Meus Heróis Eram Todos Viciados - um romance psicodélico da Editora Mino

 


Ellie foi obrigada pelo tio para ir a uma clínica de reabilitação. Ela é uma garota que não vê motivos para parar de usar drogas e procura sobreviver ao tédio de estar ali. Entre as pessoas ali internadas, ela descobre Skip, um rapaz que chama a sua atenção pela beleza mas que faz aquele tipo misterioso que acaba fascinando-a ainda mais. A Editora Mino publicou esse quadrinho da Image Comics em dezembro de 2021. 

Ellie é apaixonada por música e quando está na clínica lembra dos seus ídolos que utilizaram dos mais variados tipos de entorpecentes tanto para compor quanto para interpretar as suas músicas nos palcos. Essa admiração já veio desde a sua infância dentro da sua relação familiar. Para a protagonista não haveria internamente motivos pra parar de usar narcóticos, são as leis e os terapeutas que fazem um grave alerta que ela particularmente não consegue temer. 

O roteirista Ed Brubaker criou uma história simples em que a gente vai se envolvendo com o casal Ellie e Skip com a sua sutil divergência de personalidade, ela completamente hedonista e ele o lado mais racional e distante das próprias emoções. As músicas citadas na história além de aprofundar as ideias de Ellie vão dando uma trilha sonora para a leitura. Brubaker então fisga o leitor que empatiza tanto com os personagens que, ao jogar a reviravolta do final, aquilo gere nele uma emoção que é um misto de revolta com admiração, revolta com a conclusão e admiração pela narrativa. 

É importante notar na obra todos os elementos criados para que a gente se aproxime ainda mais de Ellie. O traço de Sean Phillips tem um tom simples mas muito expressivo. As cores em tons pastéis acabam nos remetendo a lembrança dos anos 70, épocas em que a maior parte das músicas citadas fizeram sucesso. Ainda que a história não delimite o tempo em que ela ocorre, a arte passa a impressão de acontecimentos antigos. Até a escolha do papel para esse edição contribuiu pra isso permitindo que a experiência de leitura fosse completa. Eu gostaria de destacar a tradução de Dandara Palankof principalmente nas falas e nos recordatórios de Ellie. O expressão da personagem passou muita credibilidade por evitar clichês na sua linguagem. 

Quando se fala em pessoas em tratamento de reabilitação enfatiza-se o lado do sofrimento ou do histórico de vida que fez com que a pessoa inevitavelmente encontrasse aquele caminho. Entretanto as drogas viciam não só pela sua composição química feita pra isso mas pela sensação de prazer que ela traz e com isso intensificar a sensibilidade que pode ser utilizada nas diversas expressões artísticas, admitir isso não é uma apologia. Eu acredito que quando se trata de um conteúdo com sinceridade fica mais fácil convencer pessoas para alertar dos potenciais usos exagerados. As drogas estimulam os centros de prazer mas é um risco que essa estimulação provoque uma dependência e acabe atrapalhando o indivíduo nas suas relações sociais. Contudo esse não é um quadrinho documentário, essa é uma história que tem a intenção de mostrar o ponto de vista de uma personagem que é parecido com o de várias outras pessoas e por isso, o moralismo acaba não combinando com ela que demonstra uma motivação similar aos seus ídolos na música. 

Meus Heróis Eram Todos Viciados é um quadrinho que se puder merece ser lido e escutado (aliás tem até playlist no Spotify ouve aqui) Os acontecimentos se passam como a trilha sonora de um jovem casal apaixonado cuja sequência das músicas é uma lembrança eterna. Por isso não apenas leia mas deguste cada página de vagar e se permita deixar levar pelas expressões dos personagens. Esse é a isca pra fazer com que a surpresa ao final vá fazer com que você sinta emoções diversas sobre os autores. Um ótimo quadrinho voltado para leitores adultos que apreciam músicas feitas pelos rebeldes do Século XX. 


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Ficha técnica:

Título: Meus Heróis Eram Todos Viciados
Autor: Ed Brubaker e Sean Phillips
Data de Lançamento: Dezembro/2021
Acabamento: Capa dura, papel offset colorido
Formato: 17 x 26 cm
Número de páginas: 72

Tradução: Dandara Palankof


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