Na Quebrada - Quadrinhos de Hip hop


Na Quebrada é uma coletânea de histórias em quadrinhos que trata de música, ficção e violência dentro de um contexto de periferia. O gibi foi lançado em 2019 pela Editora Draco e traz diversos estilos tanto de narrativa quanto de traço. Nesse texto vou destacar as três histórias que eu mais gostei e falar da obra de forma geral.

Na Quebrada possui 8 histórias em quadrinho que trata da cultura hip hop. Muitas vezes as pessoas tendem a associar o hip hop como um ritmo musical. Porém hip hop é considerado um movimento cultural que tem o seu modo de vestir, a sua expressão visual com os grafites e a sua música que é o rap. Além disso, essa é uma cultura que se originou dos Estados Unidos nos seus bairros de periferia onde predominam pessoas negras. O hip hop expressa a realidade desse ambiente, por isso a temática de protesto é tão recorrente. Os anos 90 fez florescer esse movimento por lá mas não tardou o aparecimento dele no Brasil.


Das histórias presentes nesse livro, Que Nem Morcego chama a atenção pelo personagem. Ramiro é um garoto que tem muita sensibilidade em seus ouvidos e em alguns momentos ele aparece representado com uma cara de morcego, sofrendo com a diversidade dos barulhos do cotidiano. Quando o estudante se depara com uma batalha de rappers, os sons do mundo ao seu redor torna-se mais nítido por ele encontrar ali um propósito na sua vida. A história é escrita por MC De Leve e Cirilo Lemos e os desenhos de Giovanni Pedroni são bem expressivos e ele utiliza recursos gráficos pra expressar bem as sensações do personagem.

Darréu - A Lei do Mundo mostra que uma disputa banal entre adolescentes pode colocar os personagens numa enrascada história de terror. O roteirista Alessio Esteves demonstra uma habilidade em criar uma narrativa de suspense que lembra muitas das histórias de terror. O que me prendeu não foi nem tanto o roteiro mas o traço realista de Felipe Sanz e a sua habilidade de usar o preto e branco numa história em que o uso das sombras ajuda a realçar o clima necessário para a história.


O Rei do Groove encerra o livro e traz a história de um dj frustrado, o Tammy Boy, depois de muito apanhar na vida, algo ocorre que o possibilita a realizar os seus sonhos. O mais curioso é que a história traz  várias surpresas escondidas distribuídas pelas páginas. Guabiras escreve e desenha utilizando um estilo cartunesco que lembra muito os grafites. Ao final da história, como extra, o autor explica 100 das referências que ele utilizou. São 20 páginas cheias de referências em que é possível ver referências de músicas e artistas e é possível conhecer um pouco sobre a história do movimento hip hop.

Na Quebrada Quadrinhos de Hip Hop traz uma variedade de estilos e temáticas. A qualidade também é bem diferenciada, até mesmo porque a intenção é explorar estilos diferentes sobre periferia e/ou hip hop. Para mim, foi uma leitura diverdida, até quando a história é mais ingênua ou traz um traço menos elaborado vale a pena enxergar aquela ambientação tão mais próxima a minha realidade. Num país em que a morte de 9 jovens que estavam num evento de música gera uma repercussão aquém do que uma tragédia como essa mereceria. O fato é que mortes na França estimula internautas a compartilhar sua dor em solidariedade e a morte de pessoas na periferia leva a justificativas estúpidas ou o silêncio de um povo que demonstra o quão desimportante são vidas humanas de quem vive na quebrada.

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