Cumbe - a HQ premiada com Eisner de Marcelo D'Salete

 


O paulista Marcelo D'Salete levou anos para produzir a sua maior obra, Angola Janga. Enquanto essa obra estava sendo gerada, ele percebeu que haviam uns contos que não iriam entrar na história e resolveu reuni-los nesse livro que foi publicado em 2014 pela Editora Veneta. As duas obras ganharam o mundo e conquistaram vários prêmios. Cumbe ganhou um Eisner, maior prêmio estadunidense dos quadrinhos, em 2018. Lá a obra foi publicada pela editora Fantagraphics. 

A obra é composta por quatro contos em quadrinhos ambientada no Brasil escravista do século XIX, quando as células de resistência conhecidas como quilombos já estavam bem estruturadas. Cada conto passa uma ideia diferente mas possuem sutis pontos de interligação entre si. A temática é bem variada como uma visão complexa de liberdade, vingança, resistência e esperança; todos carregados de tanto simbolismo nas imagens que pode-se considerar uma poesia em quadrinhos. 



Nós brasileiros somos fruto de uma missigenação tão intensa que independente da cor da pele cada pessoa possui um descendente índio ou negro. A diferença que há está na diferenciação de como as pessoas se tratam dependendo da intensidade da cor da pele e da quantidade de traços que se atribuiu serem dos negros ou dos brancos. É por isso que quando nos deparamos com conhecimento histórico e entendemos que quando conhecemos o que ocorreu com índios e negros, estamos entrando em contato com a história da nossa própria família, é que é possível eliciar uma maior sensação de empatia que leva ao repúdio ao comportamento de discriminação tão presente em nosso país. 

Além da importância histórica, a obra tem várias qualidades como narrativa em quadrinhos. D'Salete utiliza de ângulos inusitados como foco em vários quadrinhos e utiliza isso muito bem para contar histórias que emocionam pelo seu conteúdo, deixando uma mensagem bem forte ao final. O último conto "Malungo" é onde ele explora com mais intensidade a linguagem conotativa e foi onde eu tive uma menor conexão por ter ficado perdido em vários momentos. Contudo nos três contos anteriores a imersão na leitura me possibilitou vários sentimentos sendo o mais agradável a mensagem de esperança que o terceiro conto (que tem o mesmo nome da obra) traz. 

Cumbe é um quadrinho que recebe premiações que fazem justiça a qualidade da obra. Mesmo que a narrativa exija uma bagagem sobre narrativa em quadrinhos, vale a pena aos leitores (sejam eles veteranos ou novatos) conhecerem a obra. Ainda que o texto escrito não seja o predominante, essa é uma obra pra ser lida com vagar buscando ver os detalhes dessa linda arte de um dos melhores autores dos quadrinhos brasileiros. 

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Ficha técnica:

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