Primeiras Impressões Capitão América - a nova revista mensal


O Capitão América tem a sua revista reiniciada aqui no Brasil. Nos EUA, esse lançamento corresponde ao início da fase Fresh Start (como a Editora Panini não deu um nome, eu insisto no apelido Começo Fresco dada pelo canal 2Quadrinhos), esse foi um momento em que ocorreu uma mudança do editor-chefe da Marvel que passou a ser o C. B. Cebulski e, com isso, os heróis clássicos retomaram o seu destaque. A revista é escrita por Ta-Nehisi Coates e desenhada por Leinil Francis Yu. Então vou falar sobre o que me levou a escolher o título, comentar sobre o autor e citar o que precisa saber para que um novo leitor se situe na história.

O Sentinela da Liberdade certamente não está entre os meus personagens favoritos, contudo ultimamente eu venho optado por escolher os meus quadrinhos pelo autor e pela proposta de enredo. Ta-Nehisi Coates é um jornalista que recentemente escreveu um best-seller Entre o Mundo e Eu, por causa desse livro, ele foi convidado pela Marvel para escrever as histórias do Pantera Negra, a ideia deu tão certo que ele está com o personagem de 2016 até hoje. Contudo Coates não quer ser conhecido apenas como um negro que escreve quadrinhos de heróis negros, como escritor ele quer outros desafios. Assim ele assumiu o personagem Capitão América nessa revista que chegou nas bancas em maio de 2019.

Em Pantera Negra, o autor aprofunda-se na cultura e política de Wakanda e mostra a problemática de alguém ser herói e rei ao mesmo tempo, tanto pelo tempo que isso consome quanto pela insatisfação de parte dos seus súditos pela sua inevitável ausência. Nessa revista, o argumentista aproveita bem o tamanho dos balões e insere uma dose de ação e traição no meio das histórias. Quando a pessoa escreve bem, a quantidade de texto é um atrativo para mim. Por isso o nome de Coates foi significativo para a minha escolha em acompanhar o gibi.

Se você nunca leu Capitão América ou faz muito tempo que deixou os quadrinhos e quer começar a ler a partir de agora, o que você precisa saber é que durante a recente saga Império Secreto, o herói foi apresentado às pessoas como sendo um agente da Hidra. Os quadrinhos tem enredos cíclicos por isso toda grande mudança tem seu fim e tudo volta a ser o que era. Agora Steve Rogers é o Capitão América mas a população ainda está temerosa com a sua presença, por isso ele precisa provar que está do lado dos mocinhos e que uma outra pessoa usou o seu rosto para confundir a todos.

Ta-Nehisi Coates vai bem além a esse enredo repetido e insere uma insatisfação do herói na trama. "Quando eu estava na Segunda Guerra, eu tinha certeza que eu estava defendendo o lado correto." O mundo atual faz com que pessoas briguem na rua sobre defender ou execrar a Hidra. Essa é uma organização terrorista de inspiração nazista, como assim defender? A intolerância tomou voz e em todos os lugares, o discurso de ódio reivindica uma liberdade de expressão. Ideias de supremacia de uma raça que historicamente teve privilégios, um revisionismo histórico e científico que leva pessoas a duvidar daquilo que sempre acreditou.

Os vilões da história são soldados com rostos pintados com a bandeira dos EUA, armados e atirando a esmo. É isso que o patriotismo representa hoje? O Capitão América foi criado para fortalecer as tropas durante a guerra, mas os seus ideais vai muito além de um governo A ou B. A luta é pela liberdade, é ajudar quem tem menos condições de defesa e por uma sociedade que ofereça igualdade de oportunidades. Contudo o país e o mundo mudaram e a intolerância parece estar ditando as ações de muita gente.

Isso fez com que eu me identificasse com o personagem e tivesse as minhas indagações existenciais, principalmente devido ao nosso país estar sendo governado também pela extrema direita e em alguns momentos isso me inibe de expressar os absurdos das ideias defendida por ela. O presidente do meu país gera um sentimento de ogeriza em cada lugar que vai. Isso é um motivo de vergonha principalmente por saber que as pessoas dos demais países desprezam as pautas que ele prega. Se o Capitão América vê o patriotismo ir para a lata de lixo devido a maneira que criminosos se apropria dele, aqui vemos um patriotismo rentista que pretende entregar riquezas naturais e bate continência para qualquer governo considerado economicamente superior. Como ser um herói num momento como esse?

Esse é a proposta da revista do Capitão América e que traz um enredo que se comunica com o cotidiano e que não tem a necessidade de conhecer toda a história do personagem para poder compreender melhor o gibi.

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