Morte da Thor e Senhor Milagre: as dificuldades em vender quadrinhos


Entrevista com Levi Trindade na Comic Boom

A palestra que eu linkei acima é de mais de duas horas, mas eu trago esse texto pra destacar um momento que me incomodou. Levi Trindade, editor da Editora Panini, finalmente explicou o que ocorreu com o preço da Morte da Thor e porque Senhor Milagre teve venda exclusiva no site da editora. Isso trouxe questões que eu gostaria de opinar.

Quando as revistas foram apresentadas aos representantes que vendem as revistas, elas tiveram a impressão de que ambas não iriam vender. "A mensal da Thor está vendendo mal, então ninguém vai se interessar pela morte dela." "Quem é esse tal de Senhor dos Milagres?" "O meu público não gosta desse negócio aí não!" Segundo Levi, por conta disso, a tiragem da Morte de Thor foi muito baixa, por isso o preço foi quase o dobro. Com relação a Senhor Milagre (esse sim o nome correto) a editora estava com material impresso, quando veio a notícia de que ninguém queria encomendar o material. Pasmem, a revista escrita por Tom King que está vendendo muito Batman e trouxe a melhor história do Visão já escrita! Assim a editora decidiu vender no site. Após um monte de leitor reclamar na internet, pessoal passou a se interessar em vender o produto. Com esses exemplos, Levi explicou a dificuldade em trabalhar com pessoas que não leem quadrinho, o produto que eles comercializam!

Esse desconhecimento sobre o produto que se coloca no mercado, vai impactar os leitores, os maiores interessados no produto. É bem verdade que com a quantidade de quadrinhos disponíveis, é impossível alguém ler tudo. Porém quem se dispõe a comercializar tem que ter um mínimo de conhecimento do que é aquilo, além de uma planilha cheia de números. Assim, a decisão do que será ou não lançado, além das editoras e dos leitores vai continuar passando pelos vendedores que não conhecem o produto.

Aqui no blog eu sou bem enfático na ideia de que leitores de quadrinhos devem ser contratados para trabalhar com tudo que esteja relacionado a nona arte. Quando você compra um carro ou um computador, que tipo de vendedor você prefere? Aquele que demonstra paixão e mais conhecimentos sobre os produtos. Por isso, ter na empresa leitores ou treinar leitores de quadrinhos para trabalhar em empresas que de alguma forma envolve quadrinhos, é essencial!

Enquanto isso não ocorre, cabe a nós leitores contribuir de alguma forma. Porque somos bonzinhos e pensamos em ajudar o dona da banca ou da livraria? Não necessariamente. O fato é que se não explocarmos para os comerciantes, corre o risco de ficarmos sem a edição que a gente quer. É capaz de em maio e a banca que você frequenta só ter pedido 5 edições do casamento do Batman e ao chegar lá para compra, você não encontrar nenhuma edição.

O leitor de quadrinho tem uma missão de informar que um livro do Milo Manara não deve ser colocado ao lado da revista do Cebolinha! Para o vendedor aquilo ali é tudo coisa de criança e infelizmente geralmente é o leitor que sabe que existe quadrinho adulto e infantil e sabe identifica-los.

Eu entendo o lado do vendedor, fosse eu que vendesse quadrinhos, não saberia informar nada sobre mangás. Eu não quero tranferir a responsabilidade dessa informação ao leitor, mas podemos ser uma ferramenta de trocas para interesses em comum. "Cara, mês que vem vai chegar o Relógio do Fim do Mundo, vai todo mundo comprar, vê se traz mais edições!"

O marketing de venda de quadrinhos ainda é muito menor do que deveria, nisso eu também responabilizaria as próprias editoras, que ainda usam muito mal os inúmeros canais de divulgação existentes. Como o texto tomou como base a Panini eu vou citar um exemplo de lá. A fase Marvel Legado começou e terminou sem que boa parte do público potencial interessado soubesse do que se tratava. Aqui no blog, o texto explicativo é o mais acessado esse ano. Para você ter uma idéia, a próxima fase da Marvel (que inicia entre março ou abril) chamada de Fresh Start, eu ainda não sei a denominação que a Panini vai usar no Brasil!

A ferramenta da internet tem um grande poder de comunicação porém as empresas estão longe de aproveitar todo o seu potencial. Se você quer saber algo relacionado aos quadrinhos, você ainda terá que se dirigir aos leitores e não aos vendedores (que pouco lêem) e nem as editoras (que mal respondem).

Apesar de toda a problemática apresentada, nunca houve um momento melhor para o leitor de quadrinhos no Brasil, tamanha a variedade disponível. O que é preciso é abrir os olhos que ainda que o mercado de quadrinhos ainda mantém-se forte (mesmo com a atual crise editorial) é preciso perceber o quanto o leitor pode ajudar a ampliá-lo, seja como consumidor, seja trabalhando em empresas que lidam com produção e venda de quadrinhos.

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