A leitura nos permite o contato com culturas diversas de qualquer lugar do mundo, até porque é possível encontrar uma boa produção de quadrinhos onde quer que você esteja. Os Inkas são um povo que habitaram o Peru por séculos e que possuem uma complexa cultura, basicamente há uma representação do bem e do mal através da batalha da luz contra a escuridão. Por isso a Editora Quadriculando trouxe em 2020 o primeiro livro da coleção Ayar.
A edição brasileira inicia com um glossário já que a obra traz muitos termos na língua original e ajuda o leitor a compreender aspectos chave dessa cultura como as entidades, os guerreiros, os reinos (que simplificando muito traz similirades com céu, inferno e terra), além de instrumentos e os templos mais importantes, é uma pena que o texto não é claro tornando difícil para o leitor que desconhece sobre o assunto. Em seguida, a história já nos coloca nesse mundo com todos os termos escritos na língua original. Isso em si não é um problema. O problema está em como foi construída a narrativa que deveria pensar em como introduzir o leitor nesse mundo. Eu já fiquei confuso lendo os conceitos do glossário e a leitura não contribuiu o suficiente para que eu conseguisse me ambientar naquela história que utiliza tantos termos numa língua distante da minha. Teria sido melhor se a obra fosse dividida em pequenas histórias introdutórias ou uma longa história em que a narrativa fosse introduzindo os conceitos no decorrer da trama. Em vez disso, o roteirista Oscar Barriga coloca para o leitor o maior número de conceitos que consigam caber em cem páginas somado a isso houve uma sequência de eventos ocorrendo rápido que me fez lembrar do jeito de contar histórias no estilo mangá. Talvez para um grande pesquisador do assunto tudo isso tenha funcionado para garantir a diversão, mas comigo não.
Os desenhos de Virgínia Borja Flores e Bernardo Dolmos trazem situações polêmicas. O traço lembra muito as comics de heróis estadunidenses, o que possibilita que o produto seja mais facilmente vendável, contudo isso acaba limitando a originalidade do traço, algo que senti falta tanto pelo quadrinho ter uma proposta da valorização de uma cultura destruída pelos invasores europeus quanto pela expectativa que eu criei em ler um quadrinho peruano e esperar por um traço diferente do que eu estou acostumado a ver. Além disso, o traço traz um outro problema agora na narrativa: os guerreiros parecem três irmãos gêmeos casados com três irmãs gêmeas. Caso isso seja assim na lenda original, caberia que o figurino de cada um deles fossem muito diferentes um do outro. Se a lenda não cita essa semelhança então é um problema de limitação do traço dos artistas que dificultou a leitura já que era necessário distinguir um do outro na sequência de acontecimentos.
Ademais a edição brasileira traz os seus próprios problemas. Logo de início não é citado de forma discriminada o que fez cada um dos autores. Eu tive dificuldade de encontrar na minha pesquisa algum site que cite quem escreve e quem desenha, eu não encontrei quem fez as cores e nem o editor. A capa traz quatro sobrenome mas não cita quem faz o quê. Quanto ao texto, eu senti a falta de um revisor e alguém para adaptar o texto dessa edição, é possível ver em vários momentos desde a apresentação, erros de revisão e um texto que poderia ter ficado mais claro. Além disso, tive a impressão que as cores foram prejudicadas pela impressão, fora a tensão que eu senti durante a leitura ao passar as páginas: as páginas não são organizadas em cadernos mas coladas em conjunto, o que pode fazer com que as páginas despreguem se a gente abrir muito a revista.
Ayar A Lenda dos Inkas é um quadrinho que é uma referência para quem tem curiosidade em conhecer essa rica cultura. É uma pena que narrativamente seja uma obra má construída e que teve uma edição brasileira que trouxe outros problemas. É inegável a qualidade do traço e o quanto ele encanta os leitores de quadrinhos de heróis estadunidenses. Contudo eu penso que se os autores repensassem uma maneira de reestruturar a obra seria bem melhor e espero que a editora reveja alguns problemas da edição para continuar em busca da publicação de grandes obras da nona arte pelo mundo.
Ficha técnica:
- Autor: Oscar Barriga
- ISBN: 978-65-990779-2-0
- Editora: Quadriculando
- Ilustradores: Barriga - Borja - Dolmos - Almanza
- Selo: Quadriculando
- Ano de publicação: 2020
- Edição: 1ª
- Páginas: 100
- Dimensões: 27cm x 17cm x 0,5cm
- Peso: 235g
- Tradução: Thiago Vasconcellos Mondenesi
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