Tungstênio - o clássico nacional de Marcello Quintanilha


Tungstênio é uma daquelas histórias que você deve entrar sem saber do que se trata, para não atrapalhar a sua experiência. A Editora Veneta publicou esse gibi em 2014 e de lá para cá só foi sucesso! Além de adaptação para filme, o quadrinho ganhou o prêmio Hq Mix no Brasil e mais o prêmio francês Angoulême e o alemão Rudolph Dirks. 

Pela capa, vê-se parte dos três núcleos de personagens que, no decorrer da história, vão se encontrar. Nós leitores somos jogados em meio de uma trama que já está acontecendo e não sabemos nada a respeito de quem está ali ou sobre onde aquilo ocorre. Aos poucos a gente identifica elementos que nos remete a capital baiana e cada um dos personagens parece guardar um segredo. Isso é o máximo de enredo que você pode saber.

O grande destaque para mim nessa história foi a forma como a linguagem é utilizada. Os balões nos remete a um sotaque baiano que vai muito além das gírias. A entonação (conseguida pelo uso da vírgula), a construção da frase e também algumas gírias permitiram que fosse possível que eu escutasse a voz dos personagens à medida que eu ia lendo. Nós somos acustumados a engolir o sotaque paulista e o carioca em todas as produções que a gente consome e, aceitamos muito facilmente que qualquer um dos sotaques do nordeste é feio. O autor carioca Marcello Quintanilha quebra essa regra e assume o sotaque como se fosse parte do cenário. Isso torna a obra diferenciada no uso da linguagem e privilegia o brasileiro que vai ter esse aspecto como exclusividade, aos gringos restam desfrutar das demais qualidades.

Eu recomendo que você leia esse gibi quando tiver com tempo disponível para lê-lo sem interrupções, porque você não vai ter a divisão em capítulos para poder pausar. Quintanilha nos passa a sensação de quem nos pega pelo braço e sai correndo pra mostrar algo que tá acontecendo. A gente sem entender nada, só confia e vai! A correria parece não acabar e, quando a gente pensa que está entendendo um personagem, aparece um outro mistério para nos estimular a permanecer ali. 

Nesse ritmo frenético é possível que a gente não se atente as imagens. Quintanilha além de fazer um desenho realista cheio de detalhes, sabe como inserir movimento que ajuda a nos colocar no ritmo que a história impõe. Aqui e acolá, dê uma respirada e pare para curtir as lindas paisagens que o artista constrói ao redor. Sei que é difícil porque eu mesmo não consegui apreciar bem tudo pela curiosidade em saber como tudo aquilo iria terminar. 

Tungstênio é uma graphic novel brasileira que contém as características necessárias para caracterizá-la como tal. A obra tem sotaque, personagens realistas, uma trama que nos faz crer que poderia ocorrer a qualquer momento além de um jeito de contar a história que nos prende em um só fôlego. Esse é um gibi excelente e que a sincronia entre desenho e texto só contribuem para mostrar o quanto os elementos de uma história em quadrinhos são complementares para essa mídia e possibilita excelentes histórias. 

Ficha técnica:
Publicado - maio de 2014
Editora - Veneta
Número de páginas - 188
Formato (17 x 24,5 cm)/ Preto e branco
                  Capa dura
Preço de capa - R$ 54,90

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