Cavaleiro das Trevas - A Criança Dourada

 


Frank Miller tem uma Terra pra chamar de sua, entre as várias existentes no Universo DC essa é conhecida como a de número 31, a Terra do Cavaleiro das Trevas. Assim quando dá na telha, o autor visita essa realidade para publicar uma história. Isso foi exatamente o que ocorreu em Cavaleiro das Trevas - A Criança Dourada, publicada em 2020 pela Panini Comics. Essa edição faz parte do selo Black Label em que a DC publica histórias adultas fora da cronologia.

Essa é uma história fechada em que o leitor é jogado no meio das eleições estadunidenses em que a polarização extrema coloca a população num acirrado conflito entre si. Os responsáveis por essa confusão são o Coringa e o Darkside, que controlam através das redes sociais a agressividade dos eleitores. Darkside apesar de nutrir um imenso poder, sabe que a Terra é o local que resguarda a Equação Anti-Vida uma fórmula capaz de transformar as pessoas em escravas. Além disso, no planeta também vivem os poderosos filhos do Superman com a Mulher-Maravilha, Lara e Jonathan (que por ter poucos anos não foi possível calcular a intensidade dos seus poderes), assim esse é o palco perfeito para expandir o controle de mentes para todo o universo. 

O enredo se aproxima com a situação do mundo real. Esse ano, o final das eleições estadunidenses traz imagens de comércios protegendo as suas fachadas temendo a reação dos eleitores com o resultado. As pessoas estão num momento em que os seus anseios são muito distantes do grupo oposto e é como que a sua vida dependesse da destruição do outro que põe a sua vida em risco pelo simples fato de defender uma ideia divergente. Esse é o cenário da hq com tanta morte que nos faz indagar se é algo que vai se repetir no mundo real. Inclusive Donald Trump é utilizado como candidato a governador que recebe o apoio do Coringa.

Coringa com fotos de Trump ao fundo


São várias as cutucadas que a obra traz no leitor. Uma das que me chama a atenção é a frase da jaqueta embandeirada do Coringa que estampa a frase "Não tô nem aí. E você?" É com essa frase que ele conclama a multidão para votar em seu candidato. É fato que humanidade nunca conseguiu vencer o mal que o individualismo proporciona mas parece que isso está tão exarcebado que parece que pessoas perderam completamente o discernimento. Para defender um candidato ou um lado do debate, simplesmente abre-se mão de valores inquestionáveis. Quando que em algum dia eu iria imaginar que num tribunal juiz, promotor e advogado iriam ter que debater "estupro doloso"? Como assim isso é utilizado como argumento de defesa e como assim a vítima tem que ser exposta por um advogado a tanta humilhação sobre a sua vida por causa de fotos? Será que ninguém é capaz de perceber mais que uma mulher independente da sua conduta moral NUNCA deve ser estuprada? Chegamos ao ponto que expor a realidade é mais ridícula do que o enredo fictício de uma obra de ação pura e simples. 

A história consegue nos levar a pensar na realidade e lamentar por isso. Contudo a solução encontrada na história é simples: os vilões estão manipulando a reação das pessoas, assim basta vencê-los que tudo volta ao normal! Por isso, apesar da conexão com a realidade o gibi não tem a intensão de ir a fundo nas razões reais que levaram tamanha rixa ideológica. A conexão com a realidade é tão rasa quanto a solução encontrada na história. 

Os desenhos do gaúcho Rafael Grampá é o que há de melhor no quadrinho, ao mesmo tempo em que o seu traço estranho e cheio de movimento acelera a narrativa, os seus quadros trazem vários detalhes que acrescentam ao texto, como quando mostram as heroínas salvando o mundo sem se importar em salvar as vítimas. Uma contradição já que as heroínas, que são o meio utilizado para combater o ódio e a indiferença, agem também utilizando esses contra valores. Tanto Lara quanto a Batwoman têm os seus objetivos definidos e vão executá-los ainda que morram inocentes. Isso mostra o quanto o gibi não reflete sobre a sua própria crítica quanto a realidade e concentra-se bem mais no entretenimento.

Cavaleiro das Trevas A Criança Dourada é um gibi que se conecta com o embate de ódio do mundo real mas que não têm a intenção de aprofundar-se. Uma história de narrativa rápida e que encontra nos desenhos de Rafael Grampá a ambientação necessária. Frank Miller escreve uma história curta com muita ação que tem bem mais uma função escapista do que em promover camadas de discussões sobre a realidade. Como um gibi de ação pura e simples, ele funciona e diverte. 

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Os heróis da trama: Jonathan, Lara e Batwoman

Ficha técnica:

Publicado em: setembro de 2020

Editora: Panini
Número de páginas: 48
Formato: Americano (17 x 26 cm)
Colorido/Lombada quadrada/ capa cartonada

Preço de capa: R$ 14,90
Tradução: Jotapê Martins


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