Adam Wild 1 - Os Escravos de Zanzibar

 

Capa italiana de Adam Wild

 A Saicã Editora estréia no mercado brasileiro de quadrinhos com o lançamento de Adam Wild em março de 2021. Esse é um fumetti de Gianfranco Manfredi que já escreveu roteiros para Dylan Dog e Nick Raider e criou Mágico Vento. A história é ambientada na África do Século XIX no período em que nações invadiam o continente para comercializar pessoas escravizadas. Na contramão desse horror, Adam Wild estava ali para impedir que escravagistas tenham êxito e se possível matar a bala o maior número possível deles. 

 O italiano Narciso Molfetta conheceu na África a fama de Adam Wild em libertar escravos e decidiu contratá-lo para uma expedição que iria simular a trajetória de David Livingstone, um dos maiores exploradores da África negra. Essa é uma aventura perigosa tanto pelos animais selvagens com que eles iriam se deparar ou por povos originários não amistosos quanto por escravagistas. No meio do caminho, a dupla encontra a princesa guerreira Amina, uma mulher de coragem e astúcia insuperáveis. Na contramão da expedição, Wild precisa lidar com o seu antagonista, o estadunidense Frankie Frost que está ali para matar elefantes e extrair marfim e, se possível, para levar negros africanos para expor em circos nos EUA. 

A primeira impressão que eu tive a saber sobre o quadrinho foi uma rejeição por ser mais uma história do branco salvador no continente africano. Por outro lado, a editora italiana Bonelli é conhecida por primar pela qualidade nas histórias que publica e por isso a hq poderia trazer consigo referências históricas sobre esse período, o que poderia contemplar a minha curiosidade em saber mais sobre o assunto. 

Essa edição é composta por quatro histórias completas mas que não podem ser lidas de maneira independente já que há uma linearidade entre elas. O protagonista é muito carismático seja pela sua coragem que beira a falta de noção em enfrentar grupos armados sem nenhum plano inicial, ou o seu jeito canastrão em fazer piadas por mais perigosa que seja a situação e, claro, por satisfazer o nosso desejo de ver alguém recepcionar a bala um escravagista. Wild é uma forma de introduzir uma pessoa com o olhar ocidental num continente que é um verdadeiro universo à parte devido a uma diversidade de culturas ali presente. 

A população africana está longe de ser mostrada como meras vítimas nesse gibi. Manfredi através de Amina e outros personagens trazem a simbologia dos povos originários que lutaram contra a escravidão. Além disso, a hq mostra etnias do continente que aprisionaram outras para vendê-las como escravos. Assim, a participação do negro no gibi nem é subestimada e nem colocada como o "bom selvagem" mas mostra diversas situações em que povos diferentes agiam mesmo sendo do mesmo continente. 

Adam Wild é um homem branco escocês, influenciado por ideias anti-escravidão provindas da Grã-Bretanha, contudo nessa edição a gente não sabe nada da sua motivação e do porquê do seu ódio tão intenso a escravidão. No Século XIX, havia pessoas como Wild que lutaram contra a escravidão mas havia também povos como estadunidenses e árabes que lucraram muito tanto com a extração de marfim e demais riquezas quanto com a escravidão. Um detalhe que a hq aborda é o fato de que simplesmente libertar pessoas escravizadas não resolvem a situação, já que elas estão longe de seu lugar de origem e estão vulneráveis a serem capturadas novamente por outras pessoas. 

O fumetti revesa uma aventura original com fatos históricos reais, como a citação de David Livingstone, uma pessoa que viveu na época e registrou muito do que viu durante as suas viagens. Cada início dos capítulos traz um texto explicativo sobre o contexto histórico e eu acho que ficaria ainda melhor se viesse o mapa do continente como extra indicando os pontos dos principais acontecimentos, ainda que na época não houvesse a divisão em países como é atualmente. 

Com relação a arte, o quadrinho é desenhado pelo italiano Alessandro Nespolino e os sérvios Darko Perovic e Vladimir Krstic. Eu destaco a maneira detalhista com que Nespolino faz o seu desenho, logo na primeira parte, um traço que é bem conduzido tanto na ambientação quanto na caracterização dos seus personagens com a expressividade na dosagem certa. Os demais desenhistas tem um estilo bem diferente mas a personalidade do seu traço também agrada. O desenho de Adam Wild é tão acima da média quanto o seu roteiro. A editora só precisa ter cuidado no problema de impressão em algumas páginas (menos que dez)  que tiveram a sombra de outra página sobreposta, contudo nada que impedisse a leitura. 

Adam Wild é um excelente fumetti que mescla ficção com pesquisa histórica. Gianfranco Manfredi mostra uma habilidade fora do comum como contador de histórias e cria personagens cativantes, mostrando uma África complexa constituídas por povos explorados mas que não se rendeu facilmente a escravidão e que contou com invasores que se aproveitaram da escravidão como os árabes, europeus e estadunidenses. Eu indico esse quadrinho tanto para quem gosta de boas aventuras quanto para aqueles que gostariam de conhecer um pouco mais sobre como era a África no período escravagista. 

 


Ficha técnica:

Publicado em: março de 2021

Editora: Saicã
Licenciador: Sergio Bonelli Editore
Categoria: Edição Especial
Gênero: Aventura
Status: Em circulação
Número de páginas: 398
Formato: (16 x 21 cm)
Preto e branco/Lombada quadrada/ capa cartão com orelhas

Preço de capa: R$ 50,00
 
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