Cruzada Infinita - o fim da Trilogia do Infinito

 


Quando Warlock recebeu as jóias do Infinito, ele resolveu se despir de todo o bem e mal dentro de si para lidar com maior discernimento sobre as suas decisões. Entretanto o seu mal personificou em Magus que foi derrotado em Guerra Infinita, agora o universo precisará lidar com o bem de Warlock autonominado de Deusa. Essa mini-série foi publicada originalmente entre 1996 e 1997 pela Editora Abril e recentemente ganhou uma publicação de luxo pela Editora Panini. 

A Deusa entra em contato com os heróis mais poderosos do Universo Marvel independente da sua religião, o critério que ela utiliza para escolhê-los é o tamanho da sua fé em algum ente superior. Investida de poderes de objetos de vários universos, a deusa não só convence por tocar em algo tão sensível quanto a fé como utiliza de controle mental para impedir que quaisquer maldade aconteça. Assim ela acaba convencendo os seus seguidores de que eles estão unidos por uma cruzada para acabar de vez com todo o mal. 

O ponto alto da história é o início que, além de apresentar toda a montagem da trama, mostra o dilema moral que dividiu os heróis, mesmo os que não foram escolhidos pela Deusa, passaram a questionar se o bem de não haver mais crimes justificaria o controle mental da população, além disso alguns começaram a questionar a própria fé por não ter sido escolhido por ela. É uma pena que o roteirista Jim Starlin, apesar de ter estabelecido um bom enredo, não soube desenvolvê-lo. Até a metade da história, ele alonga esse dilema moral e daí em diante ele toca pouco no assunto, do meio para o fim é uma briga aleatória entre heróis servindo como um entretenimento enquanto Thanos e Warlock buscam resolver toda a situação. 

É possível comparar a sensação hoje ao ler essa história com relação há quase 30 anos. Na época, eu entendia que era óbvio que não é transformando pessoas em zumbis sob seu controle que iria resolver os dilemas sociais. Hoje a solução da Deusa atrairia muita gente que utilizou do seu esgotamento frente ao aumento da crimenalidade para justificar o seu ódio frente as demais pessoas que pensam ou se comporte diferente àquilo que eles estabelecem como sendo o certo. Ao adentrar na história as semelhanças com o nosso tempo só ampliam. Os heróis que optaram por defender a vilã passaram a agir de forma cada vez mais atroz, indo do ponto de "eles não querem permitir que a Deusa traga o Progresso" para "devemos jogar uma bomba nos infiéis", tudo isso inflamado a partir da sua crença religiosa. Religião é derivada da palavra "religar" e tem a intenção de estabelecer algumas normas para que pessoas convivam de maneira harmoniosa entre si. Contudo esse é o principal motivador dos conflitos e das guerras já que é a partir da manipulação da fé que se justifica toda a violência aos infiéis. Os "irmãos" se restringem àqueles que possuem a mesma fé e os demais são os inimigos e com isso crimes como humilhações, torturas e assassinatos são justificáveis já que o inimigo perde, para essas pessoas, o aspecto humano. 

Jim Starlin representa muito bem essa vulnerabilidade humana no seu roteiro. É uma pena que o mesmo não é acompanhado de um desenhista a altura. Ron Lim tem um traço bem meia boca e que não me agrada em vários aspectos, a falta de um detalhamento nas cenas de destaque, a ambientação e principalmente em como seus personagens não sabem o tom expressivo que a cena pede. Eles estão gritando em momentos que está ocorrendo um diálogo simples, fora que esse aspecto de estar todo tempo em posição de luta acaba ficando muito clichê. 

A Trilogia do Infinito se encerra aqui e mostra que apenas a primeira história, Desafio Infinito, merece uma maior atenção. O sucesso dela levou a essas duas outras que são divertidas mas esquecíveis. Isso é o erro em querer que uma história de sucesso seja alongada a todo custo para faturar em vendas. Em todas as histórias, tanto faz ter os maiores heróis da Terra. É possível resumir a Trilogia como uma grande história de Thanos e Warlock com o Deus Louco agindo indireta e diretamente como herói nas três situações. As histórias têm a sua importância para esses dois personagens e em estabelecer o poderio das Jóias do Infinito que exerceram importância no Universo Marvel a partir daí.

Cruzada Infinita é uma história que inicia muito bem com o dilema moral entre os personagens mas acaba tendo muito pouco pra desenvolver depois disso. Para quem gosta de lutas curtas e aleatórias entre super-heróis é um prato cheio. A verdade é que o quadrinhos tem pouco além disso a oferecer e decepciona em concluir a Trilogia do Infinito. Se ainda assim você resolver ler, vá com poucas expectativas como quem vai fazer apenas uma leitura de banheiro. 

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Tradução (edição Editora Abril) - Estúdio Nanquim

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Desafio Infinito - o início da Trilogia do Infinito dos anos 90

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