Bone - o mais bem sucedido quadrinho independente dos anos 90



 Os anos 90 são considerados a década perdida dos quadrinhos, com a inauguração da Image, um modelo de personagens muito fortes, mulheres esculturais, cores por computador e roteiros pífios marcaram esses anos. Contudo se a DC, apontava um caminho de qualidade com o Selo Vertigo, outros gibis corriam bem por fora da disputa dos gigantes. Bone apareceu de forma despretensiosa e foi ganhando prêmios Eisner, chegando a marca de 10 estatuetas. Hoje além de ser publicado em 25 países, a Editora Todavia publica a obra completa em três edições, iniciando a primeira delas em 2018, outras editoras já haviam trazido a obra para o país mas não conseguiu finalizar. 

Bone é um ser branquelo que lembra o Gasparzinho, mas diferente do fantasminha camarada, ele é muito vivo. Bone na verdade é uma raça de seres pequenos e brancos que seriam a antrapomorfização de um osso. A história tráz três bones: Fone, Smiley e Phoney que acabaram de ser expulsos de Boneyville por causa de um plano de Phoney que deu muito errado. Longe de casa, cabia aos baixinhos encontrar uma forma de se virar num deserto cheio de perigos. Os personagens têm a personalidade bem diferentes mas ainda é possível encontrar alguma similaridade dentro do conceito Freudiano de id, ego e superego; algo muito comum quando se apresenta um trio de protagonistas. Smiley é o grandalhão abobado que é só emoções um perfeito id, o que acaba deixando ele com um ar de ingênuo. Phoney é aquele que está sempre planejando uma forma de se dar bem na vida, ainda que não tenha toda o rigor moral do superego, o seu jeito racional o aproxima desse conceito. Por fim, Fone fica entre um e o outro e acaba sendo o intermediário dos dois como um bom ego tem que ser. 

Além das dificuldades habituais, o trio teria que sobreviver às ratazanas que por algum motivo foram designadas a capturá-los. Eles quase não conseguiriam fugir se não contasse com a ajuda de um dragão. Além do largarto voador, os Bones conhecem a garota de nome Espinho, a vovó boa de briga Rosie e um zangado dono de um bar chamado Lucius.

Quando Jeff Smith criou o gibi, ele não pensou em limitar a sua proposta para crianças. Aliás se você pretende dar de presente para uma criança, leia antes e defina a faixa etária indicada. Olhando a capa e algumas páginas dá a impressão de ser um gibi bobo pela simplicidade dos traços. Porém ao lê-lo, é possível sentir-se muito fisgado pela narrativa a ponto de não querer soltar o livro. A história começa com uma proposta de uma aventura simples e com bom humor, contudo o que me surpreendeu foi o fato de Smith apresentar detalhes de uma cultura que ele criou além da história sair do mundo físico e estabelecer uma relação entre isso tudo e raças diversas. 

Voltando ao assunto da faixa etária, Bone traz entre seus coadjuvantes o Smiley Bone que está sempre fumando, além disso no decorrer da história há lutas com espadas e desmembramento. É preciso enfatizar isso porque a leitura é tão acessível e agradável que dá vontade de ler pra uma criancinha e divertir-se junto com ela, contudo não há páginas encharcadas de sangue, a violência existe mas cada família decide se o nível é adequado ou não para a criança que por acaso vai ler ou apenas acompanhar a sua leitura. 

Bone foi concebido originalmente em preto e branco, com o passar dos anos Steve Hamaker ofereceu-se para colorir e o resultado ficou tão bom que eu não consigo imaginar a obra sem essas cores tão intensas e que complementa a narrativa principalmente pra definir o momento do dia em que a ação acontece. No Brasil a obra foi publicada como uma trilogia pela editora Todavia e foi traduzido por Érico Assis que traz um texto tão solto que faz jus ao sucesso da edição original, com piadas adaptadas que funcionam muito bem e com diálogos cujo texto não cansam o leitor. Além disso, o formato é aquele que eu considero mais agradável de ler: uma capa cartão com orelhas e o papel fosco macio e brilhante deixaram a edição confortável pra ler em qualquer lugar sem que a gente fique com medo de quebrar a lombada caso o livro venha a cair. 

Bone é um personagem com um traço simples mas que consegue nos emocionar bastante. Para quem está aprendendo a desenhar, vai encontrar nesse gibi soluções bem praticas de como representar de maneiras sutis diversas emoções. O autor é tão complexo que a hq traz variações na sua ambientação, surpreendendo o leitor num virar de páginas para um paraíso natural tão detalhado que foge a ideia inicial da simplicidade das primeiras páginas. 

Bone é uma trilogia que conta uma única longa história. A forma como o autor a conduz  faz com que públicos de quaisquer faixa etária se apaixone tanto pela narrativa que conseguem matar duzentas ou quatrocentas páginas sem se cansar. O gibi já bastaria em si se fosse apenas uma aventura bem humorada de três coisinhas de personalidades diferentes contudo somos surpreendidos por uma aventura que inclui elementos que tira o enredo da realidade habitual e que apresenta uma cultura crível criada por Jeff Smith, o que teixa o enredo rico. Esse é um excelente gibi que eu recomendo a qualquer pessoa (seja leitor novato ou das antigas) que queira ler ou dar de presente uma história que certamente vai agradar. 



Compre aqui:

Caixa com a trilogia

Bone 1

Bone 2

Bone 3


Ficha técnica:

Bone 1 - Vale ou Equinócio Vernal

GÊNERO Ficção estrangeira
TRADUÇÃO Érico Assis
FORMATO 16x23x2,3 cm
PÁGINAS 448 PESO 0,790 kg
ISBN 978-85-88808-41-6
ANO DE LANÇAMENTO 2018


Bone 2 - Phoney Contra-Ataca ou Solstício

GÊNERO Ficção estrangeira
TRADUÇÃO Érico Assis
FORMATO 16x23x2,1 cm
PÁGINAS 416 PESO 0,740 kg
ISBN 978-85-88808-90-4
ANO DE LANÇAMENTO 2019


Bone 3 - Amigos e Inimigos ou Colheita

GÊNERO Ficção estrangeira
TRADUÇÃO Érico Assis
FORMATO 15,7 × 23 × 2,1 cm
PÁGINAS 512 PESO 0,903 kg
ISBN 978-65-80309-41-2
ANO DE LANÇAMENTO 2019


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