Durante a Segunda Guerra Mundial uma garota judia resolveu registrar num diário o horror de como era ser uma adolescente naquele período com a sua família refugiada escondida por dois anos num sótão de uma casa. O cineasta e roteirista israelense Ari Folman adaptou o texto e contou com os desenhos do ucraniano David Polonski, esse quadrinho foi publicado em 2017 pela Editora Record.
Para uma história em quadrinhos não seria viável quadrinhizar cada página, assim os autores preferiram juntar alguns dias do diário original e adaptá-los em uma única página. Isso porque o livro clássico não consta de uma narrativa que traz uma série de acontecimentos em sequência sempre, entre eles há também reflexões e troca de cartas. Uma adaptação em quadrinhos precisa lidar com uma forma de contar essa história que não deixe o leitor entediado e leve em consideração ao mesmo tempo os aspectos que a tornam brilhante.
Anne Frank se distância das garotas da sua idade por sua capacidade de escrita e reflexões tão profundas sobre a realidade mas aproxima-se de uma adolescente típica quando descobre o despertar da sua sexualidade com as dúvidas sobre o próprio corpo e o seu desejo. É nesse momento que, mesmo durante uma guerra, é possível viver uma paixão intensa. Por isso, essa não é simplesmente o relato de um momento dramático mas a autora mesmo diante de tanto horror consegue tirar momentos de uma vida comum. Isso provavelmente é que possibilitou dar forças a protagonista para suportar uma experiência como aquela.
Essa é uma HQ com diversos gatilhos para quem não está emocionalmente bem já que o tema central são as restrições de viver escondido durante dois anos temendo morrer a qualquer momento. Aqui é possível entender como é ter que viver em cima de um local com trabalhadores onde é preciso fazer total silêncio durante todo o horário de trabalho para não ser notado. Uma situação que era perigosa tanto para os judeus quanto aos demais que se arriscavam a ajudar. No decorrer da leitura a gente imagina que tudo isso ocorre apenas por uma minoria ser de uma religião diferente e que isso serviu de mote para criar notícias falsas para alimentar um ódio estúpido aos judeus afim de favorecer a auto-estima do povo alemão levando-os a crer que eram superiores a todos os demais.
Ari Folman tem a habilidade de mudar a narrativa para evitar entediar o leitor. Para contrabalancear os horrores da guerra, ele insere piadas ou situações inusitadas fruto da imaginação da protagonista. Para isso, David Polonski faz um traço que lembra as animações dos anos 60 mas que consegue trazer cenas muito criativas. Eu destaco em especial uma página sem balões que mostra as diferenças de Anne e a sua irmã, uma página que consegue dizer muito apenas com o visual das duas personagens. Ainda que grande parte foi tirada da obra original vale ressaltar como eles representam textos com linguagem conotativa ou situações imaginárias dando um toque de humor.
O Diário de Anne Frank é uma ótima adaptação por contar uma história clássica utilizando de elementos que só poderiam existir numa história em quadrinhos e que vão além de narrar a sucessão de fatos. Apesar do traço ser cartunesco, essa não é uma história voltada para crianças por trazer as consequências diretas do ódio que separa as pessoas. Infelizmente o mundo está tendo que lidar com o fascínio que o nazismo vem causando em cada vez mais pessoas e por isso, conhecer em detalhes a vida real dos judeus e entender o quão absurdo que foram os motivos que levaram àquilo, é necessário, seja dentro ou fora das escolas.
Ficha técnica:
- Tradutor:Raquel Zampil
- Formato:Brochura
- Suporte:Texto; Imagens
- Altura:27cm
- Largura:18cm
- Profundidade:0.9cm
- Lançamento:11-09-2017
- Páginas:160
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