A invasão do Brasil pelos Europeus se deu preferencialmente pela costa onde hoje estão localizados os Estados do Nordeste e do Sudeste, ficando ainda muito território pra ser tomado dos povos originários. Por isso, os franceses se aproveitaram dessa situação para tentar garantir um território no tal Novo Mundo. Em 2012 esse quadrinho teve a sua primeira edição e em 2021 foi publicada a segunda edição pela Edufma.
Os quadrinhos que narram acontecimentos históricos acabam tendo que trazer uma quantidade considerável de informação, o que pode comprometer narrativamente tornando a obra maçante. É preciso que o autor tenha a habilidade de por um lado inserir as informações necessárias e por outro deixar o texto interessante para o leitor, independente de ele ter ou não um conhecimento prévio sobre o assunto.
A HQ traz dois núcleos de personagens. O primeiro deles são os franceses interessados em criar uma cidade para o povoamento europeu que garantisse a posse (ou o roubo) sobre os povos originários. Para isso, o grupo chefiado por La Ravadiére e De Rasilly teriam que convencer a rainha a financiar o projeto; do outro lado do Atlântico, era preciso traçar uma estratégia dos franceses lidarem com uma comunidade indígena numerosa, já que o uso da força não estava sendo muito eficaz.
O outro núcleo de personagens estava em Recife. Um grupo formado por portugueses e espanhóis não estava aceitando a possibilidade de "ceder" essa terra aos franceses, já que o Tratado de Tordesilhas já garantia à Península Ibérica a posse das terras. Os dois lados tinham em comum o apoio de cumunidades indígenas que já haviam estabelecido um contato amistoso com padres que se dispuseram a viver entre eles para "salvar as suas almas com a verdadeira fé". Daí já tava pra deduzir que a maior quantidade de sangue derramado seria dos povos originários enquanto as decisões de fato eram tomadas na segurança dos castelos lá na Europa.
O quadrinho inicia com a introdução da Doutora Maria da Glória Guimarães Correia com um texto que mais confunde do que esclarece o contexto da época, isso talvez fosse um sinal do que estaria por vir na obra. O roteirista Iramir Araújo deixa o início bem interessante mas não consegue manter o ritmo até o fim. A partir do momento em que a narrativa passa para Recife começam a aparecer alguns problemas de ordem narrativas que vão se agravando.
Eu até consigo entender o uso de uma linguagem rebuscada para aproximar-se com o falar da época. O que eu senti falta mesmo foi de algumas páginas explicando o contexto histórico. Para entender o quadrinho é imprescindível entender a linha sucessória da França, Portugal e Espanha e como isso influenciou o Brasil na época. Eu particularmente acho que uma obra de caráter histórico deveria vir com esse tipo de contextualização para o leitor no início de cada capítulo (o que seria outro problema já que essa HQ não se divide em capítulos).
Os desenhos de Ronilson Freire são ótimos e captam bem o clima épico da proposta. Contudo por ser em preto e branco, algumas vezes principalmente durante o conflito me vi confuso em distinguir as comunidades brancas do Recife e de São Luís assim como das comunidades indígenas que entraram em conflito. Aliás eu não entendi o porquê dos desenhos ter tanto receio em mostrar os órgãos sexuais e pêlos dos indígenas que estavam ali de corpos nus.
Ajurujuba é um quadrinho que contribui para trazer detalhes sobre como se deu a invasão do território maranhense. É uma pena que a forma como ela foi contada tenha ficado comprometida a partir da metade da obra. Entretanto a leitura ainda assim favorece além de informações, algumas reflexões sobre a participação da França e da Espanha e de como a desculpa da "salvação da alma do índio" foi utilizada para esconder o real interesse que eram as riquezas do nosso país.
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