O Eternauta 1969 - o clássico argentino redesenhado por Breccia


O Eternauta é um clássico argentino publicado em 1957. Em 1969, Alberto Breccia redesenha a obra e acrescenta algumas mudanças na narrativa. Em 2019, a recém editora Comix Zone resolve trazer ao Brasil essa edição de Breccia numa publicação em tamanho grande e com capa dura.

Um dia, um quadrinhista recebe a visita de um estranho. Esse se auto-denomina como Eternauta e conta a ele a sua história. Há alguns anos, quatro amigos estavam em casa, jogando baralho quando de repente as luzes se apagam. Eles olham para a janela em busca do que pode ter ocorrido quando eles vêem flocos de algo luminoso que caem e nas ruas várias pessoas mortas.

Pelo rádio, eles descobrem que alienígenas invadiram a Terra. Os quatro amigos não poderiam ficar ali todo o tempo, era preciso sair para saber o que estava ocorrendo lá fora. A narrativa segue na tensão de uma história de suspense num clima que me lembrou os filmes de M. Night Shyamalan. Ao final, a história assume o ritmo de ficção científica com surpresas e ação.


Originalmente a história foi publicada em capítulos de três páginas de uma revista semanal, isso faz com que o ritmo seja quebrado todo o tempo. Para mim, esse não é o maior problema da história. Eu achei a narrativa desinteressante em alguns momentos. Eu esperava que os personagens fossem mais detalhados mas o foco da história era nos acontecimentos sobre o que estava ocorrendo e o que poderia ser feito, todo o enredo de uma metáfora de união de pessoas contra um poder despótico ficou bem aquém do que eu esperava.

Se o roteiro de Héctor Germán Oesterheld não me prendeu, os desenhos de Alberto Breccia já me encantaram mais. Breccia além de ter um traço realista, sabe utilizar o efeito das sombras para deixar o clima bem mais misterioso num contexto em que não se sabia o que estava acontecendo, o artista utiliza de efeitos no seu traço para transmitor a indefinição visual dos personagens ao olhar para uma paisagem escura. Entretanto há momentos em que o traço é tão estranho que eu não entendi ali o que ele quis passar. Em outros, essa indefinição chegou a atrapalhar a compreensão da narrativa.

A edição brasileira possui dois textos: um prefácio que comenta sobre a situação histórica vivida no país quando ela foi publicada e ao final uma resenha sobre a obra que acentua as impressões negativas que eu publiquei nesse texto e aponta outros defeitos que eu não citei mas que me fez concordar com os autores do texto. Eu acho que em vez de uma crítica, a edição deveria ter trazido curiosidades sobre a diferenciação da obra original e algo sobre os bastidores da criação dessa obra.

O Eternauta 1969 é um clássico mas que não me tocou. Uma narrativa cansativa com um final apressado que não trouxe prazer na leitura. A obra entretanto se destaca pelos desenhos de Breccia que é uma referência visual para os amantes dos quadrinhos. É possível que a obra tenha envelhecido mal e seja melhor compreendida como uma referência de época de um autor que foi assassinado pela ditadura argentina.

Comentários