Garimpando Financiamento Coletivo - Narrativas Periféricas


A PerifaCon é uma feira de quadrinhos que ocorre na periferia de São Paulo. Artistas, editoras, mídia e pessoas de diversos lugares estiveram no evento que mostrou o potencial de mercado que o evento tem. A editora Janaina de Luna, proprietária da Editora Mino, percebeu que no evento poderia haver mais artistas da comunidade e, se encontrar esses artistas era difícil, ela resolveu criar um projeto de formação e publicação de autores de quadrinhos de periferia. O resultado disso são seis quadrinhos de seis jovens artistas que está com campanha no Catarse para viabilizar a impressão dos gibis.

Para quem consome quadrinho antigo, dos anos 80 para trás, sabe que quase todos os personagens são pessoas heterossexuais brancas, as mulheres geralmente estavam em segundo plano ou eram retratadas como vítimas (acreditem tem cena da Mulher-Maravilha servindo café na Liga da Justiça!). Com o passar das décadas percebeu-se que comunicar-se com outras pessoas fora desse padrão estimulava o alcance da venda para outros públicos fora da elite. Os quadrinhos foram disseminados com ainda mais intensidade e percebeu que havia um lucro potencial em acrescentar etnias e vivências sexuais diversas nesse meio.

Essa não é uma situação exclusiva dos quadrinhos, as mídias em geral passaram a incluir uma maior diversidade. Isso possibilitou diversas discussões a respeito da representatividade. Não era mais admissível que a imagem de um negro se restringisse a uma função de coadjuvante ou a estereótipos relacionados a sensualidade ou habilidade esportiva.

Nos quadrinhos, a contra-gosto dos conservadores, personagens negros, mulheres e religiosidade diversas já podem ser identificados com mais facilidade. Porém mais ainda pode ser feito. Quem são os artistas e editores desses quadrinhos? Há uma diversidade em quem produz? Eu olho para os artistas presentes na Comic Con Experience e basicamente são pessoas brancas. 

Fazer parte do meio de quadrinhos não se resume a ter talento. É preciso ter material para criação (papel, caneta específica, tinta, prancheta ...), fazer cursos para desenvolver habilidades e tempo. Para quem mora em periferia, o tempo disponível tem que ser utilizado para a sobrevivência já que geralmente as pessoas ganham muito pouco e o dilema: sonho x sobrevivência tem uma resposta lógica. Por mais democrático que venha a ser o acesso de pessoas a cursos de criação de quadrinhos, a vida real criará os seus empecilhos.

É por isso que um projeto como o Narrativas Periféricas é tão importante. Possibilitar que 6 artistas da periferia estejam com mesas e com um material que foi fruto direta ou indiretamente da sua vivência é algo crucial para possibilitar que outras visões atinjam mais pessoas. Além disso, 2020 é o ano em que o sentimento de criminalização da arte ganha cada vez mais intensidade. Nesse pensamento, a arte tem que representar apenas o interesse de um grupo, todas os outros pontos de vista são perigosos e subversivos. É nesse contexto que eu percebo que iniciativas que quebre esse paradigma se faz urgente.

Eu convido você leitor a fazer parte desse momento histórico apoiando esse projeto. Você pode apoias comprando os 6 livros digitais por R$ 28 ou escolher um livro físico por R$ 28; 3 livros físicos por R$ 70; ou os 6 livros por R$ 120 ou comprar os 6 livros mais um desenho original de um desenhista bem famoso por R$ 590. 

No momento que eu escrevo esse texto, o projeto está há 24 horas no ar e já atingiu mais de 80% da meta inicial. Independente do tamanho do sucesso da arrecadação é importante que o amante dos quadrinhos, que admira essa iniciativa, apóie. Eu pessoalmente deixo a minha sugestão a Janaina de Luna que, se o projeto arrecadar 200% ou mais, que ela faça outras Narrativas Periféricas ainda esse ano. 

Segue abaixo o link para o apoio do projeto no Catarse e um episódio do podcast Cofins do Universo em que a editora discute, além da situação do mercado atual, como se deu a ideia e a produção desse projeto. Ah, a campanha vai até o dia 7 de abril de 2020, se você por acaso está lendo após essa data, infelizmente vai ter que esperar por uma outra iniciativa como essa.



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