Quando a série de Júlia Kendall chegou ao número 200 na Itália, a Sérgio Bonelli Editore percebeu que era o momento da revista ter o seu especial em cores. A história "O Caso do Criminólogo Assassino" foi lançada por lá em 2015 e em 2020 finalmente chega ao Brasil pela Mythos Editora pelo selo Prime Edition, uma edição de luxo em capa dura e 140 páginas.
A história traz Júlia ainda estudante de criminologia quando ela já se destacava como aluna, por isso, o seu professor a convidou para um Congresso de criminólogos em Cope Code. Lá um dos participantes é assassinado e, estando num mesmo local pessoas especialistas em crimes de assassinatos, é de se esperar que o assassino saiba disfarçar muito as pistas já que tudo indicava que era um deles. Além disso, nesse Congresso todos se conheciam e isso faziam deles suspeitos de ter envolvimento com a vítima, com exceção de Júlia Kendall que ainda não era do grupo e, por isso, a policia a designa para investigar o caso.
Logo na chegada dos personagens a esse local afastado da cidade, ocorre uma situação que me incomodou enquanto leitor: todas as pessoas insinuavam que Júlia e o professor Cross estavam tendo um caso com uma naturalidade de quem vê um casal qualquer. Ainda que ambos os personagens sejam adultos, ali é uma relação professor e aluna que necessariamente traz em si uma relação de poder que pode complicar muito uma relação afetiva com risco de sofrimento à pessoa mais vulnerável que pode variar de rejeição à abuso sexual, o mais estranho é o fato de ali todas serem pessoas com conhecimento de psicologia. Os roteiristas Giancarlo Berardi e Maurizio Mamtero ignoram completamete essa situação, pelo contrário, ele a aproveita para mostrar cenas de sonhos da aprendiz em criminologia, remetendo ao seu Complexo de Édipo, segundo à psicanálise, essa é uma situação que faz parte do desenvolvimento infantil e, nesse momento, a criança têm o desejo intenso pelo progenitor do sexo oposto, a forma como a criança resolve essa situação a permite aproximar-se de outras pessoas a sua volta e, assim acaba adquirindo uma independência maior dos pais. Para um roteirista que pesquisou muito sobre essa ciência, a retratação da situação ficou muito coerente principalmente ao se tratar de sonho que é onde o inconsciente se manifesta.
Se você busca uma história com muita aventura, devo advertir que essa não é para você. A trama se baseia na investigação de como os indícios são identificados para chegar ao suspeito. Assim, ainda que Júlia, ainda seja uma estudante, a sua capacidade extraordinária de dedução já estava ali presente e isso fisga o leitor e o faz apreciar a personagem.
Nas primeiras páginas desse gibi, o colorido me incomodou, a arte dos quadrinhos regulares da personagem tem uma ótima relação com o claro e escuro que se perde numa edição colorida. Contudo os desenhos de Antonio Marinetti são ótimos e eu destaco a ambientação, o artista passa a sensação de lugar paradisíaco com o fundo de cena de lindas paisagens a cada página. Além disso, a caracterização dos personagens e a sua expressividade também não deixam a desejar.
Para àqueles que nunca leram uma história de Júlia Kendall e estão com receio, fiquem tranquilos. Ainda que seja uma história de início de carreira da personagem, os elementos que atraem os seus leitores estão presentes aqui. Não é preciso ter lido nada anteriomente para poder compreender essa história que, como uma graphic novel, tem começo, meio e fim. A edição traz extras que explicam sobre a protagonista e os demais personagens da série regular além de um texto assinado pelo seu criador.
Júlia Graphic Novel - O Caso do Criminólogo Assassino é uma ótima história de investigação que ocorre durante os primeiros anos de Júlia Kendall como criminóloga. Aqui os elementos que prendem o leitor mais veterano também estão presentes nessa aventura que tem como foco a investigação. Essa é uma leitura que eu indico pra quem conhece ou quem quer conhecer a personagem.
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