Para fugir de uma acusação de assassinato, John Constantine encontra hippies num acampamento na beira da estrada. Lá ele pôde experimentar uma vida com paz e drogas como ele sempre sonhou. Isso até quando um grupo de supostos policiais atacarem ele, a sua companheira e a filha dela levando as duas consigo. Constantine consegue resgatar a mulher mas a garota chamada Mercury é levada para um local desconhecido. Esse é o primeiro arco da revista do personagem de 1988 e que teve a sua republicação mais recente pela Editora Panini em agosto de 2017.
Para a vida de Constantine, nem um sequestro é igual ao que ocorre as demais pessoas. Uma agência secreta estava envolvida com o desenvolvimento de tecnologia capaz de lidar com um grande nível de energia. Todo esse potencial é transportado através de Linhas de Ley, uma linhas retas próximas a Londres por onde energias passam. Mercury é uma garota com uma maturidade maior do que o esperado e isso atraiu os seus captores que vêem nela a possibilidade de potencializar habilidades paranormais nela.
O quadrinho é escrito por Jamie Delano, o roteirista que deu início ao título mensal do personagem e que define as características da revista e do personagem. A sua história mais marcante é Newcastle em que ele conta a grande vergonha de Constantine que é, ao mesmo tempo, o grande motivador do personagem. A imagem que o mago passa para todos é de um cara irônico que tem um marcante individualismo, para isso ele descarta qualquer valor moral que poderia inibir as suas ações. Contudo Constantine traz consigo a marca da culpa de ter invocado um demônio que matou alguns dos seus amigos e uma criança inocente. É esse sentimento que o faz arriscar a sua vida com o sobrenatural e ele está procurando sempre escondê-lo com uma pose de desdém. É por causa dessa complexidade, além da falta de um uniforme com colante e por ele não soltar raios pelos dedos que o torna um personagem tão difícil de trabalhar. São poucos os autores que conseguem captar e criar histórias preservando essa essência e ainda assim construir situações interessantes para o personagem.
Jamie Delano foi um dos melhores nomes para essas histórias de estréia. A escrita dele possui similaridades com a escrita literária com o seu texto carregado em detalhar pensamentos e sensações com uma linguagem conotativa. É um texto pra ser apreciado com vagar e exige do leitor uma maturidade para apreciar esse tipo de escrita. É aqui que eu percebi um problema, já que esse arco eu li a metade pela edição da Editora Panini e outra metade pela Editora Brainstore. Luy Coutinho traduziu a edição da Brainstore e nela o texto é o mais resumido possível, toda a beleza da escrita de Delano se perde pra facilitar a agilidade na narrativa. Na edição da Panini, o tradutor é o Fabiano Denardin e lá é possível degustar toda a beleza do texto. O que eu recomendo é que você leia com toda a calma do mundo e só aprecie, de preferência pela edição da Panini.
A Máquina do Medo possui um roteiro que vai se construindo sem pressa, são nove capítulos que demoram para começar, contudo não pense que é arrastado. O início mostra o contato de um grupo com a natureza para mostrar para o leitor o quanto isso vai além de um pessoal que "quer romper com as estruturas", em momento algum achei a narrativa maçante. É bem verdade que a história possui ritmos diferentes e que quando passa para a investigação tudo fica com um maior dinamismo. Ao final, o autor dá a impressão de ter feito uma pesquisa sobre misticismo oriental para concluir o arco, eu falo "dar a impressão" porque eu não tenho conhecimento sobre isso mas ainda assim as explicações passaram uma verdade que me deixou satisfeito dentro do contexto da história.
O arco é em nove partes e a maioria delas é desenhado por Mark Buckingham mas como possui muitas páginas, outros desenhistas também participaram: Richard Piers Rayner, Mark Hoffman. Os traços distoam pouco durante toda a história e são essencialmente bem detalhados e bem expressivos. Se a revista Hellblazer não se destaca pelo desenhos nos primeiros números, aqui já há um traço muito agradável.
Máquina do Medo é um excelente arco da fase de Jamie Delano, um roteirista que escreve quadrinhos para pessoas maduras não apenas pela temática abordada mas também por trazer uma escrita densa e com qualidade. Uma história que vai a fundo no lado místico das histórias de John Constantine e acrescente alguns elementos de terror, além de trazer uma pitada de teoria de conspiração que numa ficção é bem agradável. Um arco que possui uma ótima junção de texto e imagens feito por uma equipe criativa bem conectada.
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