Jeanine é uma biografia de uma prostituta que ficou famosa por sua luta em prol dos direitos sociais da sua classe de trabalhadoras, a sua história passa por situações muito distantes do que poderia levar o seu ofício, como a sobrevivência de uma tragédia internacional ou ajuda a refigiados. A Editora Venetta em 2019 publicou a obra do francês Matthias Picard.
Jeanine teve uma infância pobre na Argélia em que ela carregava nos ombros a responsabilidade de ajudar nas despesas do lar. Foi lá que ela vivenciou o genocídio de centenas de pessoas mas além da sua sobrevivência ela conseguiu salvar a vida de duas crianças, essa tragédia a levou a mudar-se dali com a família mas levou consigo as dificuldades financeiras. Foi assim que ela utilizava da prostituição em alguns momentos para complementar a sua renda até, que com o passar dos anos, isso virou a sua principal fonte de renda.
O quadrinho revesa os momentos em que o roteirista Piccard mostra os momentos em que ele a entrevistava com a apresentação de momentos da vida de Jeanine. De início a forma como era conduzido o roteiro não me atraiu. Para mim, a história estava muito resumida, eu queria saber mais detalhes do contexto histórico da Argélia, sentia que momentos marcantes como a prisão de Jeanine e o namorado foram pouco explorados, o que acabou com que eu perdesse parte do meu interesse.
Contudo com o avançar dos capítulos o jeito de contar a história vai melhorando e o talento do autor vai ficando mais explícito. É tocante a forma respeitosa como a obra apresenta a personagem, geralmente quando se fala em prostituição a primeira associação que se faz é com imagens envolvendo sexo. A obra tem a intenção de mostrar o quanto é rica a história daquela pessoa e o sexo acaba aparecendo de maneira muito sutil. Um momento tocante é quando o autor conversa com a Jeanine sobre isso, ela mostra a sua versão sobre o que leva os homens a procurá-lo, os motivos vão muito além do desejo e mostra as diversas carências dos seus clientes.
O traço é simples e conta com toda a sujeira do estilo underground. Para quem folheia algumas páginas do livro tem a impressão de que o desenho é de amador mas ao ver todas as páginas a gente percebe que o traço foi feito propositalmente e não por falta de talento. Toda a concepção da apresentação do quadrinho faz todo o sentido por levsr a crer que o autor quer contestar ideias já estabelecidas de que as prostitutas são mulheres de vida fácil que optaram pelo hedonismo e isso as definem completamente. Esse ar de contestação está presente tanto na arte quanto nas letras, o gibi traz um letreiramento feito a mão, tudo para criar um ar fora dos padrões, que é exatamente a proposta do quadrinho, em alguns momentos as letras não são bem nítidas mas não chega a imprdir a sua compreensão.
A prostituição é uma profissão de risco que apesar de legalizada, sofre perseguição do Estado no seu local de atuação, além disso, as mulheres não possuem direitos trabalhistas resguardados ficando a mercê da sorte quando atinge a velhice ou adoecem. A vida de Jeanine é um exemplo de uma mulher que ajudou várias pessoas ao seu redor além das suas colegas de trabalho como os refugiados na França. Esse tipo de humanização acaba mostrando que as pessoas são tão complexas que não podem se resumir a uma escolha profissional.
Jeanine é uma biografia em quadrinhos que traz uma história cheia de situações curiosas de uma prostituta que viveu situações tão diversas que a sua vida sexual é um mero detalhe. Uma obra que proporciona um olhar diferente e faz com que o leitor veja a complexidade da pessoa além dos nossos conceitos pré estabelecidos. Apesar do roteiro dar uma escorregada inicial ele melhora bastante do meio pro fim. Uma história adulta indicada para quem gosta de conhecer figuras com vidas inusitadas.
Ficha técnica:
Peso | 0.393 kg |
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Dimensões | 24 × 17 × 1.2 cm |
Acabamento | Brochura/ preto e branco |
Tradutor | Maria Clara Carneiro |
Capa | Cartonada com orelhas |
Nº de páginas | 152 |
Preço de capa: R$ 50
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