Júlia aventuras de uma criminóloga 6 - Jerry Desapareceu

 


Quem cuida de criança pequena sabe que basta uma distração pra que a criança a "cegue", isto é desapareça do seu campo de visão. Um momento de distração em que muita coisa pode acontecer conforme a imaginação da criança. A história dessa edição não é de uma traquinagem infantil mas de um possível sequestro. Para resolver o caso, a polícia mais uma vez convoca Júlia Kendall. Essa é a sexta edição da republicação do fumetti da criminóloga que foi republicado pela Mythos Editora em fevereiro de 2020. 

A investigação leva ao aparecimento de vários personagens que tornam-se suspeitos do crime. Além dos policiais, a protagonista conta com a ajuda do seu amigo Baxter para ajudar na investigação. O roteiro de Giancarlo Berardi nos leva a desconfiar de cada personagem que aparece e somos surpreendidos da ousadia do final além de sermos contemplados com a forma brilhante como a personagem resolve o caso, que é uma marca registrada do gibi.


 

Os desenhos são de Marco Soldi que tem como principal destaque as expressões faciais dos seus personagens. O gibi traz um momento de terror em que o desenhista fica aquém do esperado mas o que mais incomoda no seu traço é a forma como Emily é representada. Ela é a empregada doméstica negra de Júlia e que é representada de uma forma animalesca. Os demais personagens negros que aparecem na história não possuem essa característica, talvez ele utilize isso como recurso para torná-la um alívio cômico, mas ainda assim é  uma péssima escolha narrativa. 

Além desse problema da imagem de Emily, as suas ações são estereotipadas. Ela é uma negra que só ouve música de artistas negros, vê apenas filmes e séries com temática negra e  lê livros sobre a escravidão, além de ser uma trabalhadora que possui uma jornada de trabalho interminável, uma "funcionária modelo" pra uma elite que tem saudades do período escravocrata. Essa edição como em outras traz momentos em que preconceitos aparecem de forma muito sutil. Como na página 61 em que o cabeleireiro afirma: "Venho de uma família pobre mas honesta!" Como se uma coisa contradissesse a outra. A Bonelli Editora é conhecida por sua qualidade editorial mas em várias edições a sensibilidade social é ignorada, ainda que sejam momentos sutis que não atrapalham a trama principal, são situações que me tira da história, detalhes que não deveriam mais estar presente num gibi produzido originalmente em 1999. 

Júlia aventuras de uma criminóloga 6 traz uma ótima história com um final ousado e que nos premia sobre como a protagonista resolve o caso. É uma pena que detalhes em que preconceitos são mostrados de formas sutis desnessariamente acabe tirando a imersão na leitura. Eu recomendo a leitura por ser essencialmente uma história bem acima da média.

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Ficha técnica:

Tradução: Júlio Schneider

 Publicado em: março de 2020

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