Marcha para a Morte! - o mangá que escancara o horror e a estupidez da guerra

 


Shigeru Mizuki é um mangaká (autor de mangás) que já esteve numa guerra e foi lá onde ele perdeu um braço. Isso o impossibilitou de permanecer no campo de batalha e garantiu a sua sobrevivência já que o seu pelotão recebeu a ordem de "morte honrada", algo como lutar de forma suicida. Quando ele retornou do conflito, ele resolveu detalhar os horrores que ele viu numa história em quadrinhos entitulada Marcha para a Morte, publicada no Japão pela editora Kodansha e que a Editora Devir traz a segunda edição em 2020 pelo selo Tsuru. 

Um pelotão encontra-se no meio do mato preparando-se para um conflito contra o exército inimigo. Enquanto isso não acontece, cada soldado procura distrair-se como pode, divertindo-se entre si ou quando encontram um raro tempo em que uma prostituta esteja disponível. Enquanto isso, as missões os lembram o porquê de cada um estar ali, o acampamento requer proteção e comida e são eles que devem encontrar o que está disponível na região. Além disso, as humilhações dos oficiais de alta patente têm a intenção de endurecer os seus sentimentos e mostrar a eles que têm que ser subservientes a hierarquia do exército.

- Meu almoço de hoje foi um tapa!

Esse é um lamento de um soldado que não entende o porquê ele, sem motivo algum, é simplesmente estapeado. Uma realidade em que a liderança é imposta pela força em vez de ser inspiradora e que motive os seus subordinados a lhes seguir, em vez disso a força física guia as ações dos soldados. Nesse início, o mangá tem uma conotação de humor, aquele típico humor ingênuo japonês que eu não consigo ver graça alguma. 


A segunda parte da história foca-se no embate com o inimigo. Aqui a narrativa assume um ar de seriedade e o traço mais cartunesco traz cenas de pessoas morrendo e corpos destroçados. O ritmo dos acontecimentos fica mais acelerado e é quando o enredo aproxima-se de uma típica história de guerra.

A parte final ocorre uma reviravolta tanto no enredo quanto na narrativa. Os acontecimentos finais fazem com que os personagens reflitam, o que acaba atingindo o leitor diretamente para entender sobre as motivações de pessoas estarem ali obedecendo aquelas ordens e o quanto a guerra não faz sentido algum.

O traço de Shigeru Mizuki é um traço cartunesco mas engana-se quem acha que por isso esse é um gibi de humor. Na verdade, as contradições são uma marca nesse gibi. Enquanto espera-se que um gibi de guerra haja apenas conflito e morte, Marcha para a Morte traz uma reflexão existencial. Se em alguns momentos o traço é simples, a ambientação é muito detalhada, seja detalhando o paraiso natural onde tudo acontece, seja mostrando os veículos de guerra; ainda sobre a ambientação é impossível não perceber que a tensão pela sobrevivência é contrastada pela calma dos animais ali presente ou pelo silêncio da natureza e o barulho das ondas. Uma forma de mostrar o quanto o homem desperdiça a sua racionalidade ao ser incapaz de encontrar soluções para a convivência entre si. 

Marcha para a Guerra é um ótimo mangá escrito e desenhado por Shigeru Mizuki que relata numa obra de ficção muito daquilo que ele viveu num campo de batalha. O diferencial desse quadrinho é a forma como ele nos leva a refletir sobre a importância da vida e o horror que é estar numa guerra. Apesar de ter um início sem graça, a história vai melhorando até concluir com uma reflexão sobre a importância da vida. Essa é uma adulta que vai além de uma mera história de guerra com as cenas de batalhas e estratégias, essa é uma história que possibilita uma reflexão sobre a vida e a sua importância. 

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Ficha técnica:

Publicado em: dezembro de 2018

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