Existe um projeto que eu tenho um enorme carinho e que por isso faço toda a questão de divulgar: Narrativas Periféricas. O primeira edição de 2020 foi um sucesso e virou seis livros, sendo que alguns deles já se encontram esgotados. Pois é, a Editora Mino, a Perifacon e Chiaroscuro Studios fizeram de novo e esse ano conta com o apoio do Governo Estadual de São Paulo. No momento o Projeto está convocando até o dia 25 de fevereiro de 2022 talentos da periferia da cidade de São Paulo para realizar um curso de formação completa em quadrinhos e os participantes terão a possibilidade de concluí-lo com um quadrinho publicado.
O meio dos quadrinhos brasileiros ainda é formado por sua grande parte por pessoas que contaram com uma série de privilégios. Isso porque há um custo considerável em ser artista do meio. Para iniciar a sua carreira como artista você precisa frequentar escolas particulares, ter acesso a prancheta, papel, canetas e tintas diversificadas, materiais nada acessível. Além disso o que talvez seja o maior impeditivo é que enquanto você está nessa fase de aprendizagem, você precisa ter alguma forma de ter as suas necessidades bancadas por alguém, seja família ou companheires.
Se para ser artista há todos esses impedimentos imagina trabalhar como editor de quadrinhos ou ser proprietário de editora! É preciso ter um capital inicial para apostar num produto que no máximo vai trazer lucro a longo prazo. Isso porque o mercado de leitores é pequeno e sofre retrocesso. Se você ainda assim tiver o privilégio pra bancar todo o processo de edição ou você ser carismático o suficiente pra formar um grupo considerável de apoiadores de um financiamento coletivo, você ainda terá que ter onde armazenar e meios para divulgar o seu material impresso para poder vendê-lo.
Parece difícil né? Mas é mesmo! Não é a toa que as feiras de quadrinhos se vê muita pouca variação de tons de pele. O Brasil é um país em que infelizmente há locais bem segregados indiretamente, como as classes sociais ainda é muito marcada pela cor da pele, isso acaba se tornando bem visível nos meios dos quadrinhos. Se você olhar para os becos dos artistas de quaisquer evento de grande porte do meio, você encontrará algumas exceções de pessoas pretas. Se você for reparar nos proprietários de editoras você encontrará uma variação ainda menor de raça (se é que há algum proprietário de editora de quadrinhos negro!).
Você consegue entender o quanto formar artistas da periferia é necessário e urgente? Esse é o tipo de iniciativa que é uma responsabilidade do poder público. Ainda bem que nesse caso houve uma integração do público com o privado esse ano, já que o primeiro Projeto contou com iniciativa privada e de ONG. O atual conta com a participação do Governo do Estado de São Paulo através de recursos do PROAC.
Qualquer obra artística parte do ponto de vista do autor e das suas vivências, independente do gênero narrativo. Por isso ter artistas que viveram experiências diferentes daqueles que já vêm publicando é uma possibilidade dos leitores terem acesso a histórias com outros enredos ou construções. Essa diferenciação tanto atrai o leitor que busca histórias diferentes quando ajuda a formar novos leitores. Não há como explicar a sensação de alguém da periferia que encontra nos personagens e/ou situações muito próxima a sua. Isso confere ao leitor uma verdade que o leva a se integrar com mais intensidade à história e permite que pessoas de realidades mais distantes possa conhecer de perto outros olhares.
O momento agora é fazer com que o projeto chegue a um maior número de pessoas com o perfil do projeto para que ao final grandes talentos surjam e a gente possa desfrutar de excelentes histórias.
Vou deixar agora as informações do projeto em forma de perguntas e respostas.
- Como faço minha inscrição e até quando posso me inscrever?
Para se inscrever mande email para narrativasperifericas@editoramino.com o período de inscrição vai de 7 a 25 de fevereiro.
- Quantos serão selecionados?
Essa edição pretende selecionar 10 artistas da periferia da região metropolitana de São Paulo.
- Em que consiste a premiação?
Os selecionados participarão de um curso formativo e gratuito com duração de oito meses ministrado por Janaína de Luna e Pedro Cobiaco. O curso inclui conhecimentos técnicos para a produção de quadrinhos como narrativa, roteiro, composição, desenho etc. Além disso eles contarão com mentoria individual e em grupo para a produção e a publicação de uma obra inédita. E não é só isso! Os selecionados terão a oportunidade de participar de masterclass com grandes artistas nacionais como Alcimar Frazão, Ferrez, João Azeitona, Rafael Grampá e Shiko ; eles contarão com material de apoio pedagógico com a aquisição de livros referência e uma bolsa de auxílio transporte e compra de materiais artísticos.
- Quais informações você deve enviar no e-mail?
Envie seus dados pessoais - nome artísticos e completo, data de nascimento, gênero, raça, telefone, e-mail e endereço. Junto a isso envie texto de apresentação, amostra de trabalhos e proposta de projeto.
Para conhecer mais sobre esse projeto, acesse o site da Editora Mino.
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