Bernardo Fernández é um quadrinhista mexicano e resolveu escrever um gibi sobre a experiência de descobrir e viver com sua filha autista chamada Maria. A Editora Skript publicou em 2020 esse gibi que toca num tema sensível e que ainda é pouco conhecido pela maior parte da sociedade.
Quando um casal espera o nascimento de um filho, ele traça milhares de expectativas sobre a criança, sobre a a sua parência, os seus gostos, sobre como será a sua personalidade. A criança acaba existindo mesmo antes de nascer através da imaginação daquele casal. É por isso que quando os pais recebem um diagnóstico médico contrário ao amadurecimento saudável (ou pelo menos parecido com aquilo que os pais chamam de saudável), eles vivenciam um luto dessa criança imaginária. Assim eles acabam vivenciando as fases de negação, revolta, tristeza, penitência que o luto causa, com esforço e informação, espera-se que eles cheguem a fase de aceitação e assim passe a buscar o melhor possível para suprir as necessidades daquela criança.
O autismo, de uma maneira bem simplificada, caracteriza-se por indivíduos que não tem a necessidade de interagir com os demais, eles geralmete fazem atividades isoladas com ausência de comunicação ou a pratica de forma bem restrita, eles geralmente possuem movimentos estereotipados, são fascinados por seguir uma determinada rotina e reagem de forma extrema a estímulos comuns como o toque, luzes e determinados barulhos. Esse não é um diagnóstico simples, até porque o Transtorno do Espectro do Autismo não é detectado por exames. Os exames são feitos para afastar hipóteses como outro transtorno neurológico ou surdez. Quem trabalha com saúde mental se depara com situações diversas: criança que não possui diagnóstico mas possui pais ansiosos que são aflitos em detectar "comportamentos anormal nos filhos"; crianças que possuem retardo mental ou esquizofrenia infantil mas que são tratadas como autistas e, até mesmo, aquelas que são nitidamente autistas mas os pais recusam-se a admitir.
Bef ou Bernardo Fernández revela como foi a sua experiência, o gibi é narrado pelo ponto de vista do artista e a gente vai sentindo com ele as sensações de estar ali naquela situação e vivenciamos a incapacidade de poder modificar aquele ser, até quando ele se dá conta que a sua filha não precise de "modificação" alguma mas os pais e todos os ditos "normais" precisam assumir a postura de respeito frente àquela criança e fazer as adaptações necessárias para que ela possa se desenvolver dentro do seu próprio ritmo.
O quadrinho assim, possibilita que a gente vivencie várias emoções. Como Bef tem uma veia humorística muito forte e, ao mesmo tempo, ele é sincero o suficiente para explicitar as suas frustrações, a gente consegue vivenciar um misto de emoções entre tristeza, sorriso, decepção e empatia. Poucas são as obras que eu vi tanta sensibilidade para tratar desse assunto e que conseguiu dar explicações simples a situações complicadas de entender.
O traço de Bef é arredondado e cartunesco mas não se engane, esse não é um gibi escrito para crianças. O autor consegue comover com poucos traços. A sua arte gera uma identificação tão forte que era possível sentir junto com os personagens à medida que se sucedia os acontecimentos. É incrível o quanto ele faz com poucos elementos, há uma cena em que está ele, sua esposa e Maria e ele expressa os diferentes sentimentos dos três personagens apenas pela representação das sobrancelhas. Além disso, ele nos diverte com as suas metáforas que ele representa literalmente nos desenhos e inevitavelmente nos arranca risos.
Fala, Maria é seguramente uma das melhores leituras do ano pelas sensações que Bef me causou, é muito difícil um gibi me fazer sorrir enquanto choro mas foi isso o que aconteceu. De uma maneira muito simples mas sensível Bef consegue transmitir várias mensagens de uma situação complexa e ainda pouco difundida: como é ser um pai de uma criança autista.
Se você precisa de informações mais detalhadas sobre como lidar com pessoas com autismo, conheça a Associação de Amigos dos Autistas.
Ficha técnica:
Publicado em: setembro de 2020
Formato: (16 x 23 cm)
Colorido/Lombada quadrada com orelhas
Preço de capa: R$ 79,00
Leia também da Editora Skript:
Comentários
Postar um comentário