 


Uma das fases mais marcantes do Demolidor foi a época em que as suas histórias foram feitas por Frank Miller. Logo após essa fase a roteirista Ann Nocenti assumiu e é essa fase que a Editora Panini passou a publicar a partir de março de 2022. Os encadernados republicam algumas histórias que saíram em Superaventuras Marvel 70 e em Grandes Heróis Marvel 22 ambas publicadas no Brasil em 1988, porém essas histórias saíram nos EUA pela primeira vez em 1981. Aos leitores que leram os quadrinhos da Editora Abril nos anos 80, saibam que a maior parte desse encadernado são de histórias inéditas. Na época não foi possível lançar todo esse material no Brasil. 

Esse encadernado de estréia mostra uma roteirista que traz um Demolidor lidando com vilões urbanos que se diferenciam dos vilões de colantes superpoderosos como habitualmente ocorre. Cada um deles representa vários dos problemas sociais que ocorrem nas grandes metrópoles. O primeiro deles é o Agente Hazzard, um militar cujas ações extremas são motivadas a partir da paranóia militar epatriota e uma religiosidade cristã deturpada. Isso faz com que ele julgue e execute as pessoas ao seu redor a partir do seu poder de estourar corações com a mente. Uma história com visível teor político que denuncia uma hipocrisia de valores da sociedade estadunidense.  O outro vilão que aparece em duas histórias é Podridão, uma pessoa comum e sem poderes mas que possui uma série de preceitos morais rígidos e que não tolera a existência de quem os desrespeita. Já Gaiato é uma pessoa excêntrica que gosta de chamar a atenção saltando de prédios e que o Demolidor acredita que ele pode representar um grande perigo (ainda que o herói faça o mesmo tipo de acrobacia). Há também o Assassino do Caviar, um trabalhador que pirou ao perceber a injustiça de servir milionários que desfrutam do melhor que a vida pode oferecer sem se importar em como vive toda uma população excluída socialmente. 

Esses são vilões que são frutos de uma sociedade complexa e que por isso vai gerar diversos problemas e cada um deles acaba personificando alguns deles. O único supervilão que ele enfrenta aqui é o Dentes de Sabre para ter uma história conectada com a saga Massacre de Mutantes. Ainda assim a roteirista consegue fazer uma narrativa interessante ao comparar o embate entre eles a uma disputa entre um gato e um rato, em vez de ser apenas uma porradaria vazia ela consegue inserir elementos da biologia a partir do comportamento animal.

Ann Nocenti é uma roteirista que utiliza de um linguajar bem trabalhado e que o tradutor Rodrigo Barros resolveu deixar fluir essa característica no texto em vez de atender ao leitor preguiçoso que gosta apenas de diálogos diretos e rasos. A construção de cada história é muito interessante e ela usa de muito dilemas morais que traz profundidade a vários dos seus personagens. 

Por isso essa é uma edição de quem aprecia o que há de melhor na leitura de um texto. É uma pena que o texto introdutório da editora Dandara Palankof tenha ficado com uma fonte tão pequena. Na verdade essa introdução merecia um tamanho maior tanto na fonte quanto na quantidade de parágrafos. 

Eu fiquei encantado com a seleção dos desenhistas dessa edição: Barry Windsor-Smith, Sal Buscema, Steve Leialona, Louis Williams, Todd McFarlane e Keith Pollard. Todos eles possuem um traço detalhado e muito expressivo e que deixa toda a edição linda de se vê. McFarlane ainda não tinha o seu estilo sujo e cheio de exageros que tanto o caracteriza mas ainda assim faz uma participação de destaque. 

A Saga do Demolidor 1 introduz muito bem essa série escrita por Ann Nocenti seja na narrativa, roteiro ou nos desenhos. É um quadrinho que eu indico a leitor de qualquer idade, independente de ser novato ou experiente. É um excelente quadrinho pra qualquer um que goste de HQs de heróis tenha ele lido nos anos 90 ou que vá ler pela primeira vez agora. 

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Ficha técnica: 

Formato: 17X26 cm

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